Os líderes dos principais partidos da Holanda se enfrentaram nesta terça-feira em um último debate televisionado para tentar seduzir milhões de eleitores indecisos, após uma campanha ofuscada pela crise diplomática com a Turquia.

As eleições na Holanda são consideradas um termômetro da ascensão da extrema-direita na Europa em um ano de eleições em todo o continente.

O deputado anti-Islã Geert Wilders declarou durante o debate que “quando as pessoas buscam liderança pensam em mim”.

Wilders – do Partido para a Liberdade (PVV) – reafirmou as promessas de fechar as fronteiras da Holanda aos imigrantes muçulmanos, proibir a venda do Alcorão e acabar com as mesquitas no país, apesar de tais propostas violarem a Constituição nacional.

“Se querem que a Holanda volte a ser nossa, então expulsem este homem” do governo, disse Wilders em referência ao premier Mark Rutte.

Candidato a um terceiro mandato, o premier Mark Rutte – do Partido Popular pela Liberdade e a Democracia (VVD) – declarou que sua luta é evitar que Wilders se torne a principal força política da Holanda.

As últimas pesquisas, publicadas logo antes do debate, revelam que Wilders perde terreno e agora ocupa a segunda posição, podendo obter entre 19 e 22 cadeiras das 150 da Câmara baixa do Parlamento.

O VVD obteria entre 24 a 28 cadeiras, distante das atuais 40. Os partidos tradicionais, como a Apelo Democrata Cristão (CDA) e os Democratas 66 (D66) seguem próximos da votação de Wilders e Rutte.

Na véspera de uma eleição legislativa crucial que poderá reformular completamente a paisagem política na Holanda, 60% dos 12,9 milhões de eleitores ainda não sabem em quem votar na quarta-feira entre um número recorde de 28 candidatos.

“É tão volátil, muita coisa ainda pode acontecer”, explica à AFP Monika Sie Dhian Ho, diretora de um centro de think tanks em Haia, o Instituto Clingendael, citando programas políticos de diferenças menos acentuadas e a importância da performance midiática dos políticos.

‘Expulsar este homem’

“Se querem que a Holanda volte a ser nossa, então expulsem este homem e me colocarão no ‘Torentje'”, o gabinete do primeiro-ministro, lançou Geert Wilders em um virulento debate com o primeiro-ministro.

Conhecido por sua forte retórica anti-Islã, o deputado de cabelo descolorido prometeu, caso se torne primeiro-ministro, fechar as fronteiras aos imigrantes muçulmanos, proibir a venda do Corão e fechar mesquitas, num país com uma população de cerca de 5% de muçulmanos, de acordo com estimativas.

“Eu não vou trabalhar com um tal partido, com o Sr. Wilders, não em um governo. Nunca”, declarou Mark Rutte na segunda-feira durante o debate.

Mesmo que o PVV se torne a maior formação após a votação, o que é pouco provável, o deputado controverso provavelmente não será incluído no governo, uma vez que a maioria dos outros partidos também prometeram não cooperar com ele.

E num cenário político fragmentado, o próximo governo poderia ser composto por quatro ou cinco partidos, uma coalizão em teoria ainda mais frágil.

Desescalada

A contagem regressiva final foi lançada num clima de crise diplomática entre Haia e Ancara, após as autoridades holandesas proibirem ministros turcos de participar de comícios em apoio ao presidente Recep Tayyip Erdogan, em Roterdã.

Mais forte após este episódio, na opinião de analistas, o primeiro-ministro pede uma “desescalada” na crise com Ancara.

Geert Wilders, por sua vez, pediu ao governo no Twitter de aumentar ainda mais a pressão: “Expulsem o embaixador turco na Holanda e toda a sua equipe”.

“Há uma diferença entre tuítar do seu sofá e governar o país. Se dirigimos um país, devemos tomar medidas sensatas”, disse Mark Rutte, que saiu vencedor do duelo segundo os meios de comunicação holandeses.

Os partidos tradicionais, como o Apelo Democrata Cristão (CDA) ou os Democratas 66 (D66), poderão desempenhar um papel-chave em uma coalizão futura.