Os dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) avaliaram que uma alta de juros mais cedo e rápida do que o esperado anteriormente pode ser necessária, levando em conta especialmente os panoramas para a economia, incluindo perspectivas para inflação e emprego nos Estados Unidos, de acordo com a ata da última reunião da autoridade, divulgada nesta quarta-feira, 5. O documento diz ainda que, para alguns dirigentes, pode ser apropriado reduzir o balanço patrimonial do Fed logo após a alta de juros.

Os dirigentes concordaram em reduzir o ritmo mensal da compra de ativos líquidos à luz da evolução da inflação e da melhoria adicional no mercado de trabalho, com uma diminuição de aquisições de US$ 20 bilhões para títulos do Tesouro e US$ 10 bilhões para aqueles ligados à hipotecas (MBS), destaca a ata.

Segundo o documento, os participantes do encontro também avaliaram que reduções semelhantes no ritmo de compras provavelmente seriam apropriadas nos meses subsequentes, de forma que o tapering termine em meados de março.

O documento lembra que sob a perspectiva do Comitê do Fed, o fim do processo ocorreria assim alguns meses antes do que o previsto na reunião anterior. Os dirigentes também notaram que as compras em curso de ativos do Fed e as detenções de títulos “continuariam a promover o funcionamento regular do mercado e as condições financeiras acomodatícias, apoiando assim o fluxo de crédito”, diz a ata.

Além disso, os membros da reunião observaram que a autoridade estava preparada para ajustar o ritmo das compras em caso de mudanças na perspectiva econômica, e que era importante manter a “flexibilidade para ajustar a postura da política conforme apropriado”, segundo o documento.

Termo removido

Os dirigentes do Federal Reserve afirmaram que, com inflação elevada por mais tempo que o previsto nos Estados Unidos, decidiram remover o termo ‘transitória’ de sua avaliação sobre o fenômeno.

Observaram que os desequilíbrios de oferta e demanda continuavam a contribuir para a inflação elevada. “Os membros também concordaram que, com o surgimento da Ômicron, era apropriado observar o risco de novas variantes em sua avaliação dos riscos para as perspectivas econômicas”, diz o documento.

Além disso, segundo o comando do Fed, os desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia e à reabertura da economia continuaram a contribuir para níveis elevados de inflação, sendo que os gargalos na cadeia e emprego seguem limitando a oferta ante a forte demanda.

“Esperava-se que o progresso na vacinação e a redução das restrições de oferta apoiassem ganhos contínuos na atividade econômica e no emprego, bem como uma redução na inflação, mas os riscos para as perspectivas econômicas permaneceram, incluindo novas variantes do vírus”, diz o documento.

Atividade e Ômicron

Os dirigentes do Federal Reserve esperam um crescimento robusto nos Estados Unidos persistindo ao longo de 2022, mas avaliam uma série de riscos para a economia, especialmente com relação à pandemia, incluindo novas variantes do coronavírus, de acordo com a ata da última reunião de política monetária da autoridade. Segundo o documento publicado nesta quarta, a atividade depende da evolução da pandemia, e o risco por novas cepas permanece, após o surgimento da Ômicron com o tema ganhando destaque.

Muitos dirigentes avaliaram que a Ômicron tornou a perspectiva mais incerta, por sua vez, vários observaram que ainda não viam a nova variante como alterando fundamentalmente o caminho da recuperação econômica nos EUA, diz o documento.

Já o progresso em vacinação e o suporte oficial deram apoio à melhora de atividade e emprego, para os dirigentes, que observaram ainda que o crescimento no quarto trimestre pareceu mais forte após uma desaceleração no terceiro, segundo a ata.

Os setores mais penalizados pela pandemia melhoram, mas seguem afetados, para os participantes da reunião. Além dos efeitos da pandemia no sentimento de risco no momento, alguns participantes discutiram o potencial de a covid-19 tornar-se endêmica, possivelmente resultando em uma redução modesta no potencial de crescimento ao longo do tempo e um menor nível da taxa neutra de juros no longo prazo, segundo a ata.

Mercado de trabalho

Vários dirigentes do Federal Reserve julgam as condições atuais do mercado de trabalho americano como consistentes com a meta de pleno emprego do BC, segundo informou a ata da reunião de política monetária de dezembro da entidade. A avaliação reforça a perspectiva de aperto monetário no país, já que a meta de pleno emprego é, junto com a de inflação, determinante para a política monetária do Fed.

Além disso, alguns dirigentes que participaram do encontro afirmaram que talvez seja necessário subir a taxa básica de juros nos EUA antes da economia atingir a meta de emprego, caso a inflação e as expectativas para os preços se movam de modo substancial e persistente para cima.

Sobre a condição do mercado de trabalho, os banqueiros-centrais destacaram uma criação de vagas “sólida” e uma redução “substancial” na taxa de desemprego, e ao mesmo tempo alertaram que as condições seguem “muito apertadas no emprego”. Entre os fatores que apontam para isso, foram citadas taxas de demissões e vagas de emprego próximas de recordes históricos, além de “notável aceleração no crescimento de salários”.

Os desafios atrelados à mão de obra escassa, bem como os relacionados à cadeia de suprimentos, demorarão mais para se resolver que o previsto anteriormente. No caso da cadeia global, eles devem persistir ao menos até 2023, segundo notaram vários dirigentes.