PAPÉIS AVULSOS
A correria dos estrangeiros

” O mercado vai entrar em um novo
nível de equilíbrio “

CLÁUDIO ALENCAR, sócio da Pólo Capital
O que levou as gigantes Petrobras e Vale, até há pouco tempo as queridinhas dos investidores estrangeiros, a despencar na Bolsa? Certamente não foi uma mudança de fundamento de seus negócios nem a apresentação de balanços semestrais com números decepcionantes. As duas estrelas da BM&FBovespa continuam com seus motores de produção e expansão ligados. As perspectivas parecem até melhores que no início do ano, com as descobertas de novos campos de petróleo e a demanda asiática em alta pelo aço. Mesmo assim, as ações preferenciais de Petro e Vale estavam em baixa de 26,7% e 31,2%, respectivamente, até a quinta-feira 18. Elas perderam valor? Numericamente, sim. Mas, por mais contraditório que pareça, elas só estão nesse nível porque têm liquidez e valia suficientes para entregar para a manada desesperada de estrangeiros o capital adequado para cobrir os rombos nos quintais deles. Essa crise americana não é nossa; as empresas nacionais não têm nada a ver com os problemas deles, mas teremos que esperar os resultados para medir quais serão os estragos por aqui. ?O mercado vai entrar em um novo nível de equilíbrio?, alerta Cláudio Alencar, sócio da Pólo Capital. Daqui para a frente, como boa parte das companhias na Bolsa brasileira é produtora de commodities, é preciso saciar o apetite da China e de outros países emergentes, em vez de velar bancos como Lehman Brothers ou Merril Lynch. ?O desempenho da nossa Bolsa vai depender do ritmo de crescimento das commodities?, afirma Ricardo Amorim, diretor de mercados emergentes do banco WestLB.

DESTAQUE NO PREGÃO
O sinistro das seguradoras

Reflexos da quebra da American International Group (AIG) foram sentidos no Brasil na segunda-feira 15, logo após a maior seguradora do mundo afirmar que estava a ponto de decretar falência. No dia do anúncio dessa ?quase quebra?, as ações de empresas seguradoras no mundo todo despencaram. E nessa chuva de baixas estavam também as brasileiras Porto Seguro e SulAmérica, que caíram 4,5% e 6,2%, respectivamente, na BM&FBovespa. Sobrou até para o Unibanco, parceiro da AIG na seguradora que leva o nome das duas empresas no Brasil. Suas units despencaram 8%. Os investidores temiam que o caos na AIG significava que toda a indústria de seguros global estava comprometida pela crise financeira. E desse sinistro nem as brasileiras escaparam.
 

SIDERURGIA
Gerdau investe

Nem os ares pessimistas de menor demanda mundial pelo aço brecam os investimentos da Gerdau, que anunciou dois importantes aportes de capital em suas subsidiárias. O primeiro foi de US$ 1,4 bilhão na Sinderperú, empresa adquirida em 2006. O objetivo é passar das 450 mil toneladas de aço produzidas para três milhões em cinco anos. O segundo, no seu braço argentino, Sipar. Os US$ 524 milhões desembolsados por Jorge Gerdau ajudarão a multiplicar a produção na terra do tango. ?A empresa está em uma posição invejável no continente americano?, diz Pedro Galdi, analista da SLW Corretora. O maior problema que a siderúrgica pode enfrentar é nos EUA, onde adquiriu a Chaparral Stell por US$ 4,2 bilhões. ?Com o desaquecimento na economia, a exposição da Gerdau nos EUA pode preocupar?, destaca Galdi.

PALAVRA DE ANALISTA

A AIG não exercerá o efeito dominó sobre o mercado de seguros no mundo. ?Todos os papéis da indústria financeira estão sofrendo com a crise?, afirma Maria Laura Pessoa, analista do Unibanco. Segundo ela, o que acontece com as seguradoras é uma continuação de um primeiro semestre de resultados relativamente fracos. ?As chuvas em São Paulo aumentaram a sinistralidade e a alta da inflação causou aumento no custo dos sinistros, que ainda não foi repassado para o preço das apólices?, explica. O movimento de realização que ocorre no mercado internacional é também, segundo a analista, uma forte razão para o fraco desempenho dos papéis do setor.
 

