A foto acima, em que o banqueiro e fundador da Facito, Maurice Chang Neto, aparece jogando dinheiro para o alto, é apenas uma ilustração. Chang não é de jogar dinheiro fora. Apesar de estar lançando uma companhia destinada a financiar pequenas e médias empresas, tradicionalmente os tomadores de empréstimo mais arriscados do sistema financeiro, e de atuar na contramão do mercado, apostando na expansão de uma rede física em vez de centrar esforços na tecnologia, o empresário garante que terá lucro financiando o empreendedorismo brasileiro. “Cansei de ver empresas excelentes quebrarem por falta de recursos, mesmo tendo produtos bons e sendo dirigidas por empreendedores competentes e dedicados”, disse ele. Sua meta com a Facito, empresa que vai atuar como financiadora dessas companhias por meio de instrumentos tradicionais como descontos de duplicatas e antecipação de recebíveis, é suprir essa lacuna.

78 CURSOS Chang sabe do que fala. Há quase duas décadas, o banqueiro poderia ser encontrado em um lugar pouco frequentado por seus colegas: as calçadas da rua 25 de Março, maior e mais tradicional centro do comércio popular de São Paulo. Ali, o administrador de empresas com 78 cursos de especialização no Brasil e no exterior dedicava-se a vender meias. “Fui camelô mesmo, digo isso sem problemas”, afirmou.

A situação incomum deveu-se a uma desavença familiar. Seu pai, já falecido, trabalhava como coach de grandes empresas e bancos. “Ele tinha uma mentalidade muito fechada”, disse Chang. As diferenças resultaram em divergência, e o empresário, que havia trabalhado mais de uma década no negócio da família, viu-se subitamente sem emprego — e sem capital. A saída foi o comércio popular, que rendeu lições valiosas.

“Os bancos não sabem emprestar”, disse ele. “Oferecem dinheiro para empresários com problemas e depois gastam bilhões para conseguir receber esse dinheiro de volta.” Um exemplo, afirma o executivo, é a carência dos empréstimos. “O banco empresta para a pequena empresa e quer começar a receber 30 dias depois, mas o ciclo de negócios da companhia que tomou o crédito é de 90 dias”, disse ele. “Isso provoca um problema logo de saída, que só se agrava com o tempo.” Com isso em mente, sua abordagem para concorrer com as instituições financeiras é mais simples. “Vamos trabalhar unindo a Inteligência Artificial com a inteligência natural dos nossos executivos e representantes”, afirmou.

Para isso, a Facito vai investir na implantação de uma rede física de cerca de 250 pontos de venda, principalmente quiosques em shopping centers e locais de grande movimento. “Lá vamos ensinar nossos clientes a usar nosso aplicativo e também vamos fornecer orientação para a escolha dos produtos mais adequados à empresa”, disse ele. Para se contrapor ao que considera uma mentalidade engessada do sistema financeiro, o banqueiro vai apostar no desenvolvimento de produtos sob medida. “Ao padronizar os processos para cortar custos e ganhar eficiência, os grandes bancos acabam não atendendo as necessidades dos clientes.”

Para financiar seu projeto, Chang afirmou que terá ajuda de seus contatos no exterior, especialmente junto a investidores da Ásia. O banqueiro afirmou que não pretende, em um primeiro momento, captar recursos no mercado interno. “Até dezembro teremos integralizado US$ 300 milhões em recursos captados lá fora”, disse ele, que garante que a conta fecha com folga. “Os juros no Japão e na China são muito baixos, por isso a Selic brasileira é uma alternativa atrativa para os investidores desses países.”