Enquanto os trens tradicionais trafegam em média a 45 quilômetros por hora, os modelos de alta velocidade podem ultrapassar 600 quilômetros por hora. Os fundos multimercados podem ser considerados os trens-bala dos investimentos. Ao mesclar aplicações em renda fixa e variável eles levam o investidor mais rápido ao objetivo traçado no momento da alocação dos recursos. A acomodação da taxa básica de juros em 6,5% — o menor percentual da história — durante quase todo o ano de 2018 levou muitos poupadores de perfil conservador a tentar apressar a chegada. Eles embarcaram em massa nessa categoria, que captou R$ 34,1 bilhões até novembro, de acordo com a Anbima, entidade que regula o setor. “O resultado reflete o movimento dos investidores por diversificar as carteiras, o que ocorreu principalmente no primeiro semestre, na busca por rentabilidades maiores”, afirma Carlos André, vice-presidente da entidade. É consenso no mercado que a taxa de juros deve continuar baixa em 2019, o que deverá fazer mais e mais investidores embarcarem nos multimercados.

APOSTA NO VAREJO Essa categoria pode oferecer mais ou menos risco, de acordo com o portfólio escolhido pelo gestor. Geralmente aqueles com mais exposição à renda variável são os mais voláteis. Não é o caso do Ouro Preto FIC, que tem R$ 125 milhões em patrimônio e alcançou a melhor relação entre retorno e risco, medida pelo Índice de Sharpe (observe o quadro abaixo). Com a estratégia de comprar cotas de outros Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (Fidc), o fundo rendeu 8,98% nos últimos 12 meses, enquanto o CDI, indicador que baliza os ganhos na renda fixa, avançou 6,47%. “Diante da queda da taxa básica de juros, é uma tendência os gestores aumentarem as alocações em fundos de crédito privado em 2019”, diz João Peixoto Neto, sócio da Ouro Preto. Ele prevê que o crescimento das fintechs no mercado de crédito deve encorpar a oferta desses produtos. “Os fundos com exposição maior à renda variável também devem conquistar ainda mais adeptos”, diz.

A expectativa do mercado é que o novo governo avance na aprovação das reformas aumente a confiança dos investidores, o que tende a refletir em um desempenho mais robusto das ações. Em 2018, até o dia 18 de dezembro, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, havia se valorizado 13,3% depois de meses registrando uma intensa volatilidade como reflexo das incertezas políticas. Mas quem soube surfar no sobe e desce dos ativos se deu bem. Um exemplo de sucesso é a estratégia de Waldir Serafim, gestor do Kondor Long Short FI, que também se destacou com uma boa relação entre risco e retorno, e entregou rendimento de 14,9% aos cotistas nos últimos 12 meses. “Foram as ações de estatais como Eletrobras, Petrobras e Banco do Brasil que puxaram nossos ganhos”, diz. “Os papéis tiveram oscilações fortes, e soubemos entrar e sair na hora certa”. A categoria Long Short, escolhida por Serafim, consiste em uma operação na qual o gestor mantém uma posição vendida em uma ação e comprada em outra. De acordo com a Anbima, foi a categoria de multimercados que teve a melhor rentabilidade no ano — em média 12,8%. “Como proteção, agora estamos vendidos no índice Ibovespa futuro”, afirma. Com patrimônio de R$ 760 milhões, o fundo está fechado para novos aportes desde setembro.

Para 2019, Serafim mantém a aposta nas estatais. No entanto, ele pretende diversificar. Nos próximos meses, sua tática será investir mais em papéis ligados ao varejo, que na sua avaliação tendem a valorizar na esteira da melhora da economia. “Gostamos de CVC, Pão de Açúcar e Lojas Americanas”, diz. Em sua avaliação, além das reformas, a disposição dos bancos em emprestar mais deve aquecer o consumo.

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