Antes de adquirir o Twitter por US$ 44 bilhões, Elon Musk já havia se enfronhado nos detalhes da gestão da empresa, incluindo salários e bônus. Avisou que iria zerar a remuneração dos conselheiros para economizar US$ 3 milhões ao ano. Pode parecer uma ninharia para o homem mais rico do mundo, mas a conta dele vai além: os executivos com salário baseado em ações do Twitter receberam US$ 630 milhões em 2021, um aumento de 33% em relação a 2020. O valor é baixo se comparado aos US$ 10,89 bilhões pagos no mesmo período a funcionários da Alphabet (dona do Google) e aos US$ 9,16 bilhões pagos pela Meta (dona de Facebook, Instagram e Whatsapp). A diferença se explica no valor de mercado de cada uma. Enquanto o Twitter custou a Musk US$ 44 bilhões, a Alphabet vale cerca de US$ 2 trilhões. A Meta, que já chegou a valer US$ 1 trilhão, no início deste ano saiu da lista de dez maiores do mundo ao ser avaliada em US$ 565 bilhões. Mesmo assim, vale quase 13 vezes o Twiter. A Alphabet, 45 vezes. Proporcionalmente a seu tamanho, o Twitter pagou 2,6 vezes mais bônus que a Alphabet. Dar lucro é o objetivo de toda empresa. Distribuir dividendos é a consequência de uma gestão bem-sucedida e o prêmio para quem deu resultado.

Reduzir as despesas e aumentar a rentabilidade do Twitter foi uma das premissas para que bancos emprestassem o dinheiro que Musk investiu na compra da rede. Ninguém quer investir em uma empresa perdulária. Uma cena do sensacional filme “Casa Gucci”, de Ridley Scott, ilustra bem esse tema. Em 1996, em um encontro com o então CEO e dono de 50% da empresa, Maurizio Gucci, os investidores que haviam adquirido o restante do grupo questionaram os gastos pessoais que ele vinha fazendo com o caixa da companhia. Na conta havia itens como um apartamento de US$ 7 milhões, um relógio de US$ 3 milhões, uma Ferrari e uma Lamborghini. Para evitar que a grife acumulasse um novo ano de prejuízo, os sócios ofereceram US$ 150 milhões pela metade que cabia ao herdeiro. Ele recusou a oferta. Por outros motivos (não darei spoiler), Maurizio saiu de cena. A Gucci vale hoje cerca de US$ 60 bilhões. Isso talvez não fosse possível com o perdulário modelo de gestão anterior.

Quando se fala em aplicar às estatais os princípios que garantem o sucesso das companhias privadas, logo se pensa em demissões, sinergias, ganhos de eficiência. É verdade que há gestões desastrosas nos dois mundos, assim como há casos de sucesso em ambos. A diferença é que uma empresa pública não tem apenas uma “razão social”. Ela precisa ter também um propósito social. E isso nos leva à maior estatal do País, a Petrobras. Desde o início do governo Bolsonaro, dois presidentes da petroleira foram afastados pelo mesmo motivo: o alinhamento de preços dos combustíveis no Brasil às cotações internacionais.

Na última semana, novos reajustes encareceram o diesel, a gasolinha e o gás de cozinha. Desta vez, não houve pressão do chefe do executivo para segurar as altas. Segundo o presidente da estatal, José Mauro Coelho, Bolsonaro já “entendeu a questão de preços de mercado”. A declaração foi dada em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na edição da quarta-feira (4), véspera da divulgacão do excepcional lucro da companhia no primeiro trimestre do ano. Segundo Coelho, em 2014 a empresa tinha dívida de US$ 160 bilhões “por causa de uma política equivocada de preços”. Não há dúvida de que a paridade internacional dos combustíveis gera lucro para a estatal. O problema é que essa paridade gera também inflação.

As altas recordes nos preços dos combustíveis estão entre os fatores que mais pesam no custo de vida dos brasileiros. Com o IPCA chegando a 12% nos últimos 12 meses, a autoridade monetária é obrigada a aumentar os juros. Na quarta-feira (4), o Banco Central elevou a taxa Selic para 12,75% ao ano. Isso encarece o crédito, aumenta o endividamento das empresas e das famílias — e retarda a retomada do crescimento, com efeitos terríveis sobre a geração de empregos. É verdade que, mesmo sendo uma empresa pública, a Petrobras não tem a responsabilidade de atuar sobre a inflação. Ela visa o lucro e isso é louvável. O que ela não pode — ou não deveria — é atrelar sua lucratividade a aumentos que prejudicam a economia brasileira como um todo.

Celso Masson é diretor de núcleo da DINHEIRO