Não se pode afirmar que exista vida após a morte, mas, para muita gente, o lucro “póstumo” é mais que certo. É o caso de Mark Roesler, CEO da empresa norte-americana CMG Worldwide, que cuida da imagem de celebridades que, digamos, já não estão entre nós, como as estrelas Marilyn Monroe (1926-1962), James Dean (1931-1955) e Bettie Page (1923-2008); o ativista Malcolm X (1925-1965) e o escritor Oscar Wilde (1854-1900). 

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Ídolos rentáveis: Roesler (centro) entre seus “clientes”. À esquerda, James Dean
e Marilyn Monroe, e à direita, Bettie Page e Babe Ruth 

Roesler está entre as principais figuras da indústria do licenciamento, um negócio que rende para sua companhia, no mínimo, US$ 900 milhões por ano. Seu portfólio conta com 320 personalidades, 80% delas já falecidas, e outros sucessos como o slogan I Love New York. 

 

“Com algumas personalidades, me sinto parte da família. É como se eu também fosse dono de algo que pertenceu a elas”, disse Roesler à DINHEIRO. A relação do empresário com seus mortos famosos começou em 1981 quando, recém-formado em direito, passou a cuidar dos negócios imobiliários deixados por Elvis Presley (1935-1977), mais precisamente Graceland, a mansão onde viveu por 20 anos.

 

“Percebi como era difícil para a família proteger um ícone como Elvis e pensei em outros grandes nomes como James Dean. Foi assim que tudo começou.” Hoje Elvis não é mais cliente da CMG, mas é um ótimo exemplo de como um famoso pode render mais com o passar do tempo. No ano de sua morte, em 1977, os lucros com os royalties chegaram a US$ 5 milhões. Em 2009, renderam US$ 55 milhões. Isso ocorre por conta do marketing feito em Graceland. 

 

O trabalho de Roesler vai desde cuidar de burocracias até agenciar seus clientes como se ainda estivessem vivos. “Eles certamente não poderão comparecer a um show, mas sua imagem e trabalho artístico sim, e é com isso que nós trabalhamos. Mesmo as celebridades que já morreram há quase meio século têm seu trabalho bastante relevante nos dias de hoje”, destaca. 

 

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O lucro de Roesler vem, em sua maioria, de uma parte dos royalties que podem ser de até 15%. Esse uso surge das formas mais diferenciadas: de imagens em um filme a canecas, de perfumes a camisetas, entre outros. Roesler conta com uma equipe de advogados com a missão de fiscalizar o uso da imagem de seus clientes. Em muitas situações, trabalhar com os mortos é uma vantagem.

 

“Marilyn não vai criar nenhum novo escândalo agora”, brinca o empresário que se diz pioneiro no que faz. “Iniciei esse tipo de negócio e hoje ninguém no mundo tem tantos clientes famosos como eu”, afirma categoricamente. 

 

O empresário chegou a trabalhar com algumas celebridades brasileiras em seu portfólio, todas vivas, como Pelé e Emerson Fittipaldi, mas isso não durou mais do que cinco anos. “Era muito mais lucrativo para nós levar para o Brasil e administrar os direitos das celebridades mortas que já tínhamos do que cuidar desses vivos”, diz. O único brasileiro que continua na lista é Ivo Pitanguy. 

 

No Brasil, quem faz esse trabalho é uma empresa chamada Supermarcas. Há oito anos tem cinco clientes já falecidos, dos quais cuida dos direitos apenas na América Latina: Ray Charles (1930-2004), Elvis Presley, Jimi Hendrix (1942-1970) e The Beatles (no caso, nem todos mortos). Juntos, ele podem render US$ 5 milhões em royalties no período de cinco anos. 

 

“Cada uma das marcas de que cuidamos segue um guia de estilo que tem que ser respeitado”, explica Moacir Galbinski, diretor comercial da empresa. Mas quem fica com os royalties? Isso depende do desejo do morto. Se houver um testamento, ele será respeitado. 

 

O mesmo acontece com o direito da família no caso da ausência desse documento. Mas e se uma celebridade morre jovem? “Se não há nem família direta e nem testamento não haverá ninguém para reclamar os royalties. Na legislação brasileira, os direitos permanecem por 70 anos. Depois disso cai no uso público”, diz Gilberto Jabur, diretor do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP).