O INVESTIDOR QUALIFICADO não é o oposto do desqualificado. No jargão do mercado financeiro, receber essa tarja é o mesmo que acumular músculos em uma academia de ginástica. A força acaba sendo proporcional à capacidade de agüentar os trancos dos halteres. E como é feita essa classificação? Pelo valor da carteira de investimentos. Para ser um investidor qualificado, você precisa ter mais de R$ 300 mil em aplicações financeiras. As regras são ditadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Quem se enquadra nesse perfil deve ser capaz de entender, ponderar e assumir os riscos relacionados ao negócio. E assinar uma declaração confirmando essa condição. A partir daí, o sinal verde é dado para ter acesso a ativos de maior risco.

A Bolsa de Valores passou por um caso recente de oferta pública arrojada. O empresário Eike Batista lançou as ações da OGX, uma empresa sem qualquer histórico de atuação. O maior atrativo era um pedaço de papel informando sobre as concessões obtidas para explorar petróleo. Somente os investidores qualificados puderam participar do IPO, que levantou R$ 6,7 bilhões em ações em junho. Cada uma custou R$ 1.131. Excluir os pequenos investidores foi uma maneira de protegê-los do risco. ?É difícil fazer uma avaliação desse tipo de negócio e a proteção encontrada foi colocar uma barreira de dinheiro?, diz Théo Rodrigues, diretor- geral do Instituto Nacional dos Investidores. Para completar, o prospecto tinha 568 páginas e dizia que a chance de sucesso da companhia era, em média, de 27%. Quem não tem condições de decifrar os catataus dos IPOs deveria manter distância dos lançamentos de ações, defende José Olympio Pereira, diretor do banco Credit Suisse, um dos líderes das emissões. ?Há investidores que não têm capacidade de entender (os prospectos) e, portanto, não deviam estar investindo diretamente?, afirmou o banqueiro.

O cidadão comum não precisa esperar seus investimentos se valorizarem até atingir o piso mínimo exigido dos qualificados para comprar uma ação como a da OGX. Fundos de investimento em cotas (FIC) têm autorização para adquirir esse tipo de ativos. ?O pequeno investidor pode ter acesso indireto aos ativos arrojados?, diz Rodrigues. Alguns fundos, porém, são arriscados e fechados para nanicos. Carteiras de financiamento de filmes, de investimento imobiliário (FII) e de direitos creditórios (FIDC) são exemplos de aplicações criadas para quem tem músculos de sobra. Você já sabe o motivo. ?São produtos complexos cujos conceitos o investidor individual tem dificuldade para entender?, justifica Felipe Claret, superintendente de valores mobiliários da CVM.