O ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, montou um time econômico com a marca da diversidade. Ao contrário da equipe do antecessor Pedro Malan, o novo comandante da economia resolveu buscar assessores com trajetórias acadêmicas e profissionais diferenciadas. ?Não nos baseamos em uma única escola?, alfinetou ele na quarta-feira 1º, referindo-se ao fato de vários integrantes da equipe de Malan serem oriundos da PUC do Rio de Janeiro. ?Vou trabalhar com pessoas de várias correntes do pensamento econômico sem abrir mão da coesão no cumprimento de objetivos fundamentais do ministério: manter a estabilidade econômica e retomar o crescimento.? Caras novas em Brasília, os jogadores do time de Palocci estão sendo apresentados à fama. Na cerimônia de posse, na quinta-feira 2, no auditório do Banco Central, eles se surpreenderam com as grandes filas de cumprimentos. ?Não imaginei que fôssemos fazer tanto sucesso?, disse o economista Otaviano Canuto, novo secretário de Assuntos Internacionais, em meio às congratulações de empresários, políticos e lobistas à procura de aproximação.

Para jogar em seu meio de campo, Palocci escolheu o economista Bernard Appy, novo secretário-executivo do ministério. Até a eleição de Lula, ele trabalhava com Luciano Coutinho ? um dos principais articuladores do programa econômico do PSB ? na LCA Consultores. ?Foi um de meus alunos mais brilhantes?, comenta Coutinho. Appy faz parte de um seleto grupo de conselheiros econômicos do PT, do qual participam a professora Maria da Conceição Tavares, o senador Aloizio Mercadante (SP) e o ministro do Planejamento, Guido Mantega. Na fase de transição, ele ficou com a tarefa de esquadrinhar números do Banco Central, principalmente os relativos à dívida pública e aos investimentos externos. Na última visita dos técnicos do Fundo Monetário Internacional ao Brasil, em dezembro, Appy esteve nas reuniões ao lado de Palocci e Gushiken.

Inicialmente cotado para assumir as rédeas do Tesouro Nacional, o economista Arno Augustin ganhou o posto de secretário-executivo adjunto. Até o ano passado, era secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul. Juntos, Augustin e Appy representam a base petista. ?O PT tem quadros excelentes e aproveitá-los em cargos estratégicos não é nada além de nossa obrigação?, afirmou o presidente do partido, José Genoino.

Para contrabalançar as indicações petistas, Palocci optou por manter um dos principais técnicos do antigo governo como titular do Tesouro Nacional. Quem assume a função é o economista Joaquim Levy, ex-secretário de Política Econômica do Ministério do Planejamento. Um dos profissionais mais elogiados pelo ex-ministro Pedro Malan, trabalhou no FMI entre 1992 e 2000. ?O trabalho será duro, mas estou confiante no sucesso dessa nova empreitada?, disse ele à DINHEIRO.

Levy é reconhecido como excelente negociador externo, mas é nas conversas com os governadores e prefeitos que terá de provar o seu valor. Isso porque vários deles assumiram seus cargos com os caixas vazios e querem rever pontos da Lei de Responsabilidade Fiscal ? algo fora de questão, conforme ressaltou o ministro Palocci em seu discurso de posse. ?Vamos preservar a responsabilidade fiscal, o controle da inflação e o câmbio livre?, disse. ?Não iremos reinventar princípios básicos da política econômica.?

Outro nome que agradou aos liberais foi o do economista Marcos Lisboa para a Secretaria de Política Econômica. Uma das estrelas da Fundação Getúlio Vargas, ele é um dos pais da ?Agenda Perdida?, um compilado de propostas para diminuir as desigualdades sociais e reavivar a economia. O documento foi elaborado em parceria com José Alexandre Sheinkman, da Universidade Princeton, que colaborou com o então presidenciável do PPS, Ciro Gomes. Na contramão de Lisboa vem o secretário Canuto, de Assuntos Internacionais. Conhecido nas hostes da Universidade de São Paulo e da Universidade de Campinas, ele é crítico contumaz da política praticada pelo ex-governo em relação aos demais países. Canuto defende práticas mais agressivas de inserção brasileira nos mercados internacionais. O ministro da Fazenda escolheu ainda o jornalista Edmundo Machado de Oliveira como Assessor Especial para Assuntos Estratégicos.

Tamanho ecletismo poderia soar ao mercado como música desafinada. Isso, todavia, não ocorreu. O anúncio da junção de nomes tão divergentes foi recebido com calma. Na quinta-feira 2, o dólar fechou a primeira sessão do ano cotado a R$ 3,54 para venda, uma queda de 0,28% em relação ao dia anterior. A Bolsa de Valores de São Paulo, por sua vez, teve alta de 2,97%. ?As indicações foram coerentes com a postura demonstrada por Lula até agora, de respeitar a pluralidade de pensamentos?, avaliou o presidente da Bovespa, Raymundo Magliano. ?Além disso, é sempre Palocci quem dará o tom dos trabalhos e ele é uma pessoa de bom senso.?