Cem dólares era tudo o que Nana Baffour tinha quando deixou a família, aos 20 anos, para estudar economia em uma universidade americana. Nascido em Gana, na África Ocidental, ele trabalhou em uma galeria de arte para bancar os custos e concluir o curso. Em 1995, teve uma inspiração. “Decidi o que eu gostaria de fazer pelo resto da minha vida depois de ler um livro sobre o primeiro negro nos Estados Unidos a montar uma empresa de US$ 1 bilhão”, diz. Hoje ele é um dos maiores empreendedores do setor de tecnologia do mundo. Seu mantra: “Quero comprar empresas e administrá-las”.

Depois de alguns anos se dedicando ao mercado financeiro no banco Credit Suisse, a primeira aquisição veio em 2002 com a compra da americana Urban Technologies, a companhia que foi responsável por criar todo o ambiente tecnológico da America Online — mundialmente conhecida como AOL —, uma das pioneiras entre as empresas ponto com. O negócio, porém, não vingou. Com o que tinha de caixa ele fez uma nova aquisição, desta vez uma empresa de Call Center que cresceu e faturou US$ 3 milhões no primeiro ano de operação.

Os bons resultados fizeram pelo menos sete empresas de tecnologia entrarem no carrinho de compras. Mas não foi apenas a vontade de crescer no segmento que ajudou Baffour dar a volta por cima — o fator sorte também estava ao seu lado. Em 2004, o mercado de tecnologia se popularizava no mundo e foi a partir desse momento que tudo decolou.

As apostas e os sucessivos investimentos guiaram o empreendedor até o grupo brasileiro Cimcorp, em 2011. Baffour deixou os Estados Unidos, vendeu todas as companhias sob seu controle e decidiu se mudar para a capital paulista porque acreditava que a tecnologia seria o maior agente transformador das empresas. “Percebi que havia alto potencial no Brasil, com uma população que já consumia tecnologia, mas que ainda estava atrasada em relação a outros países”, diz. A visão de Baffour se concretizou. Depois de adquirir as empresas Getronics e Connectis, o empresário se prepara agora para uma nova — e bilionária — fase.

Uma das maiores prestadoras de serviços de tecnologia para empresas do País, a Resource IT, acaba de vender a sua operação para os grupos controlados por Baffour. Ele não abre o valor negociado, mas adianta que as receitas combinadas geram o faturamento robusto de US$ 1,55 bilhão – o equivalente a R$ 6 bilhões. A transação transformou o negócio em um grupo com atuação em 110 países, mais de 12 mil funcionários e colocou a empresa em um patamar ocupado por poucos nomes no mercado local, como as nacionais Stefanini e Totvs. “O serviço que nós vendemos evoluiu”, diz. “O nosso foco é ajudar as empresas no processo de transformação digital com uma solução completa, de ponta a ponta.”

A estratégia de compra faz sentido, de acordo com a avaliação de Ivair Rodrigues, diretor de pesquisas da consultoria IT Data. “É muito mais fácil conseguir vender um serviço integrado e completo do que apenas uma parte do trabalho”, diz. Segundo ele, o movimento está de acordo com a atual fase do Brasil no setor. “Apenas 1,7% do faturamento das empresas brasileiras vai para tecnologia, enquanto que essa taxa é duas vezes maior nos Estados Unidos e na Europa. Há muito espaço para crescimento.”

No que depender de Baffour, a entrada da Resource crava só mais uma etapa bem-sucedida no processo de aquisições. Ele diz que já está de olho em outras empresas de cloud e de aplicações, mas, por ora, o foco é alcançar uma receita de US$ 2 bilhões até o final de 2020. “Sou um homem do mundo e estou certo de que tenho muita coisa para fazer ainda”, afirma. Apetite e visão não faltam.