O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na zona do euro registrou desaceleração no primeiro trimestre, em meio a uma forte pressão inflacionária, que continua em um nível recorde, em um cenário marcado pela guerra na Ucrânia.

De acordo com a agência europeia de estatísticas Eurostat, o PIB de Eurozona registrou crescimento de 0,2% no primeiro trimestre de 2022, contra um avanço de 0,3% nos últimos três meses de 2021.

Ao mesmo tempo, a inflação em abril ficou em 7,5%, o nível mais elevado desde 1997 – início da série histórica -, um índice que já havia sido alcançado em março na primeira estimativa, mas que posteriormente a Eurostat reajustou para 7,4%.

Considerando os últimos 12 meses, com três trimestres consecutivos em território positivo, o aumento do PIB na Eurozona é de 5%, enquanto para o conjunto da UE alcança 5,2%, na comparação com o primeiro trimestre de 2021.

Entre as principais economias da zona do euro, Espanha e Alemanha tiveram crescimento de 0,3% e 0,2%, respetivamente, nos três primeiros meses do ano.

Enquanto isso, a França registrou estagnação (0,0%) e a Itália um leve retrocesso (-0,2%).

Portugal, com um crescimento sólido de 2,6%, e a República Tcheca, com um aumento do PIB de 2,5%, aparecem como os melhores desempenhos no primeiro trimestre de 2022.

– Inflação recorde –

A inflação não dá trégua e permanece elevada, muito acima da meta do Banco Central Europeu (BCE), que deseja um índice de preços “próximo, mas inferior a 2%”.

O nível da inflação bateu recordes a cada mês desde novembro do ano passado.

Como nos meses anteriores, os preços da energia representam o principal fator para a inflação elevada. O elemento foi observado no fim do ano passado e teve sua gravidade consolidada com a guerra na Ucrânia.

De acordo com as estimativas da Eurostat, a energia registrou em abril uma alta de 38% em ritmo anual – em março o avanço foi de 44,4%.

O setor de alimentos, bebidas alcoólicas e tabaco teve alta de 6,4% em abril, enquanto os bens industriais não vinculados à energia apresentaram aumento de 3,8%. No segmento de serviços, a alta foi de 3,3%.

– Alerta –

A combinação de crescimento baixo do PIB e inflação elevada provocaram luzes de alerta entre consultorias e analistas.

Andrew Kenningham, economista chefe para a Europa na consultoria Capital Economics, advertiu que a mistura explosiva dos dois elementos pode levar a uma retração no segundo trimestre deste ano.

Para o analista, o resultado magro do PIB da zona do euro no primeiro trimestre “evitará uma recessão técnica pelo menos no primeiro semestre do ano”.

“O aumento da inflação, no entanto, e as consequências da guerra da Ucrânia significam que é provável que o PIB registre contração no segundo trimestre, inclusive no momento em que o BCE se prepara para aumentar as taxas de juros”.

Bert Colijn, analista do banco ING, destacou que “o aumento de 0,2% do PIB mascara a deterioração das circunstâncias econômicas. E a inflação segue a tendência de alta”.

“Acreditamos que a economia terá uma contração no segundo trimestre”, resume.