A eleição presidencial é só no próximo dia 2 de outubro, mas o cenário eleitoral, de acordo com as pesquisas mostra uma polarização muito forte entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual mandatário Jair Bolsonaro (PL) e uma grande dificuldade de um candidato da terceira via romper os 10%.

Pesquisa encomendada pelo site Poder 360 divulgada na última quarta-feira (2) mostra que Lula tem 41% das intenções de votos no primeiro turno, enquanto Bolsonaro tem 30%. Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos) tem 7% cada um. O governador de São Paulo João Doria (PSDB) tem 2% das intenções.   

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O cientista político Alberto Carlos Almeida analisa as pesquisas publicadas desde março do ano passado e viu uma mudança importante na intenção de voto do petista desde que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin o tornou elegível novamente, anulando as provas da Operação Lava Jato contra o ex-presidente. 

Para ele, com Lula no páreo, é muito difícil que os demais candidatos consigam se posicionar como nomes de oposição viável a Bolsonaro. 

“Em março de 2021 a soma dos outros candidatos estava em 40% e o que mudou foi o nome da pessoa que recebe voto de oposição: antes eram os demais candidatos que ocupavam essa faixa, agora esse votos foram para o Lula”, disse.

Pesquisas não preocupam o mercado

Um setor que sempre se manteve muito reticente à candidatura de Lula é o mercado financeiro. Durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, uma série de reformas como a trabalhista e a da previdência foram elaboradas e aprovadas por governos mais liberais na economia. 

Há um temor que um possível terceiro governo Lula faça o Brasil recuar em certos aspectos. Cabe lembrar da eleição de 2002 que, mesmo após o aceno ao mercado com a Carta aos Brasileiros, existia o chamado “risco Lula”, que fazia o dólar subir a cada pesquisa publicada.

O economista chefe do Banco Master, Paulo Gala, no entanto, observa que os oito anos de governo Lula fez com que o mercado estivesse mais tranquilo 20 anos depois e que as movimentações do petista ao centro, como a possível escolha de Geraldo Alckmin como vice, podem colaborar. 

“Se a gente olhar o que está acontecendo de fato, com o Lula muito na frente, é que isso não preocupa o mercado. O cenário é bem diferente do que foi em 2002”, explica. 

Um ponto que pode servir para acalmar os ânimos do mercado no ano da eleição é a aprovação da autonomia do Banco Central, que foi aprovada em fevereiro do ano passado e que vai impedir que o presidente que assumir em 2023 faça uma troca generalizada do comando da instituição. 

O economista também aponta que, de fato, há uma diferença de pensamento entre as equipes econômicas de Lula e Bolsonaro no sentido da reforma trabalhista, mas não acredita em uma revisão completa dela caso o petista vença as eleições. 

“Não vejo a discussão no PT sendo feita de maneira dogmática. Não é questão de voltar atrás no debate e transformar o motorista de Uber em funcionário com vínculo empregatício. Há uma possibilidade que se debata a reforma, mas não que volte tudo ao que era antes”, explicou. 

Concordância na questão fiscal

Uma preocupação que deve permear os debates econômicos nesse ano é o da responsabilidade fiscal. Criado para congelar os gastos reais do governo pelos próximos anos, o teto de gastos acabou sendo aprovado durante o governo Michel Temer como sendo a bóia de salvação do país.  

Acontece que com a pandemia e a piora econômica, até os quadros mais liberais, como o Ministro da Economia Paulo Guedes já estão de acordo que o mecanismo deverá ser modificado pelo próximo presidente. 

Gala aponta que as equipes de Lula, Bolsonaro, Moro e Ciro Gomes estão alinhadas com o fim do mecanismo, mas que todas elas demonstram uma preocupação na área fiscal.   

Cenário para Bolsonaro não é bom

O presidente Jair Bolsonaro há várias pesquisas não consegue deixar a faixa dos 30% de intenção de voto no primeiro turno. Se o número é suficiente para deixá-lo no segundo turno, não é para bater Lula no segundo. 

Para Almeida, Bolsonaro terá que trabalhar para que a sua taxa de rejeição caia e ele só conseguirá isso caso a economia melhore. De acordo com a última pesquisa do Poder 360, 53% dos entrevistados reprovam a sua gestão. 

Segundo Gala, não há espaço para uma grande melhora da economia que garanta um possível fôlego para a reeleição do presidente e nem mesmo os R$90,6 bilhões do Auxílio Brasil vão ser o suficiente para isso.  

“Tivemos dois anos muito ruins e o governo acaba pagando essa conta. Há uma expectativa de melhora para esse ano, mas o PIB vai crescer 0%. Com a inflação batendo 5% e o desemprego ainda na faixa dos 12%, são números muito ruins. O auxílio ajuda de alguma forma, mas o que vai acontecer nesse primeiro semestre na economia já está dado”, encerrou.