Na quarta-feira 9, o americano John Rodgerson, CEO da Azul, participou de uma cerimônia de promoção de 14 copilotos a comandantes. Há uma década no Brasil e há 10 meses no controle da companhia aérea, foi a primeira vez que ele comandou o momento, muito especial e emocionante para os aviadores. “Todo mundo chora”, diz ele. “Afinal, isso só acontece uma vez na vida.” A celebração é um dos sinais do bom momento da empresa. A companhia está fazendo uma modernização de sua frota, com a compra de 63 aviões modelo A320neo, da Airbus, que substituirão os da Embraer em rotas mais longas e prometem economia de 30% por assento.

Essa eficiência acontece pelas novas aeronaves gastarem menos combustível e terem maior autonomia: 14 horas por dia, duas a mais do que os aviões mais antigos. Além disso, há duas semanas, a Azul anunciou a promoção de 800 pessoas e a contratação de mil novos funcionários neste ano. As posições serão para todas as áreas nos 98 aeroportos em que atua, e também para a sede administrativa em Barueri (SP) e para o atendimento e a manutenção em seus três hubs, em Campinas (SP), Belo Horizonte e Recife. Além disso, o plano é abrir 15 novas bases nos próximos cinco anos.

No dia seguinte à festa para os novos comandantes, a Azul teve outro motivo para celebrar. Na quinta-feira 10, a empresa anunciou um lucro líquido de R$ 211 milhões no primeiro trimestre de 2018, mais de 350% superior em relação ao mesmo período do ano passado. Terceira maior empresa do setor aéreo no País, ela ainda ampliou a receita líquida em 17,8%, para R$ 2,2 bilhões, e o índice de receita média por passageiro embarcado em 5%. A sua principal concorrente com ações em bolsa, a Gol, registrou queda de 6% no lucro do primeiro trimestre, para R$ 221 milhões. “Com a quantidade de destinos que opera, a Azul não sofre tanta concorrência e pode fazer o seu preço. A probabilidade de manter a margem é gigantesca”, diz Adeodato Volpi Netto, analista da Eleven Financial. “Quem vai pagar o aumento dos custos é o passageiro.” A tarifa média da companhia já subiu para R$ 376, no primeiro trimestre, um aumento de 19% em um ano.

O bom resultado da Azul acontece em um momento que o setor é pego por uma turbulência. A alta do preço do petróleo, que neste ano subiu 20%, atinge em cheio o custo de uma companhia aérea, que também é diretamente impactada pela valorização do dólar sobre o real. Esses dois acontecimentos estão ligados ao aumento das tensões no Oriente Médio, principalmente após o presidente americano, Donald Trump, retirar os EUA do acordo nuclear com o Irã. Em um mês, até o dia 10 de maio, as ações da Azul caíram 14,4%. A rival Gol perdeu mais, 29,7% no mesmo período. “É claro que prefiro que o combustível não estivesse subindo e que o dólar valesse R$ 3 e não R$ 3,60”, afirma Rodgerson. “Mas somos mais rentáveis agora do que quando o câmbio era de R$ 2. Hoje, o Brasil tem demanda.”

Nova frota: a companhia pretende já ter voando, até o fim deste ano, 20 aviões A320neo, da Aribus, dos 63 que deve adquirir (Crédito:Divulgação)

É justamente a demanda que faz o CEO da Azul questionar o comportamento dos investidores. Para o executivo, a empresa está sendo mal avaliada, principalmente em relação a alguns aspectos de sua estratégia. A frota da companhia deve superar as 120 aeronaves neste ano e é diversificada, com modelos da Airbus, da brasileira Embraer e da francesa ATR, fabricante de turbohélices. A Gol opera com 120 aviões, todos da Boeing, o que dá uma vantagem de padronização para fazer as manutenções. Atualmente, a Azul chega a mais de 100 cidades, que vão de pequenos aeroportos em Sorriso ou Sinop, no Mato Grosso, a Lisboa. Dois terços dos destinos são exclusivos.

A próxima novidade será a rota Campinas-Paris, a partir de julho. Atualmente, os destinos no exterior têm se concentrado na Flórida e em Lisboa, com as parcerias com a United Airlines e com a portuguesa TAP, adquirida pelo mesmo controlador da Azul, o empresário David Neeleman. A Azul informou, no fim de abril, que a United aumentou de 3,7% para 8% a sua fatia na empresa. “Pedem para voarmos para lugares mais sexies, como Nova York e Roma, mas precisamos aproveitar antes as nossas parcerias e locais que não são atendidos no Brasil”, diz Rodgers. “O interesse maior da Azul está nas cidades em que o PIB mais cresce, impulsionadas pelo agronegócio. Gosto delas porque são mais rentáveis.” A companhia tem participação de 18,3% do mercado doméstico, contra 34,1% da Gol e 33,1% da Latam.

Com essa estratégia de ser uma empresa regional, Rodgerson garante que será possível manter as metas de rentabilidade previstas para o ano. “Temos visto melhoras operacionais na Azul nos últimos trimestres, com as novas aeronaves e com as despesas caindo”, diz Rafael Passos, analista da Guide Investimentos. “Então, é muito provável que ela consiga cumprir a meta, mesmo com a pressão de custos.” A companhia pretende fechar o ano com uma margem operacional entre 11% e 13%. “O dólar e o petróleo podem subir mais ao longo do ano, mas temos diversas medidas que ainda podemos tomar para termos mais eficiência”, afirma ele.

Corte de gorduras não parece ser uma dificuldade para Rodgerson, que chegou ao Brasil depois de ganhar a confiança de Neeleman ao trabalhar em sua outra empresa, a americana Jet Blue, e ajudar na montagem do plano de negócios da Azul. Em apenas um semestre, ele eliminou 15 kg – isso aconteceu depois que posou para a sessão de fotos da DINHEIRO, que ilustra essa reportagem. Com dieta, paciência e disciplina, ele alcançou seu objetivo. É com essa mesma tranquilidade que o CEO vai manter a empresa ágil, mesmo engordando o número de funcionários para 12 mil em 2018.