Fintechs? Que nada. Num levantamento feito pela Associação Brasileira de Startups, em parceria com o Centro de Inovação para a Educação Brasileira, o segmento que lidera em quantidade é o da educação, as chamadas edtechs. Elas representam 7,8% do total de startups. O mapeamento mostrou a presença de edtechs em 25 dos 26 estados brasileiros. “São 364 startups de educação mapeadas no Brasil, acredito que esse número possa chegar a 600 no total”, diz Thiago Chaer, CEO da Future Education, aceleradora de startups com sede no Brasil e escritório no Canadá. “Existe um movimento no mundo de repensar a educação, de repensar o papel dos professores e dos pais, é aí que surgem oportunidades para essas edtechs.”

O crescimento das edtechs é fenômeno mundial. Mas o Brasil ainda ocupa um lugar modesto nesse ranking. Em julho de 2018 a Navitas Venture, empresa australiana pioneira no setor de startups de educação, fez uma pesquisa em 21 cidades do planeta. São Paulo, com 62 edtechs, ficou apenas no 18º lugar. Pequim, com 3.000 edtechs, lidera a lista. Outra cidade chinesa, Xangai, aparece em segundo lugar, ao lado de Nova York, com 1.000 edtechs – para chegar perto do topo São Paulo precisaria multiplicar por quase 50 suas edtechs. Para Chaer, a boa notícia é que o mercado está aquecido e vai continuar assim, inclusive com cada vez mais participação de fundos de investimentos.

Thiago Chaer, da Future: procurado por embaixadas que representam empresas interessadas na educação básica (Crédito:Divulgação)

Apesar de todo o otimismo com as edtechs, ainda existem barreiras para um crescimento maior. Como 80% das escolas de ensino básico são públicas, a aquisição de tecnologia ainda é muito baixa por causa da burocratização e da pouca estrutura. Junte-se a isso a questão comportamental dos professores, que precisam se adaptar às novas tecnologias. Mudar essa postura será decisivo, diz Pedro Filizzola, CM

 

 

 

 

O da Samba Tech, que licencia a tecnologia de vídeos educacionais para universidades e cursos preparatórios. “É preciso uma mudança de mentalidade, mas temos visto com bons olhos a flexibilização do governo em relação ao modelo de ensino a distância”, diz Filizzola. “O que a gente tem percebido é a preferência pelo modelo híbrido, complementando o ensino presencial, que tem gerado maior engajamento dos alunos.”

Quem consegue furar o bloqueio e entrar na educação pública consegue bons resultados. É o caso da startup Mira Educação, que criou o aplicativo Mira Aula para ajudar a combater a evasão de alunos. As ferramentas são oferecidas gratuitamente para as escolas. Não há necessidade de se usar wifi ou 3G. Com apenas alguns toques, o professor registra a presença ou ausência e as mensagens são enviadas para os pais, que também recebem o conteúdo das aulas e as avaliações. Recentemente, a edtech entrou no ranking das empresas mais amadas do Brasil, que foi criado pelo site Love Mondays, em 2013. Foi a primeira vez que uma startup que cria ferramentas para a educação pública apareceu no ranking. Exemplos assim não passam mais sem chamar
a atenção.

Os chineses, por exemplo, já estão colocando dinheiro no Brasil. Desde o ano passado, a Microduono, edtech com projetos de eletrônica e de robótica, trabalha com 30 instituições de educação. A meta é que até o fim deste ano ela esteja em mais de 500, tornando o país o seu terceiro mercado em cinco anos. Por isso se tornou comum funcionários de consulados e embaixadas buscarem informações para empresas de seus países investirem no Brasil. “Nós já fomos procurados pelas embaixadas de Austrália e Dinamarca”, afirma Chaer. “O País é uma forte opção para eles, principalmente na educação básica, um grande mercado.” Sua empresa, a Future, já ajudou a criar 32 edtechs em três anos, captando R$ 3,1 milhões e atingindo 50 mil alunos, mais de 1.500 professores e 600 escolas. Um caminho que ainda parece longo, mas altamente promissor.


Dos games para a sala de aula, a reinvenção da Sambatech

Divulgação

A Samba Tech nasceu criando jogos para celular, em 2004, e foi a pioneira na distribuição de vídeos na América Latina. Nos últimos dois anos, a startup percebeu que grupos educacionais estavam procurando por segurança e qualidade,
e começou a investir nesse setor. Hoje, metade dos clientes já vem dessa área, casos da PUC Minas, Kroton e Estácio de Sá. O portfólio da empresa, que era de 200 clientes, superou os 300.

“A revolução do ensino começa pelo vídeo”, afirma Pedro Filizzola, CMO da Sambatech. “A gente oferece soluções inovadoras de segurança para que não haja pirataria, e qualidade para que a experiência do aluno seja a melhor possível.” Mas isso, o próprio Filizzola diz, não garantia a atenção. “Claro que o conteúdo, que é propriedade intelectual das instituições, precisa ser atraente para fazer um bom casamento com a tecnologia e reter a atenção do aluno.”

O empresário calcula que nos próximos 5 anos, 50% dos cursos educacionais no país serão feitos a distância. Hoje o ensino superior, por exemplo, já alcança mais de 1 milhão de alunos. “As matrículas para os cursos presenciais estão caindo e há um crescimento nos cursos a distância. Há casos como o de cursos preparatórios para o Enem em que o ensino 100% on-line funciona muito bem”, afirma. “Mas em cursos universitários, o sentimento de pertencer e de ter contato com outras pessoas é fundamental. Nesse caso, a tecnologia é usada para complementar o ensino presencial.” (MT)


Reconhecimento facial e robôs na sala de aula

A USP inovou no vestibular deste ano e utilizou a biometria facial no processo seletivo da Fuvest para aumentar o controle de segurança do exame e agilizar a identificação dos vestibulandos. A tecnologia substituiu a coleta da impressão digital feita em papel. O sistema foi criado por um time de profissionais com mais de 15 anos de experiência em biometrias que desenvolveu, com a equipe técnica da Fuvest, um aplicativo que compara as faces dos candidatos presentes com as fotos das matrículas. A Full Face, startup brasileira especializada em biometria facial, percebeu que havia essa demanda no setor educacional e começou a atuar no segmento. A empresa desenvolveu um algoritmo facial que transforma a imagem original em números, o que traz mais segurança e privacidade. No sistema, não existe a foto da pessoa, mas um registro com 16 mil dígitos. “O processo fica mais rápido, porque ocupa menos espaço”, diz Danny Kabiljo, CEO e fundador da Full Face. “Trabalhamos com a autenticação de alunos em provas online, presença em salas de aula e controle de acesso pelas catracas.”

CANTA, DANÇA, CONVERSA Assim como o reconhecimento facial, os robôs também têm invadido as salas de aula. A Somai é a representante oficial no Brasil do robô NAO, criado por franceses. No Recife, a máquina de 57cm interage com 40 mil alunos e uma em cada dez escolas municipais já usa o robozinho, que surgiu no ensino fundamental e hoje é utilizado no ensino médio. O NAO é uma máquina que dança, canta, anda e conversa. Equipado com câmeras, microfones, autofalantes e vários sensores, entre eles sensores táteis, de pressão e sonares. Tudo isso permite que reconheça face, voz e expresse emoções, fazendo com que a programação da sua capacidade de interação seja contínua. Os robozinhos também estão sendo utilizados para ajudar crianças com déficit de atenção, síndrome de down, autismo e para quem tem Alzheimer. Matar aula será cada vez menos divertido. (MT)