A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 26, retomou uma ideia já presente em comunicações recentes da instituição: a de que a economia brasileira segue operando com “alto nível de ociosidade dos fatores de produção”.

Este alto nível de ociosidade, conforme o BC, está refletido “nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego”.

Na semana passada, o Copom manteve a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano, pela oitava vez consecutiva.

Efeitos de choques

Na ata, os membros do colegiado avaliaram que os efeitos dos choques que atingiram a atividade econômica em 2018 persistem, mesmo depois de cessados os impactos diretos.

Entre os choques, o BC cita a greve dos caminhoneiros em maio do ano passado, a piora do ambiente externo para as economias de países emergentes a partir do segundo trimestre e a elevada incerteza sobre o rumo da política econômica nos próximos anos.

“Esses fatores produziram impactos sobre a economia e aperto relevante das condições financeiras, cujos efeitos sobre a atividade econômica persistem mesmo após cessados seus impactos diretos”, registrou a ata. “Os membros do Copom avaliam que esses choques devem ter reduzido sensivelmente o crescimento que a economia brasileira teria vivenciado na sua ausência.”

Para os membros do colegiado, uma aceleração do ritmo de retomada da economia “para patamares mais robustos dependerá da diminuição das incertezas em relação à aprovação e implementação das reformas – notadamente as de natureza fiscal – e ajustes de que a economia brasileira necessita”. Na prática, neste e em outros trechos da ata, o BC dá peso ao andamento das reformas como fator para aceleração da atividade econômica.

Ao mesmo tempo, a instituição voltou a destacar a importância de “outras iniciativas que visam ao aumento de produtividade, ganhos de eficiência, maior flexibilidade da economia e melhoria do ambiente de negócios”. “Esses esforços são fundamentais para a retomada da atividade econômica e da trajetória de desenvolvimento da economia brasileira”, acrescentou o Copom, na ata.

Federal Reserve

O Copom avaliou, por meio da ata, que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) passou a emitir sinais de que pretende aguardar a resolução da incerteza em torno dos possíveis cenários para a economia dos Estados Unidos.

Esta percepção vem ganhando espaço também no mercado financeiro desde a quarta-feira passada, quando o Fed passou sinalizações de que não deve elevar os juros este ano.

Na ata de terça, o BC voltou a registrar que existe uma contraposição entre diferentes cenários para a economia americana: o primeiro de “desaceleração relevante” e o segundo de “continuidade do vigor” visto nos últimos anos. “Esses dois cenários têm implicações opostas para o rumo da política monetária do Fed, que passou a emitir sinais de que pretende aguardar a resolução dessa incerteza ao longo do tempo”, avaliaram os membros do Copom.

Neste contexto, a instituição também registrou, na ata, que os riscos associados ao processo de alta de juros em algumas economias avançadas recuaram desde o encontro de fevereiro do colegiado.

Ao mesmo tempo, os membros do Copom avaliaram que houve uma intensificação dos riscos de desaceleração da economia global. Pela primeira vez, o BC citou na ata a Europa, que “dá sinais de desaceleração econômica relevante e fatores indutores de incerteza podem contribuir para um crescimento global ainda menor”.

Como vem ocorrendo em suas comunicações, apesar de citar riscos relacionados ao cenário internacional, o BC destacou “a capacidade que a economia brasileira apresenta de absorver revés no cenário internacional, devido ao seu balanço de pagamentos robusto, à ancoragem das expectativas de inflação e à perspectiva de recuperação econômica”.