O tom das expectativas sobre a retomada econômica foi dado na semana passada durante seminário com a participação do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Disse a autoridade monetária que a inflação brasileira, o bicho-papão que nas últimas décadas corroeu riquezas nacionais, caminha para uma taxa de 3% ao ano. Ou seja: bem abaixo de qualquer previsão mais otimista e semelhante à de países desenvolvidos. Foi o que bastou para o mercado entrar em polvorosa. Bolsas não param de subir desde o início do ano, atingindo picos recordes.

A previsão de inflação inferior ao centro da meta (que é de 4,5%) ainda em 2017 ganhou corpo entre consultorias e instituições financeiras. A maioria delas diz que o ritmo de acomodação dos preços e de volta à normalidade financeira está avançando mais rápido do que se imaginava. O pensamento inicial era de que luz no final do túnel só surgiria em meados do ano, com crescimento efetivo do PIB a partir do segundo semestre. Os cálculos estão sendo refeitos. Contribuiu para isso o índice de aumento da produção industrial que cravou resultado de 2,3% positivos em dezembro último. Nove de onze setores tiveram alta.

A reação ainda é lenta, mas o governo pretende incrementá-la com o anúncio de mais medidas alvissareiras no campo da oferta de crédito. Somadas à queda dos juros e à estabilização do câmbio estão dadas, segundo analistas, as condições para uma recuperação de fôlego e sustentável. Indicadores de confiança, que medem o humor dos empresários, apontam para um razoável otimismo. Em boa medida, é possível verificar que a maioria dos empreendedores acredita que o País bateu no fundo do poço e daqui para frente deve subir. Parar de encolher já é, por si só, uma grande notícia. A recessão vinha castigando há anos a produção nacional. Os primeiros indicadores conhecidos relativos a janeiro reforçam a impressão de reversão verificada já em dezembro.

Com reflexos que poderão ser notados, mais adiante, nas taxas de emprego e nível dos salários. Normalmente, esses são os últimos a reagirem. No acumulado do ano passado, um universo de mais de 12 milhões de trabalhadores ficou desempregado. Quem garantiu vaga sofreu com a perda real de salário e reajustes abaixo da inflação. O temor e a insegurança de ser mandado embora a qualquer momento também geraram um processo de acentuada queda do consumo, comprometendo toda a cadeia. Os anos da era Dilma ficaram marcados por esse ciclo perverso que, aos poucos, está virando passado. Ainda nos primórdios de 2017, já dá mesmo para sentir a tal volta da economia à normalidade.

(Nota publicada na Edição 1004 da revista Dinheiro)