Comprar em lojas virtuais já faz parte da rotina de boa parte dos brasileiros. Contudo, o calcanhar-de-Aquiles do negócio continua sendo a entrega do produto. E se não tiver ninguém em casa, como eu faço? Some-se a isso, o fato de existirem inúmeras regiões onde os Correios ou mesmo empresas de entregas simplesmente não entram, especialmente no Rio de Janeiro, por conta da violência ou da dificuldade de acesso. Um baita problema que, em linhas gerais, emperra o crescimento do comércio eletrônico no Brasil. Mas o que parece um desafio gigantesco é visto pelo empreendedor serial Marcio Artiaga, 49 anos, como uma oportunidade única de ganhar dinheiro. Aliás, muito dinheiro.

Sua aposta nessa área é a Clique Retire, empresa que possui como base um E-box, equipamento que reúne a praticidade das vending machines com o conceito da Caixa Postal, usada para guarda e retirada de correspondências. Para destravar o armário, basta acessar o código de barras enviado para o aplicativo. “A grande diferença é que as pessoas não se tornam donas do espaço, mas sim usuárias a cada compra”, explica o investidor. As máquinas começaram a ser instaladas na última semana, em diversos pontos do Rio de Janeiro.

O foco inicial são as estações de Metrô e das barcas, além da rede de lojas de conveniência dos postos de combustíveis da BR Distribuidora onde existam lojas BR Mania e os shopping populares. “A ideia é trabalharmos tanto com encomendas secas quanto com produtos que necessitam de refrigeração, como bebidas, medicamentos e alimentos.”

Os Correios e empresas de entregas não entram em algumas regiões, especialmente no Rio de Janeiro (Foto: Fernando Frazão/EBC)

A escolha destes dois locais surgiu a partir de pesquisas. No caso do metrô, que transporta cerca de um milhão de pessoas por dia, os números mostraram detalhes interessantes: 63,88% dos ouvidos tiveram experiências negativas com entregas em domicílio; 56,1% vivem em áreas com restrição de entrega e somente 4,32% nunca compraram on-line. “A barreira não é mais o medo de comprar on-line, mas sim a dificuldade de receber o produto”, destaca. “Com a Clique Retire, basta que o consumidor indique a máquina localizada em seu trajeto diário.”

Para colocar de pé o negócio, Marcio usou parte de suas reservas financeiras e se uniu a empreendedores locais e da China. As duas rodadas de investimentos, realizadas desde 2018, totalizaram R$ 58 milhões e a meta é fechar 2025 com o desembolso global de R$ 100 milhões. A maior fatia será usada na fabricação dos equipamentos, a partir de empresas terceirizadas e baseadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Hoje, as e-Box estão apenas na capital fluminense. Mas no que depender do apetite do empreendedor, a curva de crescimento do negócio se dará de forma exponencial, bem ao estilo chinês. “Vamos encerrar o ano com 100 unidades e atingir a marca de 300 e-Box no final do primeiro trimestre de 2020. Só então que começaremos a entrar em outros estados”, conta. O segundo da lista é São Paulo.

A capilaridade é importante num negócio no qual a escala faz toda a diferença. Porém, resta saber quem vai pagar a conta? Marcio diz que a ideia não é cobrar do usuário, ao menos no primeiro momento. O modelo do negócio inclui a venda de espaço publicitário nas laterais do equipamento, além da cobrança de taxa de serviço das empresas de logística e grandes redes de e-commerce. A Dafiti, gigante de vendas de roupas, calçados e acessórios, é uma que já aderiu ao sistema. De acordo com o estudo da Webshoppers, as vendas pela internet somaram R$ 133 bilhões no ano passado. Trata-se de um crescimento nominal, sem considerar a inflação do período, de 18% e nesta conta estão passagens áreas, tíquetes para shows e cinemas, além de venda e troca de produtos usados.

As máquinas nada mais são do que estações de logística, com a vantagem de o cliente poder escolher onde pretende retirar o produto comprado. A inspiração para criar a Clique Retire veio da observação do modelo chinês. Segundo o empreendedor, naquele país, existem 300 mil equipamentos do tipo, responsáveis pela entrega de 60 bilhões de pacotes, por ano. É do Dragão Asiático que vem também a tecnologia desenvolvida pela sócia Pakpobox, gigante do setor na Ásia. O grupo de controladores inclui ainda investidores locais com experiência em operação de máquinas do tipo, em tecnologia e logística.

A carreira empreendedora desse brasiliense radicado há 20 anos no Rio de Janeiro começou após uma temporada na Suíça, onde cursou administração na Business School Lausanne. O nascimento da internet comercial chamou-lhe a atenção e ele resolveu investir nessa área, quando retornou ao Brasil. Foi sócio-fundador da BSP – Business School São Paulo e da Digital Post/HiperStream, além de atuado como executivo na Xerox, na PrintSoft e na InPost.