PAPÉIS AVULSOS
Saída estratégica da Lojas Renner

LOJA EM SÃO PAULO: Renner pode suspender a compra da carioca Leader

Há pouco mais de um mês, o presidente da Lojas Renner, José Galló, anunciou a ofensiva sobre a classe D com a aquisição da Leader, rede popular de varejo do Rio de Janeiro. ?O consumo não será afetado pela turbulência?, disse Galló à DINHEIRO, na época do anúncio. Mas os últimos acontecimentos parecem ter dado uma guinada nos planos da empresa e a aquisição da Leader, pelo valor de R$ 670 milhões, já não parece mais um bom negócio. Com a alta do dólar exercendo pressão nos índices inflacionários, o pânico financeiro e as perspectivas de escassez de crédito, o mercado rechaçou por completo os planos de expansão da Lojas Renner, fazendo as ações da empresa perderem 44% entre 4 de setembro e 10 de outubro. Por essa razão, a companhia adiou a assembléia de acionistas que decidirá pela realização ou não do negócio. A reunião aconteceria no próximo dia 20 e foi adiada para o dia 30. Em fato relevante, a empresa divulgou que certos termos da operação ainda não foram acordados com os acionistas da Leader. ?É praticamente certo que a decisão da Lojas Renner seja pelo cancelamento do negócio. Endividar-se para crescer não é a melhor opção nesse momento, e os acionistas sabem disso?, afirma um analista da SLW Corretora. As estimativas de crescimento para a Lojas Renner em 2009 devem ser revisadas. Após o fato relevante, na terça-feira 14, as ações da empresa subiram 26%.
 

DESTAQUE NO PREGÃO

Vale põe o pé no freio?

A pujante demanda que movimentou todo o ciclo de extração de minérios até junho de 2008 parece estar adormecida. E com ela os planos de expansão das maiores mineradoras do mundo. Rio Tinto, Anglo American, Xtrata e ArcelorMittal já anunciaram revisão de investimentos. A Vale deve fazer o mesmo nos próximos dias e o esperado é que ela siga o movimento global de desaceleração produtiva. A queda de preço do cobre e do níquel sinaliza que a mineradora deverá postergar seus projetos em ambos os setores. No entanto, poderá manter ou até mesmo aumentar seus investimentos na produção de carvão mineral. Um dos papéis mais voláteis nas últimas semanas, as ações da empresa refletem as incertezas em relação à demanda e à estabilização do preço das commodities metálicas. O papel VALE5 teve queda de 14,7% até quinta-feira.
PALAVRA DE ANALISTA

Desacelerar os investimentos não tem um significado totalmente negativo no atual momento do mercado. Pelo menos é o que acredita Rodrigo Ferraz, analista de Vale da Brascan Corretora. ?Tudo indica que a Vale irá postergar os investimentos para ter uma noção melhor de como estará o cenário nos próximos meses. Ela não aportará um capital gigantesco sem ter certeza de que a demanda acompanhará o ritmo de produção?, explica o analista. A alta demanda nos primeiros meses do ano fez a Vale planejar seus investimentos para concluir muito rapidamente projetos de expansão. ?Agora, ela terá fôlego para executar esses projetos sem correr contra o relógio?, diz.
 

GERDAU
O risco de ser multinacional

 

Entre as siderúrgicas nacionais, a Gerdau tem sido uma das que mais sofrem com a saída do capital estrangeiro da bolsa. Até mesmo nos dias de recuperação, a ação da companhia de Jorge Gerdau se mantinha em queda. As razões são inúmeras. Além do movimento ilógico que tem ocorrido no mercado de capitais, há um outro agravante. Por sua forte presença nos EUA, a Gerdau é a siderúrgica com maior exposição ao desaquecimento nos EUA. ?E também por sua presença nesse mercado, o investidor pode enxergar que a empresa carrega um maior risco?, explica Carlos Fernando Kochenborger, analista da Geração Futuro. ?A redução da demanda não justifica a queda do papel da empresa.? Foram 56% de perdas desde 1º de setembro.

