Poucos setores da economia brasileira têm sido tão afetados por novas tecnologias quanto o de TV a cabo. A maior causa da fuga de assinantes nem é o custo do serviço e sim a chegada de mais opções de canais de streaming. O segmento liderado por Netflix e Amazon Prime Video acaba de ser reforçado com o início das operações no País da americana Roku. A plataforma pretende rivalizar com o Chromecast (Google), o Amazon Fire TV Stick e a Apple TV. Com um programa operacional próprio — o Roku OS, desenvolvido especificamente para a TV — a estreante no Brasil oferece filmes, séries e conteúdos multimídia via internet. A principal diferença em relação aos concorrentes é que o Roku OS chega integrado a aparelhos de TV produzidos pela parceira AOC no Brasil, com preço inicial de R$ 1.199 (modelos de 32 polegadas).

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Já à venda em lojas do varejo on-line, a novidade permite acessar mais de 5 mil canais de streaming, incluindo Netflix, Globoplay, Dazn, Deezer e Spotify. “É um prazer levar a Roku ao Brasil, um dos maiores mercadores de streaming do mundo”, diz Anthony Wood, fundador e CEO da Roku.

A expansão do streaming no País, que tanto agrada a Wood, é um duro golpe para as companhias de TV a cabo. Segundo a Anatel, agência reguladora do setor, 1,5 milhão de assinantes encerraram seus planos em 2019. Ainda restam 15,9 milhões de clientes, mas a perspectiva desanima. A migração da TV paga para o streming é uma tendência mundial. Até o final de 2020, haverá mais clientes desse tipo de serviço do que assinantes de TV paga, segundo relatório da consultoria Ampere Analysis. Motivos não faltam. Taxas pelo uso de equipamentos, encargos e pacotes de canais são vistos como entraves para a manutenção do contrato com as operadoras. Enquanto isso, os serviços de streaming têm custo mais baixo e oferecem acesso imediato a milhares de dispositivos.

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Produções originais Rodrigo Furlan, sócio e diretor-executivo da Broders, produtora de conteúdo audiovisual voltada ao digital, entende que a ascensão do streaming está diretamente relacionada a hábitos de consumo. “Há uma geração que prefere conteúdo de massa mais linear e uma geração renovada, que consome on demand (sob demanda)”, diz. Esse telespectador gosta de assistir ao que quer, na hora que desejar, sem precisar procurar quando será reprisado. Furlan afirma ainda que outros fatores contribuem para a expansão do streaming. “O crescimento da internet, a ascensão do 5G no mundo, que em dois anos deve estar no Brasil. Mas pode-se dizer que o streaming mal chegou a todo o País, uma vez que em algumas regiões há dificuldade para a ampliação da rede”. Já sobre o futuro da TV paga: “Deve desaparecer daqui a muitos anos. Igual aos carros a combustão”.

Na disputa pela audiência, Netflix e a Globosat (por meio do Globoplay) oferecem produções próprias bem ao gosto de cinéfilos e maratonistas de séries. A companhia americana está na briga pelo cobiçado prêmio de melhor filme na cerimônia do Oscar, que será entregue dia 9 de fevereiro, em Los Angeles. O longa-metragem O Irlandês, dirigido por Martin Scorsese e com elenco recheado de estrelas (Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci) é uma produção original Netflix com chances de levar a estatueta, assim como Histórias de um Casamento, protagonizada por Scarlett Johansson, que este ano tem duas indicações ao Oscar: melhor atriz e melhor atriz coadjuvante.

A brasileira Globoplay tem investido no cada vez mais competitivo mercado de séries, em produções como Ilha de Ferro, estrelada por Cauã Reymond; Aruanas, com Leandra Leal, Camila Pitanga, Débora Falabella e Taís Araújo; e Shippados, com Tatá Werneck e Eduardo Sterblitch. Nesse cenário, a chegada da Roku até demorou.