O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi absolvido na última quarta-feira 5 do pedido de impeachment que enfrentava desde dezembro de 2019, quando a Câmara aprovou o encaminhamento do processo. Com maioria republicana no Senado, foram 54 votos a favor da absolvição e 36 contrários. Com essa vitória, e depois de um início atrapalhado dos democratas para eleição de seu candidato na corrida presidencial deste ano, o atual presidente ficou rindo à toa — e abriu caminho para a reeleição em novembro.

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A decisão do Senado, que já era aguardada, foi a cereja do bolo em uma semana bastante positiva para o presidente. Na terça-feira 4, ele fez o tradicional discurso anual no Congresso, onde enalteceu o próprio trabalho e usou o espaço como verdadeiro palanque eleitoral. Em tom agressivo, como é costume quando ele fala à nação, Trump afirmou que os tempos de declínio econômico terminaram. “Os dias daqueles que usavam o nosso país, aproveitavam-se dele, estando até desacreditado junto de outras nações, ficaram para trás”, afirmou. Na oportunidade não faltaram críticas à administração de Barack Obama (2009-2017), que não foi mencionado diretamente.

Pressão Popular: Manifestantes se reúnem no Congresso dos Estados Unidos para pedir o afastamento do presidente Donald Trump, que foi absolvido no Senanado.

“Trump faz o mesmo caminho que o levou à eleição. Polarizar e polemizar”, diz o especialista em política internacional, Carlos Caruso. Para ele, a fala de Trump ignorou, por exemplo, que boa parte dos avanços que ele colhe hoje foi plantado na gestão anterior.

“O Obama pegou um país que saía da crise de 2008 com um desemprego na casa dos 10,5% e entregou o cargo com o desemprego na faixa dos 4,5%. Trump, em cinco anos, reduziu para 3,5%”, afirma.

Nas palavras de Trump, caso as “as políticas econômicas falidas do governo anterior” não fossem revertidas, “o mundo agora não estava a ver esse grande êxito econômico”, que envolve criação de emprego, queda de impostos e luta “por acordos comerciais justos e recíprocos”. E foi além: “A nossa agenda é implacavelmente pró-Trabalhadores, pró-família, pró-crescimento e, sobretudo, pró-Estados Unidos.”

Trump ainda encontrou tempo para falar do comércio, um dos assuntos de maior atenção em toda administração do republicano. “Eu havia prometido aos cidadãos norte-americanos que iria impor taxas alfandegárias à China para resolver o roubo maciço de empregos. Nossa estratégia funcionou”. Depois de quase 18 meses de guerra comercial, Trump assinou em dezembro uma trégua parcial com Pequim.

O presidente norte-americano falou também da substituição do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), assinado com o México e o Canadá durante o governo Bill Clinton. “Muitos políticos vieram e foram com a promessa de mudar ou substituir o Nafta mas, no fim, não fizeram absolutamente nada. Eu cumpro as minhas promessas.”

TENSÃO COM PELOSI Antes de iniciar o discurso anual do Estado da Nação, Trump protagonizou o primeiro momento de tensão da noite ao não cumprimentar Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, deixando-a de mão estendida. Como resposta, após o fim do pronunciamento, a democrata rasgou uma cópia do discurso presidencial.

Pelo Twitter, Trump compartilhou uma série de críticas à postura de Nancy, que foi criticada também pela conta oficial da Casa Branca. No discurso do Estado da União do ano passado, Pelosi aplaudiu Trump com as mãos inclinadas, em um gesto que lembrava o movimento de apontar uma arma em direção a ele. A deputada é uma das principais rivais políticas de Trump. Foi ela quem utorizou a abertura do processo de impeachment contra o presidente, em setembro, pelas acusações de pressionar a Ucrânia para investigar a família do pré-candidato democrata Joe Biden.

Saia Justa: Depois de não ser cumprimentada por Trump, a democrata Nancy Pelosi, que abriu o processo de impeachmment contra ele na Câmara, rasgou a cópia do discurso proferido pelo presidente na terça feira 3, no Congresso dos EUA. (Crédito:Mandel Ngan / AFP)

Outro alvo de Trump no Twitter foram os pré-candidatos democratas, que na última terça-feira 3 realizaram a primeira fase da escolha do representante do partido na disputa presidencial. A votação aconteceu em Iowa e foi um verdadeiro fiasco. Após incertezas e atrasos na publicação dos resultados finais, não se tinha a informação sobre qual candidato havia ganhado. No final da noite, o pré-candidato Bernie Sanders a anunciou uma pequena vantagem com base em dados não oficiais e ainda parciais. Pequeno estado rural onde começa a temporada eleitoral nos EUA desde a década de 1970, Iowa é visto como um termômetro no demorado processo para determinar quem disputará a eleição em 3 de novembro. “Hoje marca o início do fim para Donald Trump”, disse o senador Sanders, de 78 anos, que em 2016 foi derrotado em Iowa por Hillary Clinton.

Pela internet, o diretor de campanha de Trump, Brad Parscale comentou o ocorrido: “O colapso do Partido Democrata. Eles não conseguem nem administrar um caucus [processo eleitoral que define candidatos por distritos] e querem comandar o governo. Não, obrigado”.