As manifestações em favor do presidente Jair Bolsonaro em Brasília, neste domingo, 26, tiveram como foco o apoio a medidas defendidas pelo governo, como a reforma da Previdência e o pacote anticrime elaborado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, mas também muitas críticas ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo estimativa feita pela Polícia Militar, 20 mil pessoas estiveram no ato, na Esplanada dos Ministério, que durou cerca de três horas.

De cima de um dos trios elétricos, um grupo de pessoas se fantasiou de lagostas, em alusão ao edital do STF que prevê a compra de refeições com o crustáceo e vinhos com premiação internacional. Conforme revelou o Estado, a compra causou mal estar interno na Corte. Várias faixas e cartazes pediam a instauração da CPI da “Lava Toga”, iniciativa de um grupo de senadores contra o que chamam de “ativismo judicial” em tribunais superiores. “A gente prende, eles soltam”, disse um dos participantes do protesto, de cima do trio. “É muita palhaçada do STF, vamos exigir a CPI da Lava Toga”, acrescentou, completando que “motivos não faltam” para a apuração. No meio das manifestantes, também foram registradas faixas com frases como “Gilmar Mendes, impeachment já”, e pedidos de “fechamento do STF e Congresso”.

A insatisfação dos manifestantes também teve como alvo o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).”Alô Rodrigo Maia, o povo não é bobo. Ele sabe que você foi eleito pelo manto da impunidade”, gritava um dos manifestantes ao microfone em cima de outro trio. O Centrão, grupo que tem em seu núcleo duro o DEM, PP, PL (ex-PR), PRB e Solidariedade e reúne cerca de 200 deputados, também foi associado à corrupção de políticos.

“Eu acho que o pessoal do Centrão não tem vergonha. Eles deveriam ter um pouco de vergonha, eles pensam que o povo é imbecil, burro. O povo, por mais simples que seja, ele tem inteligência e sabe o que está acontecendo no País”, disse José Marcos, de 65 anos, administrador e publicitário que mora em Brasília e participou do ato. Para ele, que se define como monarquista, “se a coisa não andar”, a solução será o “fechamento” do Congresso o do Supremo. “Se esse pessoal não abrir os olhos aí, não fizer o que tem que ser feito, a solução vai ser essa. Fecha o Congresso, fecha o Supremo”, afirmou.

‘Privileco’ e ‘Super Moro’. No gramado em frente ao Congresso, onde os manifestantes se concentraram, um grande boneco inflável foi armado e recebeu o nome de “Privileco”. Do trio, uma das organizadoras buscou sintetizar o motivo da nova criação. “Representa todos aqueles parlamentares e aqueles que atrapalham as reformas pontuais que estão em trâmite na Câmara”, disse, acrescentando que essas pessoas não querem largar de seus privilégios.

Carregando um cartaz com os dizeres “Fora Centrão” e “Bora votar as reformas e leis que o país urge”, o funcionário público aposentado Marcos Sousa, de 66 anos, defendeu a realização das reformas econômicas, como a da Previdência e a tributária. “Eles têm que pensar nos 13 milhões de irmãos que estão desempregados”, disse, para quem tudo deve ser feito “democraticamente”, sem fechamento de instituições. “Agora cada um tem que fazer sua parte. O Supremo trabalhar direito, tomar as decisões corretas, o Congresso votando, o Executivo trabalhando”, completou, saindo em defesa também do pacote anticrime de Moro. O ex-juiz da Lava Jato também ganhou um boneco, em que foi retratado com uma capa de super-herói.

Concentração

A multidão vestida de verde e amarelo na Esplanada dos Ministérios começou a se concentrar por volta das 10h da manhã ao lado da Biblioteca Nacional, e caminharam em direção ao Congresso, encerrando o ato por volta das 13h. O número estimado pela Polícia Militar de participantes, de 20 mil, é mais de três vezes maior que a estimativa divulgada pela corporação sobre o ato ocorrido em Brasília no último dia 15, quando estudantes e professores foram às ruas contra o contingenciamento de verbas da Educação. Na ocasião, segundo a PM, 6 mil pessoas participaram do protesto.

Entre os manifestantes do ato deste domingo estava a deputada federal do PSL Bia Kicis, que subiu no trio para discursar. “Teve parlamentar dizendo da tribuna que essa manifestação era ilegítima porque a gente estava aqui para fechar o Congresso e o Supremo, não é para isso que nós estamos aqui, nós estamos para botar o Congresso e o Supremo para trabalharem de acordo com a Constituição”, declarou a deputada.

Professora no Distrito Federal, Maria de Lourdes Erbe, de 62 anos, disse que a população que elegeu Bolsonaro o colocou no cargo de chefe do Executivo pelo fato de o político representar mudanças. “E estava em consonância com o que a gente pensa, então ele foi para lá, mas quem está atrás de tudo isso é o povo. O povo quer que esse País desenvolva, cresça e realmente faça a inclusão, porque inclusão com esmola, bolsa família, não se faz inclusão, você mantém o curral eleitoral, a pobreza”, afirmou.