QUEM VEM LÁ
O chope ficou para depois

A cervejaria Inbev adiou o plano de captar US$ 9,8 bilhões com a emissão de novas ações. A ?volatilidade sem precedentes? nos mercados de capitais foi o motivo da suspensão do programa, informou a empresa. O dinheiro seria usado para financiar parte da compra da americana Anheuser-Busch, por US$ 52 bilhões. Agora, o plano do brasileiro Carlos Brito, presidente da Inbev, é fazer um empréstimo- ponte de igual valor com instituições financeiras e dar prosseguimento ao negócio. ?Esperamos concluir a fusão das duas companhias até o final do ano?, disse. Se, de um lado, a crise aborta planos de empresas de atrair novos sócios na Bolsa, de outro abre oportunidade para elas recomprarem ações no mercado a preços de banana. Vale, CSN, Bradesco, São Paulo Alpargatas, Bematech e até mesmo a BM&FBovespa engrossaram a lista das recompras nos últimos meses.
FIQUE DE OLHO: Se uma empresa usa o caixa e recompra ações, sinaliza que estão baratas e devem render mais que a renda fixa.
 

TOURO X URSO

O touro, símbolo da alta na Bolsa, não se cansa de apanhar do urso, sinônimo de baixa. O chifrudo só vai levar a melhor se mudar a percepção pessimista sobre o impacto da crise financeira na economia real dos Estados Unidos e da Europa. Atenção aos indicadores macroeconômicos americanos e europeus durante a semana. Dados menos desastrosos sobre produção e renda tendem a animar os investidores.
O diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahnn, mostrou aos jornalistas em Washington um interessante mapa sobre o aquecimento global na semana passada. Nada a ver com o derretimento do gelo nos pólos e nas montanhas, mas, sim, com o aquecimento financeiro mundial. Se a temperatura não baixar nos países desenvolvidos, vai sobrar para os emergentes. Ou seja: as ações podem cair ainda mais.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

A revista americana Business Week chamou a atual crise de A Nova Era do Gelo das Finanças. Investidores atentos estão aproveitando o derretimento das ações para buscar alguns mamutes congelados, caso de Warren Buffett. Mas não se engane: é preciso tempo, dinheiro e estômago forte para seguir essa trilha perigosa, em que desabamentos são constantes.

MERCADO EM NÚMEROS
VALE
US$ 14,2 bilhões
é o orçamento da mineradora para o ano de 2009.

CSN
US$ 3,95 bilhões
é o quanto um consórcio de siderúrgicas asiáticas deverá pagar pela compra da Namisa, da CSN. As ações da brasileira subiram 17% com o anúncio.

BRT
9,2%
foi quanto cresceu o lucro líquido da Brasil Telecom no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2007.

PETROFLEX
R$ 185 milhões
foi o valor da oferta pública de aquisição (OPA) de ações da Petroflex, concluída na quinta-feira.

MRV
R$ 424,9 milhões
foi o resultado trimestral de vendas da MRV Engenharia. As vendas contratadas do trimestre aumentaram 122,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.

VIVO
R$ 389 milhões
é a linha de crédito aprovada pelo BNDES para ser concedida à Vivo para expandir a companhia no Norte e Nordeste.

KLABIN
R$ 253 milhões
foi o prejuízo registrado pela Klabin no terceiro trimestre. Apesar disso, a receita líquida subiu 6,6% em relação ao mesmo período de 2007.

HERING
41,8%
foi o aumento da receita bruta da Cia. Hering no terceiro trimestre, em comparação ao do ano anterior.

PERSONAGEM

Indusval nada contra a corrente

A crise internacional está feia e afeta diretamente o sistema bancário. Apesar de tudo, o Banco Indusval Multistock conseguiu uma proeza: em plena turbulência, fechou uma captação de US$ 47 milhões e ? 7 milhões com o IFC, braço financeiro do Banco Mundial, e sete bancos internacionais. Outra boa notícia foi o investimento adicional do fundo JP Morgan Whitefriars, que aproveitou as baixas para dobrar sua fatia de ações preferenciais. O presidente, Manoel Félix Cintra Neto, falou à DINHEIRO.

