A possibilidade de aplicação de uma terceira dose de vacina contra a covid-19 já mobiliza cientistas de todo o mundo e, no Brasil, vira polêmica política. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticou nesta sexta-feira (16), em discurso feito em Campo Grande (MS), a possibilidade de “um grande município” oferecer a dose extra.

Queiroga refere-se ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), que disse nesta quinta (15), em entrevista à GloboNews, que pretende oferecer a uma dose de reforço de vacina a idosos ainda neste ano.

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Queiroga defende que os municípios sigam o que foi definido pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). “Nâo podemos ter municípios criando regras próprias. Como anunciar terceira dose se a gente não avançou ainda na primeira dose em 100% da população? Temos que ter os dados oriundos da ciência para tomar decisão”, afirmou o ministro.

O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse na última terça-feira (13) que acredita que algumas das vacinas disponíveis no Brasil devem demandar uma terceira dose. “Acredito que algumas vacinas terão a necessidade de uma terceira dose. No dia de hoje ainda é difícil dizer qual. Isso é estudado no mundo inteiro”, disse em palestra virtual da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

Na Bahia, o Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), ligado à Universidade Federal da Bahia (UFBA), vai conduzir um estudo para testar a eficácia de uma terceira dose da AstraZeneca. A pesquisa, autorizada pela Anvisa, vai analisar uma versão modificada da vacina que foi desenvolvida para proteger contra a variante beta. As informações foram confirmadas nesta sexta-feira (16) pelo Ministério da educação.

Estados Unidos
Com o avanço da variante delta, os Estados Unidos voltaram a ter uma escalada de casos de covid-19. Ao mesmo tempo em que a vacinação perde fôlego, o país registrou aumento de 121% de novos casos e 9% de mortes. O estado do Missouri, onde apenas 40% da população vacinou-se com as duas doses, não possui mais leitos de hospital. Em Los Angeles, o governo anunciou que vai voltar a exigir o uso de máscaras em espaços fechados após a cidade, com 51% da população imunizada, registrar 1.500 novos casos diários. No total, os Estados Unidos vacinaram totalmente (com as duas doses) 48,3% da população.

Na semana passada, a Pfizer anunciou que pediria às autoridades sanitárias pelo mundo uma autorização para aplicar uma terceira dose de sua vacina, que seria um esforço para evitar o surgimento de novas variantes. Segundo a CNN, no entanto, os órgãos reguladores dos Estados Unidos discordaram da ideia. Empresa e autoridades governamentais seguem discutindo o tema.

O pedido da Pfizer é baseado em dados de saúde pública de Israel, onde as duas doses tiveram redução de eficácia de 90% para 64% com a variante delta. A Anvisa concedeu, em 18 de junho, autorização para a Pfizer investigar resultados de aplicação da dose de reforço.

Chile

Um estudo realizado pela Universidade Católica do Chile diz que os anticorpos neutralizantes e linfócitos T que combatem a infecção causada pelo novo coronavírus permanecem altos por seis meses. Os cientistas indicam que uma terceira dose seria útil após esse período de tempo – a pesquisa analisou a CoronaVac, mais utilizada no país sulamericano.

Tailândia

Os profissionais de saúde tailandeses já estão recebendo doses de reforço contra a Covid-19 em um momento em que o número de mortes tornou a aumentar. Eles foram vacinados com uma terceira dose de AstraZeneca após duas de CoronaVac. Um estudo do Centro de Ciências de Saúde de Doenças Infecciosas Emergentes da Cruz Vermelha mostrou que a CoronaVac era menos eficaz contra a variante delta. Já o Comitê Nacional de Doenças Transmissíveis concordou com a dose de reforço após a morte de uma enfermeira completamente vacinada por Covid-19.