Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – O Palácio do Planalto vai usar a comemoração de mil dias do governo de Jair Bolsonaro para acelerar ainda mais a sequência de viagens que o presidente tem feito pelo país, em uma tentativa de melhorar a popularidade do presidente, que vem caindo a cada pesquisa.

Ao longo desta semana, vai a pelo menos seis Estados, com cerca de oito eventos diferentes, em todas as regiões do país, em um intensivo de pequenas inaugurações e entregas organizadas pelos ministérios da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional.

A agenda em si não difere muito do que Bolsonaro tem feito até aqui: entrega de um residencial no interior de Alagoas, títulos de propriedades rurais na Bahia, inauguração de uma termelétrica em Roraima, visita às obras do metrô em Belo Horizonte –onde a intenção é assinar a sanção de um projeto de lei que libera recursos, mas ainda depende da aprovação do Congresso– inauguração do metrô de Maringá (PR), terra do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

Na lista entram ainda a assinatura da concessão dos aeroportos do chamado Bloco Norte –Manaus, Porto Velho, Rio Branco, Cruzeiro do Sul (AC), Tabatinga (AM), Tefé (AM) e Boa Vista–, que foram leiloados em abril, e a concessão da BR 153, em Anápolis (GO).

A sequência de viagens serve para Bolsonaro vender seu governo em um momento de queda na popularidade. O último levantamento Datafolha, feito na metade de setembro, mostrou que 53% dos brasileiros consideram seu governo ruim ou péssimo, e apenas 22% consideram ótimo e bom.

Na semana passada, pesquisa do Instituto Ipec –formando por antigos integrantes do Ibope– chegou aos mesmos números. Nas duas pesquisas, Bolsonaro perde a reeleição para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, a depender do cenário, isso poderia acontecer ainda no primeiro turno.

No primeiro evento dos mil dias, nesta segunda –o lançamento de um programa de microcrédito pela Caixa que serviu para ministros rasgarem elogios ao presidente– Bolsonaro afirmou que o debate para as eleições de 2022 foi antecipado, mas que ele não iria entrar “na guerra da reeleição agora”.

De fato, adversários –incluindo Lula, Ciro Gomes e os governadores tucanos João Dória (SP) e Eduardo Leite (RS)– já se preparam para 2022, em uma antecipação inédita das discussões eleitorais. Mas o próprio Bolsonaro não está fora disso, apesar de suas palavras nesta segunda.

O presidente tem dedicado vários dias a viagens, especialmente às regiões Norte e Nordeste, em que pouco fala do evento que o levou até lá, mas concentra esforços em comparar seu governo com anteriores, e lançar alertas ao que chama de perigo da “volta do comunismo” –que nunca existiu no Brasil.

Mesmo nesta segunda, em seu discurso no Planalto, Bolsonaro recuperou a ameaça que supostamente representaria um presidente petista de volta à Presidência.

Bolsonaro se dedica ainda a participar de atos organizados por apoiadores com seu incentivo, em defesa do governo, especialmente “motociatas”.

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