As limitações impostas pela pandemia do novo coronavírus obrigaram os candidatos à Prefeitura de São Paulo a adaptarem suas campanhas no primeiro dia da disputa eleitoral. A maioria dos candidatos não deixou de ir para as ruas, mas o tradicional corpo a corpo foi substituído por atividades com menos pessoas, tentativas de manter o distanciamento mínimo, ou carreatas. Ainda assim, foram registradas aglomerações. Para tentar compensar, as campanhas utilizaram as lives e divulgação via redes sociais.

Líder na corrida eleitoral segundo pesquisa Ibope divulgada no domingo passado pelo Estadão, o deputado Celso Russomanno (Republicanos) passou o dia reunido com assessores, sem agenda.

Candidato à reeleição, o prefeito Bruno Covas (PSDB), que aparece em segundo na pesquisa de intenções de voto, fez o lançamento de sua campanha num webinário fechado para militantes do PSDB. “Com essa tecnologia, estivemos com mais pessoas do que em qualquer caminhada. Vamos utilizar a tecnologia com inteligência para falar com mais pessoas. No momento apropriado faremos corpo a corpo também”, afirmou o prefeito. Mais cedo, Covas assistiu a uma missa na igreja Nossa Senhora da Conceição, no bairro Vila Suzana, na zona sul.

Guilherme Boulos, do PSOL, optou por abrir a campanha com uma caminhada em São Mateus, zona leste, onde inaugurou seu primeiro comitê de campanha. Apesar dos pedidos no carro de som para que o distanciamento fosse mantido, houve aglomeração de centenas de apoiadores, além de dirigentes partidários e candidatos a vereador.

“Aqui imagino que vocês não tenham visto ninguém sem máscara. No carro de som fizemos um esforço de pedir distanciamento, mas nem sempre é possível”, disse Boulos. A candidata a vice, Luiza Erundina, que está no grupo de risco da covid-19 por ter 85 anos, ficou em casa e participou do lançamento da candidatura por telefone. Em suas redes, o candidato postou fotos e vídeos do evento.

Boulos reforçou o compromisso com a periferia, destacou o fato de ser o candidato mais bem colocado no campo da esquerda e fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro e ao governador João Doria (PSDB). “No nosso governo a periferia vai ser o centro. Não estamos aqui apenas para ganhar a eleição. Estamos aqui numa missão. O início da derrota de Jair Bolsonaro é aqui. Nossa batalha é em dose dupla. Além do Bolsonaro, temos o Bolsodoria”, disse o candidato.

Márcio França (PSB) abriu a campanha de rua na Praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, pela manhã, participando de um “adesivaço”. Apesar de integrantes da campanha, no carro de som, orientarem os militantes para ficarem apelo menos um metro de distância uns dos outros, houve aglomeração, abraços e cumprimentos. O candidato apresentou os slogans de sua campanha e aliados atacaram o governador João Doria (PSDB) por não ter concluído o mandato de prefeito. Eles “reciclaram” um antigo bordão da campanha do tucano em 2016, dizendo que São Paulo precisa de um “gestor”.

Arthur do Val (Patriota) também iniciou sua campanha no estádio do Pacaembu. Enquanto França colava adesivos nos carros, o candidato do MBL fez uma carreata pelo bairro – uma forma de minimizar riscos de transmissão do vírus. Ainda assim, houve aglomeração na concentração da carreata.

Uma das principais saídas encontradas pelos candidatos no primeiro dia de campanhas foram as lives. O recurso foi bastante utilizado mesmo em eventos de corpo a corpo, como no Pacaembu, em que França e Arthur eram constantemente “puxados” para entrar ao vivo na transmissão que era realizada por candidatos a vereador e apoiadores. Além disso, os dois também entraram ao vivo de suas redes.

Para evitar aglomerações, o PT decidiu abrir a campanha de Jilmar Tatto com 37 carreatas pela cidade. O partido impôs um limite de duas pessoas por carro.

O candidato também optou por dar o primeiro passo em São Mateus. Por volta das 11h, a carreata do petista quase cruzou com a caminhada de Boulos na Avenida Mateo Bei. Enquanto os petistas passavam pela avenida acenando bandeiras de dentro dos carros, apoiadores de Boulos de concentravam poucos metros à frente, numa travessa. Os dois grupos se trataram de forma respeitosa.

Depois da carreata Tatto deu uma entrevista na frente do CEU Alto Alegre. O lugar foi escolhido por simbolizar o legado petista na cidade. Um dos temas da campanha é mostrar que direitos obtidos pela população durante os governos petistas foram retirados ou reduzidos na gestão Doria/Covas. O padre Reginaldo Miranda, da paróquia Santíssima trindade, na zona leste, abençoou o candidato. “Precisamos de bênçãos, precisamos de sorte, porque militância a gente tem. E tem o (Fernando) Haddad e o Lulinha (o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva)”, disse Tatto.

Joice Hasselmann (PSL) juntou na noite de sábado, 26, segundo a sua campanha, mais de mil pessoas num galpão na zona leste de São Paulo. Depois da meia-noite, o que começou como uma reunião de sua equipe se tornou o lançamento oficial de sua candidatura. A campanha informou que a lotação do galpão seguiu as orientações sanitárias contra a disseminação do coronavírus. Fotos divulgadas em redes sociais, no entanto, mostram a candidata abraçada com apoiadores. Todos sem máscara.

O candidato Andrea Matarazzo, do PSD, visitou a Fábrica da Cultura do Jaçanã, idealizada por ele quando era secretário estadual de Cultura. Matarazzo aproveitou a visita ao bairro para apontar a regularização fundiária como prioridade. “Aqui nesta região vemos que não tem saneamento, tratamento de esgoto. A urbanização de favelas traz o saneamento, que ajuda na saúde, reduzindo a mortalidade infantil; traz trabalho, segurança, educação e cidadania para as pessoas. Melhora a qualidade de vida de todo mundo”, afirmou.

Levy Fidelix (PRTB) abriu a campanha num encontro com militantes bolsonaristas no Ibirapuera e participou de transmissões ao vivo de apoiadores. Em seu discurso, afirmou que é o único representante da direita na eleição e pôs o PRTB à disposição para futuramente “marchar ao lado” do Aliança Pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta criar.

Orlando Silva (PC do B), fez uma caminhada ao lado de alguns apoiadores na Vila Clímax, também na zona leste. “Quero ser o prefeito preto popular da quebrada para governar São Paulo”, disse ele.

Marina Helou (Rede) também iniciou a campanha na periferia. Ela fez uma caminhada na Vila Brasilândia, zona norte. “Vamos descentralizar o poder e construir juntos a solução para sairmos da mesmice”, disse ela.