Em 2021, os produtores de mel orgânico da região de Simplício Mendes, no sertão do Piauí, venderam cerca de 280 toneladas do produto em baldes. Considerado premium tinha como destino, além do Brasil, países como os Estados Unidos e a Itália, entre outros. Isso ajudou a colocar o Piauí no posto de segundo maior exportador de mel in natura do País, responsável por mais de 30% de todo o mel enviado ao exterior no último ano, conforme estatísticas do Ministério da Agricultura. E mesmo sendo um produto de alta qualidade o escoamento da produção a granel não era suficiente para gerar renda para as famílias da região, o que acabava desestimulando os apicultores locais.

Há um mês, no entanto, as coisas começaram a mudar. Depois de um acordo entre a Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião da Simplício Mendes (Comapi) com a Polvo Lab os produtores passaram, pela primeira vez, a envasar o mel em potes de 200 gramas, que aos poucos estão chegando às prateleiras da rede de supermercado St Marché, em São Paulo, por cerca de R$ 30. Mais do que um produto diferenciado, o Mel Mesmo é fruto de um projeto maior que vai além de simplesmente conectar produtores ao mercado consumidor.

“Ao vender fracionado conseguimos uma diferença de até 30% no preço do produto, e no final da safra isso vai se refletir no bolso do produtor”, disse o diretor-presidente da Comapi, Felipe Joaquim Sousa. A mudança deve afetar os quase 470 cooperados em Simplício Mendes, podendo impactar até 1 mil famílias na região, onde o mel representa uma das bases econômicas para dez municípios. A expectativa é que a produção possa chegar a 400 toneladas neste ano.

VIRANDO O JOGO Inconformadas com o avanço da pobreza, empresárias Gabriella Marques e Ana Maria Diniz criam startup que ajuda apicultores a valorizar produção. (Crédito:Divulgação)

A estratégia de fracionamento e desenvolvimento de uma marca para o produto é apenas uma parte do projeto da Polvo Lab. Criada em 2021 pelas empresárias Gabriella Marques e Ana Maria Diniz, a startup tem foco na economia criativa, selecionando projetos promissores para ganhar escala e conquistar mercados. Para isso, o caminho é sempre fortalecer as cooperativas, ajudando-as a se estruturar economicamente para que possam sustentar os produtores com a garantia da compra de seus produtos e revenda a preços mais competitivos. “Transformamos iniciativas sociais em negócios rentáveis, sustentáveis e longevos. Além de criar oportunidades para que negócios já estabelecidos possam inserir o impacto social em sua proposta de valor”, afirmou Gabriella. Com isso, a Polvo Lab pretende transformar a vida de 1 milhão de brasileiros e brasileiras até o fim de 2023. “Não vamos fazer filantropia, vamos ganhar na venda dos produtos como qualquer empresa normal, que visa lucro. Porém, sem esquecer da sustentabilidade e do impacto social”, disse Gabriella.

POBREZA Filha do empresário Abílio Diniz e fundadora do Instituto Península, Ana Maria Diniz afirma que o Polvo Lab surgiu de um incômodo com a crescente pobreza no Brasil, que leva milhões a depender de algum programa assistencial. “Por outro lado, o País possui uma riqueza sem tamanho em produtos que podem chegar ao mercado mais valorizados”, disse Ana Maria. “Por que não ser o vetor para o desenvolvimento dessas pessoas e colocá-las de volta no jogo?”

O mel é o primeiro desses produtos a chegar às gôndolas de um supermercado. Agora a Polvo Lab já seleciona laticínios de leite de cabra no interior da Bahia para produção de iogurte e outros produtos lácteos com menor teor de lactose. Avalia ainda derivados de cacau e piscicultura. Desde que começou o mapeamento, em julho de 2021, a empresa busca itens sempre com apelo saudável em cadeias produtivas que podem ser mais sustentáveis. Gabriella diz que o Brasil é muito rico, com muitos biomas. “Só precisa ultrapassar os desafios de trabalhar com qualidade e escala.” Nesse caminho, o primeiro passo sempre é fazer parceria com as cooperativas para poder estruturá-las a fim de torná-las capazes de seguir com o projeto. Ela diz que seria mais fácil chegar ao local e montar uma linha de produção. “Mas nossa intenção não é ser uma indústria com funcionários, e sim fortalecer o produtor para que essas pessoas saiam da linha da pobreza com uma opção econômica que traga mais gente de volta para o jogo.”