Os números do grupo francês Edenred são de impressionar. Um dos líderes mundiais no segmento de serviços pré-pagos – ao lado da também francesa Sodexo –, está presente em 42 países, possui 47 milhões de usuários e fatura anualmente o equivalente a R$ 5,9 bilhões de reais. Aqui no Brasil, no entanto, é conhecida por ser proprietária da Ticket Serviços, a popular marca que desde 1976 estampa os cartões com benefícios a trabalhadores em áreas como refeições, compras, transporte e cultura. Agora, no que depender da estratégia do grupo, seu nome chegará também a outros mercados.

O setor de benefícios responde hoje por cerca de 65% da receita da Edenred. É uma área para lá de atrativa: estimativas apontam que ela movimenta R$ 150 bilhões por ano no país. Apesar das boas perspectivas, o momento atual é de freio de mão puxado. Trata-se de um setor “muito atrelado ao desempenho da economia”, segundo Jessica Srour, diretora executiva da Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT). São necessários novos empregos formais para gerar novos beneficiários e o Brasil não tem sido exatamente uma estrela nisso. Em 2010, por exemplo, foram criados 2,5 milhões de postos de trabalho; já no ano passado, esse número ficou abaixo dos 530 mil.

Para fazer frente ao esfriamento da economia, a Edenred aposta no aquecimento dos motores. Mais propriamente, na gestão de frotas de veículos e de fretes de carga, segmentos onde atua por meio das subsidiárias Ticket Log e Repom. No mundo todo, essas operações geram ao grupo números como o gerenciamento de 7 bilhões de litros de combustível e parcerias com 100 mil postos de gasolina. Por aqui, no entanto, é um setor pouco formalizado – e com movimentação anual na casa dos R$ 200 bilhões. “É uma área com potencial enorme e que só nos últimos anos começou a se profissionalizar”, diz Gilles Coccoli, diretor-executivo para as Américas da Edenred.

Um dos alvos de Coccoli está no gerenciamento de frotas corporativas de veículos. Hoje, os clientes da Edenred já podem usar uma série de ferramentas para controlar via telemetria os gastos com combustíveis, manutenção, pedágios, peças e até pneus – tudo disponível via celular. O próximo passo é utilizar inteligência artificial. Os algoritmos estão sendo aplicados em atendimento aos clientes – eliminando os call centers – e na análise de crédito, diminuindo a inadimplência. Agora, a ideia é aproveitar a enorme quantidade de dados para novas utilizações. Prever quando haverá desgaste dos equipamentos e antecipar a chegada de problemas mecânicos, por exemplo. Um dado que vale ouro, não só para os clientes como também para ser negociado com montadoras. Como se costuma dizer, os dados são o novo petróleo.

TINDER DE CAMINHÃO A Edenred também investe na gestão da oferta de fretes entre as empresas e os caminhoneiros independentes. Na maior parte do Brasil, essa comunicação é feita com bilhetes de papel espalhados em postos de gasolina. Para mudar esse cenário, foi lançado, três meses atrás, o Freto, um marketplace digital que funciona como uma espécie de Tinder. De um lado, o embarcador cadastra informações sobre o frete. De outro, o transportador consulta as cargas e, caso se interesse, sinaliza com um clique. Feito o “match”, é realizada a contratação – tudo em cerca de um minuto. O Freto já realizou mais de 100 mil transações e possui 20 mil transportadores cadastrados.

Outra iniciativa é o Clube da Estrada. São espaços instalados em vários postos de gasolina do País. Até o final do ano serão 20 unidades. O local oferece uma série de serviços para o associado: descanso, corte de cabelo, cópia e impressão de documentos, internet, microondas e geladeira, jogos, treinamento e, se necessário, uma pequena enfermaria.O objetivo do Clube é fidelizar o cliente, estabelecer uma ligação da marca com os transportadores e ganhar espaço entre as pequenas e médias empresas do setor. “São essas companhias que concentram o grosso da movimentação financeira”, diz Coccoli. Ele garante que os novos investimentos não vão ficar restritos a essa área. Pagamentos e serviços de incentivo, premiações e redes de vantagens podem ser os próximos a entrar no centro da estratégia. “Não estamos no Brasil há mais de 40 anos para ficarmos apenas em duas áreas”, garante o executivo.