Distantes no espectro político, os candidatos João Amoêdo (Novo) e Guilherme Boulos (PSOL) encontraram um ponto de convergência em evento realizado na noite desta terça-feira, 7, em São Paulo. Para uma palestra de entusiastas de tecnologia, ambos concordaram na criação da identidade digital única.

Amoêdo foi o primeiro presidenciável a falar no evento GovTech. A entrevista foi conduzida pelo empresário e apresentador Luciano Huck, que chegou a ser cogitado como candidato outsider na campanha eleitoral. O presidenciável do Novo afirmou que um governo digital “tiraria o poder da burocracia, de quem está no poder, e devolveria o poder ao cidadão”.

Do ponto de vista prático, o candidato disse que pretende implementar o documento único digital (que substituiria CPF, RG, Título de Eleitor) e usar a tecnologia para melhorar a gestão da saúde.

“Com tecnologia, vamos implementar o prontuário eletrônico, marcação de exames, receitas e tele medicina”, disse. Amoêdo também prometeu mais uma vez que, se for eleito, vai acabar com os cartórios e facilitar a abertura de empresas.

Perguntado por Huck sobre os empregos que podem ser afetados com o avanço da tecnologia, como o dos cobradores de ônibus (que podem ser substituídos por máquinas), Amoêdo disse ser favorável ao uso da tecnologia e a substituição de postos de trabalho. “O cidadão pagaria menos pelo serviço e o dinheiro economizado poderia fomentar o consumo e a abertura de novos postos de trabalho”, afirmou.

No palco, Amoêdo deu lugar a Boulos, que disse que a meta do eventual governo dele é a universalização do acesso à internet. “Internet não pode ser privilégio”, disse.

O candidato do PSOL falou do que chamou de “mistificação em torno da iniciativa privada” quando se trata do investimento em tecnologia. “O iPhone, por exemplo, foi criado com dinheiro público, veio de investimento público, não da Apple”.

Para Boulos, se o cidadão pudesse votar pelo celular, como faz no The Voice (reality show de cantores), “metade do Congresso estava fora”.

Huck perguntou à Boulos se o tema da inovação tecnológica pode ser pensado em termos de “direita e esquerda”. O candidato do PSOL afirmou que defende a tecnologia como uso social e com código aberto. “Nós não encaramos a tecnologia com a lógica da propriedade. Temos que colocar isso à serviço do combate das desigualdades”, disse.

Para Boulos, a tecnologia não é em si “um bem necessário”. “Não é um valor supremo, produziu a bomba atômica, e nem sempre foi utilizada para implementar os valores éticos.

Boulos disse imaginar que através do Smartphone a população deveria poder se relacionar com o poder público. “Uma democracia 5.0 com participação digital, através de plebiscitos, referendos”, afirmou.