QUEM VEM LÁ
Uma argentina na BM&FBovespa

A companhia argentina Solvay, fabricante de plásticos PVC e químicos, como soda cáustica, conseguiu o sinal verde da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para listar seus Brazilian Depositary Receipts (BDRs) na BM&FBovespa sem a necessidade de fazer a oferta ao mercado. Para fugir da distribuição pública, a empresa precisa entrar no Nível 2 de governança corporativa. A Solvay, que estava se preparando sob coordenação do UBS Pacutal desde março, pediu o cancelamento da análise e se prepara, agora, para ser listada na Bolsa brasileira. Com papéis negociados em Buenos Aires, a Solvay quer ganhar maior visibilidade mundial ao participar da mais importante Bolsa da América Latina.
FIQUE DE OLHO: A CVM está revisando as regras para emissões de BDRs depois dos problemas ocorridos com a Agrenco e a Parmalat, que têm sede em paraísos fiscais.
 

TOURO X URSO

Será que o touro, o símbolo de alta da Bolsa, vai conseguir reagir nesta semana? Há sete dias, nem os bons ventos do mercado brasileiro ajudaram o touro a levar as ações para cima. Esta, porém, deve ser uma semana sem grandes emoções no mercado interno. Nenhum dado econômico que será divulgado parece capaz de interferir no mercado acionário. Fique de olho na reunião de quinta-feira 25 do Conselho Monetário Nacional.
Não há suspiro nos EUA que não provoque calafrios no resto do mundo. O bafo do urso, o símbolo de baixa da Bolsa, continua empurrando as ações para a linha vermelha. O PIB americano será divulgado na sextafeira 26 e aparece como o mais importante evento do calendário econômico externo. Porém, como ignorar os índices de preços dos imóveis e dos refinanciamentos imobiliários, em que toda a crise começou?

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

O investidor que se deixa levar pelo pânico que ronda o mercado acionário mundial pode realizar prejuízo. Apesar da montanha-russa das Bolsas, é importante conservar a disciplina do investimento para manter sua carteira com bons papéis. ?Obedecer à estratégia traçada com o seu analista é fundamental?, diz Gabriel Leal, sócio da XP Educação, unidade de ensino da XP Investimentos.

MERCADO EM NÚMEROS
TELEMAR
US$ 470 mil
é o preço da licença para a Telemar operar como fornecedora de televisão por assinatura via satélite em todo o Brasil. No início da semana passada, a empresa foi multada em R$ 2,56 milhões pela Anatel por descumprir o regulamento de serviços de telefonia fixa.

LUPATECH
US$ 3 milhões
pagou a Lupatech pela empresa argentina Narpatagonica, prestadora de serviços para o setor de óleo e gás.

PÃO DE AÇÚCAR
R$ 1,5 bilhão
em vendas líquidas registrou o Pão de Açúcar em agosto, crescimento de 29,1% sobre o mesmo período do ano passado.

COSAN
R$ 2 bilhões
é quanto a Cosan pretende investir na geração de energia elétrica em usinas sucroalcooleiras nos próximos anos.

CCR RODOVIAS
R$ 300 milhões
será a emissão da série única de debêntures simples da CCR Rodovias. Os papéis não serão conversíveis em ações.

VALE
US$ 2 bilhões
é o valor de mercado da mexicana Autlan, companhia mineradora com a maior reserva de manganês da América do Norte. A Vale está interessada em comprar a empresa mexicana.

ALL LOGÍSTICA
563% de ampliação
no volume transportado de açúcar, álcool, produtos frigoríficos e siderúrgicos até 2010 são os planos da ALL para expandir sua malha ferroviária.

PERSONAGEM

A crise das crises

Setembro agitou os mercados de uma maneira pouco vista na história. A crise, só comparada à Grande Depressão de 1929, mostrou que o buraco do subprime ainda não pode ser mensurado. O ano ainda não acabou e os resultados esperados pelos bancos americanos e europeus para o quarto trimestre não têm perspectiva de melhora. Hugo Penteado, economista-chefe do Real Asset Management, estima que tempos piores podem estar por vir para o sistema financeiro mundial. A sangria das bolsas, evidenciada após a quebra do Lehman Brothers e da AIG, ainda não tem data para terminar. ?Não sabemos qual vai ser o desfecho dessas crises múltiplas.?

