Nos sonhos de verão dos técnicos do Banco Central, a virada do ano iria trazer uma reviravolta no setor petroquímico. Eles descobriram na madrugada de 15 de dezembro, porém, que o pesadelo continua. Ao terminar sem venda, o frustrado leilão da Companhia Petroquímica do Nordeste manteve o principal pólo industrial do setor, responsável pela produção de 50% da matéria-prima para a indústria de plásticos, enredado num cipoal de interesses acionários contraditórios e desiguais. Conseqüência desses desencontros, a Copene não recebe investimentos na ampliação de sua planta há quatro anos. Na prática, isso vem se refletindo em aumento de importações. Foram, em 2000, o equivalente a US$ 500 milhões. Estima-se que o mercado brasileiro consumidor de plásticos cresça 12% em 2001, e a indústria não tem condições de acompanhar esse ritmo sem que a Copene ultrapasse sua marca tradicional de 2 milhões de toneladas de resinas. O abastecimento de matéria-prima para as produtoras é feito, ainda, pela Petroquímica União, em São Paulo, responsável este ano por 15% do mercado, e a Companhia Petroquímica do Sul, no Rio Grande do Sul, que ficou com 35%. Mas a Copene é, sem dúvida, a jóia da coroa. Não se vê no horizonte de curto prazo novas condições para sua venda. Enquanto ficar assim, todo o setor está amarrado.

 

Pacientemente, desde meados de 1998 equipes do BC modelaram o leilão. Conseguiram aglutinar num só bloco de vendedores os grupos Odebrechet, Mariani, Suzano e o ex-banqueiro Ângelo Calmon de Sá. O BNDES cacifou o Grupo Ultra com créditos para a compra. A Dow Química, numa manobra até aqui mal explicada, desistiu na véspera. Uma liminar que impedia o leilão foi derrubada na última hora. Sozinho na raia, esperava-se do Ultra a liquidação da fatura para, a seguir, realizar os novos investimentos com que o governo sonha para aliviar a balança comercial. Furou. O Ultra deu um lance de R$ 1,6 bilhão e não alcançou o preço mínimo fechado, de R$ 2 bilhões. ?O Ultra não blefou, apenas ofereceu o que acha justo pela empresa?, diz um técnico ligado ao grupo.

Será? Nos últimos dois anos, manejando uma antiga e vasta rede de relações com o poder, o empresário Paulo Cunha prometeu entrar no jogo e, em troca, teve tudo o que pediu. No momento da dar o lance, comenta-se, representantes do seu grupo tinham cartas de fiança do Itaú e do Unibanco que garantiam uma cobertura de R$ 2,3 bilhões. Não usaram a munição. Dizem, agora, que a Copene tem um passivo trabalhista de R$ 700 milhões e, também, que a liminar derrubada poderia ressurgir em forma de ação popular. ?Dor de cabeça para cinco anos?, calcula um deles. Seja como for, a aliança do Ultra com o BNDES está em risco agora. O governo recebeu com irritação o lance abaixo do esperado. Nova tentativa de venda é prevista para março. Uma previsão que ninguém confirma.