“Existem limites para o poder” de “Davos”, afirma Jean-Christophe Graz, professor de relações internacionais na Universidade de Lausanne, para quem o Fórum Econômico Mundial, que começa nesta segunda-feira (25), é um “clube” que defende seus interesses econômicos, sem justificar os fantasmas conspiratórios.

O grande público conhece o WEF (nas siglas em inglês) como o “Fórum de Davos”, nome da estação de esqui suíça onde este organismo privado reúne todo ano a elite econômica e política mundial.

Desta vez, a reunião acontecerá de segunda a sexta-feira em formato totalmente virtual devido à pandemia de coronavírus.

Pergunta: No documentário “Hold-Up”, o Fórum de Davos é acusado de querer escravizar a população mundial. Você acha que este clube elitista continua alimentando os fantasmas conspiratórios?

Resposta: “Está claro que Davos tem influência, dado que são os poderosos que se reúnem lá, mas é preciso enxergar os limites do poder de Davos, já que deve-se traduzir as decisões adotadas no marco das instituições existentes em termos jurídicos e normativos. Não é suficiente que cinco chefes de Estado e de governo fiquem de acordo para que isso funcione! Se o poder de Davos recebe muita importância, entramos em uma teoria da conspiração”.

P: O discurso dos organizadores do WEF, às vezes, tem propostas surpreendentes. Por exemplo, seu fundador Klaus Schwab pede para “repensar o capitalismo”, afirma que o “neoliberalismo” está morto e que as desigualdades são preocupantes. Isso é algo novo?

R: “Faz trinta anos que é assim, faz parte do próprio funcionamento. O Fórum tem um lado público, garante que existe para pensar no interesse geral, estar a serviço da melhora da ordem mundial, que as elites têm uma responsabilidade com o clima ou com as desigualdades. Mas continua sendo um clube exclusivo onde nem todos têm lugar. Além disso, esse discurso permite ter uma agenda reformista bastante ambiciosa, mas sem questionar a ordem econômica onde as decisões das grandes empresas listadas na Bolsa são definidas por acionistas que buscam a rentabilidade máxima a curto prazo.

É o limite deste tipo de discurso supostamente progressista, apesar de haver soluções relativamente simples para reverter essa tendência de aumento das desigualdades, com impostos para as empresas, que podem ser maiores, impostos para as transações nas Bolsas de Valores ou para as heranças. É o momento de restabelecer a justiça, especialmente para as grandes fortunas.”

P: O presidente chinês Xi Jinping será a estrela desta edição. Como você explica o interesse da China por Davos?

R: “Com Donald Trump, os chineses recorreram a Davos para dar visibilidade à sua pretensão de ser um poder respeitável e incorporar uma globalização responsável. O interesse do poder chinês é se apresentar como uma alternativa confiável da globalização, particularmente diante de todos os países com os quais Pequim está estabelecendo relações duradouras no marco do projeto de Novas Rotas da Seda ou na África.

Antes de Donald Trump, apenas Bill Clinton compareceu ao Fórum, já que os outros presidentes consideravam que um líder americano estava acima disso e que não precisava ir a Davos para se reunir com quem quisesse. Mas Trump (que foi duas vezes) considerou que era o espaço ideal para lançar sua política transnacional, já que Davos não é só uma vitrine pública, mas também um lugar para avançar os dossiês, implementar as influências…

De fato, o Palácio de Congressos não é o lugar que importa, mas sim os hotéis, e neste sentido o Fórum é acima de tudo um hoteleiro que ganha tempo e é regido, como na tragédia grega, pela regra das três unidades: lugar, tempo e ação”.