Ouça um resumo da reportagem sobre o homem que transformou a Copa do Mundo em um fracasso econômico

 

Líder estudantil, ativista anti-apartheid, político reconhecido pela seriedade, gestor experiente na área esportiva, amigo de Nelson Mandela. Todos esses atributos levaram Danny Jordaan a ser nomeado chefe do comitê organizador da Copa do Mundo da África, em 2010. Nas últimas semanas, porém, a trajetória de sucesso não foi suficiente para evitar as críticas que Jordaan vem recebendo de forma contundente e que parecem reverberar de todos os lugares ? das autoridades locais, de observadores estrangeiros e da própria Fifa, a entidade máxima do futebol.
 

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Sob o comando de Jordaan, pouca coisa funcionou até agora. Os estádios não ficaram prontos no prazo correto. Prometidas obras de infraestrutura não foram realizadas. A rede hoteleira não se atualizou. Em recente visita à África do Sul, um grupo de arquitetos brasileiros voltou com a certeza de que o exemplo africano não deve ser seguido. ?Tivemos alguns problemas, mas asseguro que realizaremos um grande mundial?, disse Jordaan em entrevista concedida para um grupo de jornalistas sul-africanos.

Do ponto de vista econômico, a Copa deve ser um fiasco. Há quatro anos, o governo da África do Sul projetou um incremento de 4% do Produto Interno Bruto com o Mundial. Esse número está distante da realidade. Com otimismo, chegará a 0,5%, segundo estimativas do Ministério da Economia. Ou nem isso. Jordaan defende-se dizendo que desde 2007 a Copa gerou 130 mil postos de trabalho no país, principalmente na indústria da construção.

O problema é que, com a finalização das obras dos estádios, metade desse contingente está agora sem emprego. Estádios, aliás, que foram entregues com enorme atraso. O Soccer City, que vai receber a partida de abertura e a final, foi concluído há alguns dias, mas as obras de infraestrutura e de mobilidade urbana em torno da arena ainda não foram terminadas. Pior ainda: seu custo final foi de US$ 424 milhões, US$ 133 milhões acima do orçamento inicial previsto. Segundo a imprensa sul-africana, os atrasos foram planejados para alimentar a corrupção. Funciona assim: como a realização do evento se aproxima, a liberação de dinheiro é mais célere ? e portanto menos fiscalizada. 
 

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Prejuízo: Jordaan não cumpriu a promessa de gastar menos de US$ 300 milhões na construção do principal estádio do Mundial.
Arena estourou orçamento em US$ 133 milhões

 

Jordaan também fracassou numa questão vital: a capacidade de o Mundial atrair turistas. O aumento da tensão racial, que culminou recentemente no assassinato de um líder de extrema direita, afugentou estrangeiros. Segundo o próprio Jordaan, o almejado número de 450 mil visitantes não será mais possível.

Até agora, apenas 100 mil turistas do exterior compraram bilhetes para os jogos. Se o ritmo de vendas não aumentar, o Mundial terá estádios vazios em muitas partidas. Ainda há 600 mil dos 2,9 milhões de ingressos colocados à venda. Na semana passada, Jordaan recebeu mais um duro golpe. A empresa suíça Match Services, contratada pela Fifa para realizar o serviço de reservas de vagas em hotéis, simplesmente renunciou ao trabalho, sob a alegação de que a procura estava baixa demais.

Já há quem diga que a única saída para as empresas que pretendiam faturar com a Copa será fazer uma espécie de liquidação dos produtos e serviços oferecidos. A Emirates, patrocinadora oficial da Copa, já tomou a iniciativa: os voos ida e volta de Nova York a Johannesburgo estão mais baratos. Durante o Mundial, em vez de custarem os previstos US$ 3 mil, sairão por US$ 2 mil.

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