” Há um
acirramento
da crise. O
pior ainda
não passou ”
HUGO PENTEADO, economista-chefe do Real Asset Management

DINHEIRO ? O pessimismo na economia continuará por muito tempo?
HUGO PENTEADO ? A situação continua preocupante para os países desenvolvidos por vários motivos. A crise começou em abril de 2006 e vem superando as piores expectativas. Quem tomou dinheiro emprestado entre 2004 e 2006, tomou especulando que o preço dos imóveis continuaria subindo. Mas o preço caiu. E com isso entra-se em um círculo vicioso de inadimplência, devolução de imóveis e aumento de estoque imobiliário. E não há previsão de fim para esse ciclo.

DINHEIRO ? Há perspectiva de melhora para o final do ano?
PENTEADO ? Não. Há um acirramento da crise bancária, pois o pior ainda não passou. E a crise imobiliária é a raiz desses problemas, pois ela mantém o consumo com perspectivas negativas. E sem consumo, a demanda cai. Então ainda há coisa pior por vir. Só não se sabe quão pior. Alguns falam da recuperação econômica para 2009, mas isso ainda é pensamento desejoso. Não sabemos qual vai ser o desfecho dessas crises múltiplas.

DINHEIRO ? A aversão ao risco no mercado de ações vai continuar?
PENTEADO ? Existe um fundamento econômico por trás dessa realização dos mercados, que começou em novembro do ano passado. E a variação negativa nas bolsas deve persistir ainda mais.

DINHEIRO ? A realização se deve somente à crise imobiliária?
PENTEADO ? Em 2007, os bancos dos EUA começaram a evidenciar perdas financeiras muito grandes devido às hipotecas. Antes, os números com hipotecas de alto risco não precisavam estar nos balanços. Quando entraram, começou a se ter uma idéia do tamanho das perdas bancárias. Foi isso que culminou na realização que está acontecendo e que figura como o início de uma crise econômica mundial, não só de países ricos.

DINHEIRO ? Por que o Brasil só foi atingido em maio?
PENTEADO ? Devido às commodities. Achávamos que a tese do descolamento era real e que não seríamos afetados. Quando a crise veio, o Brasil não deu a mínima.

DINHEIRO ? A tese do descolamento é furada?
PENTEADO ? É uma tese que não tinha segurança, nem comprovação. Commodities em alta significa Ibovespa em alta, e com a queda das commodities, sobretudo o petróleo, o índice cai também.
 

PELO MUNDO

MURDOCH OTIMISTA

O CEO da News Corp, Rupert Murdoch, afirmou que as assinaturas online do Wall Street Journal e Dow Jones poderão aumentar até US$ 300 milhões ao ano nos próximos dois ou três anos. Os sites possuem conteúdo gratuito, mas Murdoch afirmou que mudará isso. Os investidores acreditaram nas palavras do chairman e as ações do Grupo subiram 0,6% na quinta 18.

MORGAN QUER SER SALVO

Para evitar o mesmo destino de seus concorrentes, o banco Morgan Stanley quer negociar. Chamou dois fundos soberanos, China Investment Corp e Singapore Investment Corp, e o banco Wachovia para sentar à mesa. As ações do Morgan caíram 38% na última semana, e somente na quinta 18 a queda havia sido de 28%. As do banco Wachovia, ao contrário, subiram 47% no mesmo dia.
BUFFETT VAI ÀS COMPRAS

O megainvestidor Warren Buffett, como é de praxe em épocas de crise, começa a encher o carrinho. Sua companhia, MidAmerican Energy, desembolsou US$ 4,7 bilhões pela Constellation Energy, empresa americana de energia que agoniza devido à falta de liquidez do mercado. A notícia não freou a queda. Na quinta 18, as ações da Constellation caíram 4,5%.

SANDISK DIZ NÃO

A Sandisk recusou a oferta de compra da Samsung (US$ 5,7 bilhões) e agradou o mercado. Analistas avaliavam a oferta como muito baixa, o que provocou uma valorização de 39% para o papel da Sandisk na quarta 17 e 10% no dia seguinte.