Nos primeiros 15 dias do ano, o índice Bovespa já bateu três recordes históricos. O último foi cravado na segunda-feira 14, quando o principal indicador do mercado acionário atingiu o nível inédito de 94.474 pontos, o que elevou os ganhos no ano para 7,40%. O bom humor reflete o otimismo em relação à capacidade de o novo governo aprovar as reformas, em especial a da Previdência Social. “Isso deve ocorrer no primeiro semestre, para manter o movimento comprador no mercado”, diz Fernando Bresciane, analista da corretora Mirae. Ele destaca que os investidores estrangeiros, responsáveis por 50% do volume negociado na Bolsa, estão aguardando essa vitória do governo para aumentar o ritmo de compras de ativos. Caso isso se concretize, as casas de análise projetam o Ibovespa a 110 mil pontos no fim de 2019, um ganho de 17%, quase o triplo da remuneração prevista para o CDI.

A aprovação das reformas significa, ao menos na teoria, que o governo vai conseguir equilibrar as contas públicas, o que daria subsídios para acelerar o crescimento econômico. Os economistas dos bancos projetam um avanço de 2,7% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, segundo a edição mais recente da pesquisa Focus, do Banco Central (BC). “Isso beneficia os papéis de empresas ligadas à atividade doméstica”, diz Rafael Passos, analista da Guide Investimentos, que aponta o setor de construção civil como um dos mais promissores. “As ações ficaram atrasadas e, por isso, têm maior potencial de valorização”, diz. Os papéis da Cyrela, por exemplo, que estão cotados na faixa dos R$ 16, podem chegar a R$ 18 no fim do ano, uma alta potencial de 11%. A Cyrela mostrou a força dos seus fundamentos na prévia de resultados referente ao quarto trimestre de 2018, quando reportou R$ 2,7 bilhões em lançamentos, mais que o dobro apresentado no mesmo período de 2017.

Estação de tratamento de água da Sabesp: ação da companhia está na mira dos investidores (Crédito:Divulgação)

O varejo também deve mostrar uma retomada nos próximos meses, na esteira da maior oferta de crédito. De acordo com o BC, o estoque de empréstimos e financiamentos para a pessoa física pode subir até 5,7% neste ano. Um dos papéis beneficiados com o cenário é o do Pão de Açúcar, que de acordo com Nicolas Takeo, analista da Socopa, pode subir de 15% a 20% até dezembro. A ação da B2W é outro exemplo. O papel subiu 105% desde o fim de 2018. Na quarta-feira 16, ele fechou a R$ 47,91, superando o preço-alvo definido pela Guide, que é de R$ 45. Segundo Passos, ainda há espaço para valorização. “Esperamos ver um crescimento de vendas de mercadorias próprias e do marketplace no resultado do quarto trimestre de 2018”, diz. “Devemos revisar o preço-alvo para cima quando esses números forem divulgados.”

PRIVATIZAÇÕES O novo governo colocou as privatizações no topo da agenda. Além do desinvestimento das estatais, podem entrar na lista companhias de setores ligados à infraestrutura, como energia e saneamento. Isso tem turbinado os ativos dessas companhias. Um exemplo é a ação da estatal paulista Sabesp. O papel subiu 5% na terça-feira 15 e atingiu a cotação de R$ 41,60, a máxima da sua história. O catalisador foram as declarações de Henrique Meirelles, secretário de Fazenda de São Paulo. Ele afirmou que a privatização da companhia pode render até R$ 10 bilhões ao governo paulista, cuja dívida é de R$ 57 bilhões. “Uma das condições para os Estados obterem auxílio ao Tesouro nacional para fechar suas contas é privatizar”, diz Bresciane, da Mirae.

Rafael Passos, analista da Guide Investimentos: “A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) beneficia os papéis de empresas ligadas ligados à atividade doméstica”

Outra companhia que pode ir para as mãos da iniciativa privada é a Copasa, empresa de saneamento de Minas Gerais. Seus papéis já se valorizaram 58% neste ano, cotados a R$ 65,94, e ultrapassaram o valor projetado para o fim de 2019, que era de R$ 55. No entanto, os analistas advertem que a privatização dessas duas companhias depende da aprovação da Medida Provisória 868, que facilitaria a venda ao manter os contratos das empresas com companhias privadas dos municípios atendidos.

Além das companhias de saneamento, a grande aposta do mercado é a Cemig, Companhia Energética de Minas Gerais, considerada a estatal estadual com maior potencial de venda nos próximos dois anos. Romeu Zema, o novo governador de Minas Gerais, está trabalhando na proposta de privatização da empresa, que deve ser enviada em breve à assembleia mineira. “A empresa deve se desfazer de ativos importantes ao longo deste ano, como a participações na Renova e na Taesa, o que tende a elevar gradativamente o preço do papel”, diz Passos. A ação, que terminou a sessão de quarta-feira 16 cotada a R$ 13,83 tem potencial de valorização de 7,8% até o fim do ano de acordo com projeção da Guide Investimentos.