DINHEIRO ? Como o banco conseguiu captar recursos do IFC e de outros bancos nesse momento de crise?
MANOEL FÉLIX CINTRA NETO ? Estávamos negociando há algum tempo com o IFC. A crise foi coincidência, mas o fato de o IFC e vários bancos terem subscrito indica que a credibilidade do Indusval Multistock está preservada. O desembolso foi na sexta-feira, no ápice do nervosismo internacional.

DINHEIRO ? Como será usado o dinheiro?
CINTRA NETO ? É um recurso de longo prazo, de dois a três anos, que vamos usar para nossas operações no middle market. Vem em boa hora. Não basta ter competência, é preciso ter sorte também. Somos um banco voltado para empresas médias e o que mais nos interessa nesse momento é preservar a liquidez dos nossos clientes.

“Não basta ser competente. É preciso ter sorte ”
MANOEL FÉLIX CINTRA NETO,presidente do Indusval Multistock

DINHEIRO ? Como os acionistas controladores receberam a notícia de que o JP Morgan Whitefriars aumentou a participação no banco para 8,5% do capital total?
CINTRA NETO ? Muito bem. É um fundo do JP Morgan especialista em mercado e investimento em bancos. Se resolveram dobrar a participação, é porque viram algo interessante na ação do banco. Para nós, todos os acionistas são iguais, mas quando um especialista desses compra nossas ações, a satisfação é maior. Eles sabem o que estão comprando.

DINHEIRO ? O cenário para os bancos é conturbado e, para os pequenos e médios, merece atenção especial do Banco Central. Quais são as perspectivas para os próximos meses?
CINTRA NETO ? O cenário é o mesmo para bancos de qualquer tamanho, grandes ou pequenos. Pode haver um ou outro banco mais apertado, mas todos estão sofrendo os efeitos da crise. Os maiores beneficiários da liberação dos depósitos compulsórios no Banco Central foram os grandes, que têm maiores volumes. O importante é que, na prática, houve liberação de liquidez para a economia e as empresas.

DINHEIRO ? As ações do banco estão em queda de 70% no ano. O que isso significa?
CINTRA NETO ? Todas as ações de bancos caíram, aqui e lá fora. Isso é uma coisa natural. Assim como bancos e empresas, aprovamos um programa de recompra de nossas ações. É um sinal de confiança, não é para sustentar o papel.
 

PELO MUNDO
O PREJUÍZO DO CITI
O Citigroup anunciou prejuízo de US$ 2,8 bilhões no terceiro trimestre. Só na divisão de cartões, as perdas somaram US$ 902 milhões. Um ano antes, o lucro havia sido de US$ 1,4 bilhão. Gary Crittenden, CFO do Citi, disse que o desempenho do setor de cartões está intimamente ligado ao desemprego nos EUA. As ações do banco caíram 2% na NYSE na quinta-feira 16.

NOKIA GANHA MENOS

Maior fabricante de aparelhos celulares do mundo, a Nokia enfrentou queda de 31% em seu lucro no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. É a primeira vez que a companhia divulgou a diminuição de lucro e market share tão grandes em toda a sua história. Suas ações na Euronext fecharam em queda de 4,2% na quinta-feira.

AIR INDIA DEMITE

Até então pouco afetada pela crise, a Índia já começa a sentir o peso da perda. A aérea Air India informa que pretende demitir 15 mil funcionários, 50% do total, devido às perdas acumuladas ao longo do ano, ocasionadas pela alta do petróleo no primeiro semestre e queda das vendas. A empresa anunciou prejuízo acumulado de US$ 800 milhões no ano.

SUÍÇA SOCORRE UBS

O banco central suíço injetará US$ 60 bilhões no UBS, que é a instituição européia mais afetada pela crise do subprime. Já o Crédit Suisse está levantando recursos com bancos privados e com o fundo soberano do Qatar.