No final do século XVII, em pleno reinado do rei francês Luís XIV, a moda masculina chegava ao auge da sua exuberância, com vestes de tecido decorado, sapatos de laçarote e cabeleira armada. Ao longo do tempo, o visual foi perdendo a pompa até chegar à Revolução Industrial, no século XIX, e a um figurino cinza e sóbrio como as chaminés das fábricas.
 

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Visual em revista: Calças mais largas que o tradicional e paletós ajustados e acinturados 
são as novidades trazidas pela temporada, como no look de Alexandre Herchcovitch

 

O homem contemporâneo ainda vive sob a influência do uniforme dos grandes industriais de 200 anos atrás. Não é à toa que o conjunto formado por terno, camisa e gravata predomina na vida executiva. Mas a moda masculina está mudando. Pelo menos é o que aposta a nova geração de estilistas que trabalha na paralela das marcas comerciais para tentar deixar o figurino dos homens mais condizente com os novos tempos.

Eles fazem uma moda mais conceitual, em que ousar é permitido. “É mentira que o homem brasileiro não quer inovação. Ele não só quer como está em busca de sua identidade”, diz o estilista mineiro João Pimenta, autor de um dos desfiles mais comentados do São Paulo Fashion Week, apresentado no mês passado.
 

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Para o estilista e professor Mario Queiroz, o momento é de exposição 
da virilidade, com roupas que não escondem as formas masculinas

 

De acordo com Pimenta, homens de outros países, como França e Itália, conseguiram encontrar uma linguagem de moda que os  identifica. “Mas o brasileiro ainda não encontrou a sua. Ainda somos uma mistura de referências.”

Essa mistura, porém, não se traduz em novas ideias para a maioria das marcas de roupa masculina. Em geral, o vestuário para os homens pode ser classificado em três estilos: formal, casual e esportivo. E, de vitrine em vitrine, o que se vê são peças quase sempre iguais. “É preciso propor coisas novas”, afirma Pimenta.
 

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Calças mais largas e curtas e blazers certos no corpo são 
a proposta da grife masculina V.Rom, de Igor de Barros

O mercado internacional, por exemplo, está se mexendo. Italiano até o último fio de cabeço branco, o estilista Giorgio Armani é um dos que acreditam que a moda masculina vive novos tempos. Este símbolo de moda executiva elegante apresentou um desfile de formas diferenciadas, no encerramento da semana de moda masculina de Milão, no último dia 22.

No lugar de ternos com corte reto e ajustado, ele mostrou calças mais largas e paletó justo, compondo um conjunto que muda o desenho da roupa masculina. O estilista mostrou blazers no estilo “jaquetão” que de tão justos têm caimento acinturado e decote profundo. Já as calças descem largas pelas pernas, no estilo pantalona. 

Tudo isso é uma proposta ainda no campo das ideias, que chega suavizada ao guarda-roupa do dia a dia, mas já encontra eco no trabalho de outro estilista de sucesso atualmente, o paulistano Alexandre Herchcovitch. As calças de sua coleção de verão 2010/2011 são mais amplas que os paletós, deixando sobrar um volume incomum para a roupa dos homens. “Eles são mais abertos às novas propostas e proporções. Houve um relaxamento em normas e regras para se vestir”, opina Herchcovitch.

A opinião é compartilhada por Igor de Barros, designer da grife masculina V.Rom, de São Paulo. Para a coleção de verão, Barros propõe calças que começam mais largas nos quadris e terminam mais curtas que as tradicionais. Para seguir a tendência do momento, a parte de cima da roupa é bem mais ajustada.

“O homem de agora sabe que pode se embelezar sem abrir mão da masculinidade”, comenta Barros. O estilista cita como exemplo uma maior abertura de seus clientes para as calças estampadas e tênis supercoloridos. Segundo Barros, hoje é mais fácil vê-los usando acessórios como lenços, chapéus e cintos com apelo de moda. “Eles estão indo além do cinto preto e marrom.”

Para Mario Queiroz, estilista, professor e autor do livro “O Herói Desmascarado” (ed. Estação das Letras), sobre moda masculina, o consumidor está mais eclético do que nunca. E para agradá-lo é preciso derrubar certos preconceitos, entre eles o de que homem não gosta de expor o corpo.

Na visão de Queiroz, a realidade é outra: o momento é de exposição da virilidade. “Isso pode ser notado no maior número de homens que não têm medo de mostrar os pelos do corpo e usam camisetas com decotes, barbas e bigodes”, opina Queiroz. E com a virilidade assegurada, é hora de usar e abusar da moda.

Períodos marcantes

A linha do tempo do vestuário para homens

 

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Final do Séc. XVII: Visual mais rebuscado, como o do rei da França Luís XIV

 

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Século XIX: O homem da Revolução Industrial passa a adotar um figurino sóbrio e cinzento

 

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Anos 1950/60: O terno usado nesse período é reto e estreito, com a gravata fininha

 

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Anos 80: O traje masculino fica mais poderoso, com ombreiras largas e tecidos encerados