Os bielorrussos votam, neste domingo (9), em uma eleição presidencial que opõe o autoritário Alexander Lukashenko a uma jovem candidata inesperada que mobilizou multidões, apesar da repressão, com o presidente prometendo não “perder o controle” da situação.

A votação deste domingo, que termina às 20h00 (14h00 de Brasília), foi precedida por um voto antecipado, denunciado pela oposição como favorável à fraude. Às 12h00, as autoridades anunciaram uma participação de 50,3%.

“Ninguém vai permitir a perda de controle”, prometeu o presidente Lukashenko depois de depositar sua cédula na urna, afirmando que “não havia razão” para o país “mergulhar no caos”.

O governo bielorrusso redobrou seus esforços para conter a ascensão de Svetlana Tikhanovskaya, prendendo manifestantes e a chefe de sua sede de campanha no sábado, detendo brevemente uma aliada da opositora no mesmo dia e denunciando uma conspiração fomentada pela oposição e mercenários russos.

Mas Svetlana Tikhanovskaïa, uma professora de inglês de 37 anos, resistiu apesar do “medo” diário, disse ela à AFP na sexta-feira. De acordo com a imprensa russa e local, ela deixou seu apartamento no sábado por razões de segurança.

Neste domingo, partidários da opositora votavam com pulseiras brancas, em sinal de reconhecimento a pedido de Tikhanovskaïa, que os convidou a enviar fotos das suas cédulas para organizar uma contagem independente.

Em Minsk, as medidas de segurança foram reforçadas, controles policiais foram implementados e o tráfego restrito, enquanto veículos blindados e de militares eram vistos circulando.

– Militares armados, internet perturbada –

O acesso à internet também foi fortemente limitado, impossibilitando a utilização de determinadas redes sociais, serviços de mensagens e sites de consulta de informação próximos da oposição, mas também o site da comissão eleitoral.

Artiom, um programador de 33 anos, disse à AFP ter observado fraudes: “no meu colégio eleitoral há uma participação de quase 100% (…) Não sei como é possível”.

“Acho que as pessoas estão cansadas desse marasmo. Dessa ladainha sem fim de piadas na TV, de propaganda”, reclama Alexandre, um operário de 47 anos.

“Vamos acordar em um novo país!”, lançou Tikhonovskaya a seus apoiadores no sábado.

Ela afirma não ter ilusões quanto ao resultado, denunciando “fraudes vergonhosas”, principalmente porque o número de observadores independentes foi reduzido ao mínimo.

Vários países europeus pediram uma votação “livre e justa”.

Os resultados serão anunciados durante a noite ou segunda-feira.

Protestos contra o governo não estão descartados, se a oposição considerar a votação fraudulenta. Lukashenko deixou claro que não hesitaria em dispersá-los.

Questionado pela AFP em Minsk, Vadim, um engenheiro de 37 anos, prevê que “tudo irá mal, haverá um aperto de parafusos, um colapso econômico, sanções, um não reconhecimento das eleições por organizações internacionais”.

O procurador-geral Alexandre Koniuk, por sua vez, pediu aos eleitores que sejam “razoáveis” e não participem de manifestações não autorizadas.

Antes do surgimento surpresa de Tikhanovskaïa, Lukashenko, de 65 anos, eliminou seus principais concorrentes: dois deles estão presos, um terceiro está no exílio.

– Três mulheres –

Três outros candidatos estão concorrendo, mas nenhum conseguiu mobilizar o eleitorado.

Svetlana Tikhanovskaya substituiu seu marido, Sergei Tikhanovsky, um blogueiro preso em maio quando fazia campanha.

Descrita como “coitadinha” por Lukashenko, ela conseguiu reunir multidões, enquanto Belarus nunca teve uma oposição unida e estruturada.

Para isso, Tikhanovskaïa juntou forças com Veronika Tsepkalo, esposa de um opositor exilado, e Maria Kolesnikova, diretora de campanha de Viktor Babaryko, um ex-banqueiro preso quando queria se candidatar.

Se vencer, ela prometeu permanecer no poder apenas o tempo suficiente para libertar os “presos políticos”, organizar uma reforma constitucional e novas eleições.

Belarus não realiza uma votação considerada livre desde 1995. Em várias ocasiões, manifestações foram reprimidas à força e com pesadas penas de prisão.

Para esta eleição presidencial, Minsk não convidou observadores da OSCE, pela primeira vez desde 2001.