Pagar por um produto ou transferir dinheiro para alguém deve se tornar tão rápido e fácil quanto enviar uma foto ou mensagem pelo celular. Com a liberação do WhatsApp autorizada pelo Banco Central (BC) os usuários do aplicativo mais baixado nas lojas do Android e da Apple, presente em nove de cada 10 celulares no Brasil, poderão fazer transações de maneira mais simples. Com uma base de 235,4 milhões de celulares, o País já é o segundo maior usuário do popular sistema de mensagens controlado pelo Facebook, de Mark Zuckerberg. O que confere um volume muito maior que o de clientes de qualquer banco e dá a real noção da importância da medida.

Com a autorização, o Facebook Pay, sistema desenvolvido pela empresa que controla o WhatsApp, será um inicializador de operações. Ou seja, ele só dá o aviso para que a operação seja efetivada pela instituição financeira, que neste primeiro momento são o Banco do Brasil, Nubank, Sicredi, Woop, além da Visa e Mastercard. Mas em breve deve ganhar maior tração quando for incluído o PIX, sistema de pagamentos instantâneos do BC. Assim como o PIX, as operações pelo WhatsApp não serão cobradas, o que deve impulsionar ainda mais as transações digitais no País.

“O WhatsApp tem potencial para orquestrar um número gigantesco de operações, criando mais um trilho por onde passa o dinheiro no País”, disse o CEO da empresa de sistemas financeiros Matera, Carlos Netto. Segundo ele, como o sistema de mensagem é fácil, amigável e utilizado por muitos, o dinheiro deve começar a trilhar novos caminhos de forma mais fluida e consistente, tudo de maneira invisível para o usuário. O que exigirá cuidado com novos golpes.

Isso ajudará a consolidar a digitalização da indústria financeira iniciada pelo PIX e pelo open banking, democratizando os serviços bancários. A opinião é de Sergio Biagini, sócio da Deloitte. Uma pesquisa da consultoria encomendada pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) mostrou que os investimentos em tecnologia das instituições cresceram 48% de 2019 para 2020. Com isso, mesmo antes da pandemia as operações por sistemas móveis subiram 19% no mesmo período. Na pandemia, as transações de Pessoa Física nos canais digitais representaram 74%, tornando o Mobile Banking um canal chave.

MATURIDADE A nova alternativa de pagamento deve conviver com todas as existentes, na opinião do CEO da Matera, Carlos Netto. (Crédito:Divulgação)

Mesmo liberada pelo BC, a funcionalidade ainda não foi lançada oficialmente e o WhatsApp afirma “estar trabalhando para disponibilizar os pagamentos no Brasil assim que possível.” Para habilitar o serviço, o usuário terá cadastrar uma senha PIN, que será solicitada sempre que uma transação acontecer, como forma de proteger o dinheiro. Neste primeiro momento, apenas cartões de débito estarão habilitados para transferências comuns, enquanto os cartões de crédito estarão disponíveis para pagamentos a estabelecimentos com conta no WhatsApp Business.

NA PRESSÃO A transferência gratuita por mensagens é mais uma pressão para os bancos, reduzindo ainda mais as receitas, como ocorreu desde o lançamento do PIX. E isso deve se intensificar com a maior concorrência proporcionada pelo open banking. Por outro lado, o Facebook poderá monitorar essas transferências de dinheiro ao longo do tempo, dando à rede social a chance de oferecer serviços financeiros no futuro, como aconteceu na China com o WeChat.

Desde 2018, o Facebook começou a testar o WhatsApp Pay na Índia, seu maior mercado com mais de 200 milhões de usuários. E Zuckerberg ficou animado com os resultados. Tanto na Índia como no Brasil, suas maiores bases, o sistema de transferência de dinheiro precisou ser regulado pelos bancos centrais. “E deve levar um tempo para que a adoção aconteça, mas depois deve deslanchar, como ocorre com o PIX”, disse Carlos Netto. Para ele, todas as formas de pagamento devem conviver, uma vez que o Brasil é um mercado bastante maduro em pagamentos.

Com tanta conveniência quem ganha de novo é o e-commerce, que pode elevar a conversão de vendas com compras por impulso. “O WhatsApp vira opção fácil não só para recebimentos nas lojas virtuais, como ajuda na cobrança automatizada por bots. O que torna a plataforma completa”, disse Fabio Mazzo, executivo da Connectcom, especializada em serviços de tecnologia. E tudo isso sob o olhar arguto de Mark Zuckerberg.