Especialmente no Ministério da Economia foi festejada com grande euforia a vitória de Arthur Lira para a presidência da Câmara dos Deputados. O czar Paulo Guedes era o maior entusiasta. Ele está convencido de que terá chance para, finalmente, destravar a agenda liberal, tantas vezes anunciada e nunca levada adiante. Eram de conhecimento até do mundo mineral as desavenças entre Guedes e o antigo titular da Casa, Rodrigo Maia. Com Lira, Guedes já possui um bom diálogo há algum tempo. Teve dele o apoio, inclusive, para o acalentado projeto de uma nova CPMF e o assunto pode agora entrar mesmo em pauta – também contando com o aval do capitão Bolsonaro. Guedes está ambicioso. Diz que, numa sentada, ainda nesse primeiro semestre, as reformas administrativa, tributária e até as privatizações devem entrar no trilho. Decerto, todo mundo guarda um pé atrás com as promessas, já feitas anteriormente e não cumpridas. Existe o que se pode chamar de uma “agenda de emergência”, essa sim necessitando de definições para ontem. Especialmente a questão da aprovação do Orçamento que, inacreditavelmente, anda parada. Também na fila, o auxílio emergencial é tema ainda não completamente esgotado, assim como programas complementares de renda e o Pronampe (voltado para o crédito a pequenas e microempresas). Pelo sim e pelo não, o ministro traçou a sua própria lista de prioridades e já a fez chegar aos ouvidos de Lira. Estão na cota a “Lei do gás”, a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) para substituir o PIS e a Cofins, o projeto de autonomia formal do Banco Central (que vai e volta ao sabor dos ventos) e a malvista pelos parlamentares reforma administrativa. Nesse último caso, nem mesmo o presidente Bolsonaro abraça a ideia. Ele teme perder uma de suas bases mais sólidas de apoiadores, concentrada nos servidores públicos. O corte pretendido pelo ministro Guedes nesse caso, no ano anterior às eleições majoritárias, seria um golpe de punhal no prestígio do capitão. Guedes vem, de todo modo, movimentando-se com cuidado para não frustrar os resultados quanto à agenda. Vai tentar fazer tudo de forma escalonada, a conta gotas. Os entendimentos já tiveram início. Acenos públicos são feitos de lado a lado. Lira manifesta uma razoável predisposição para o entendimento. Quer mostrar logo serviço, muito embora priorize os entendimentos com os colegas da Câmara, deixando Paulo Guedes e suas urgentes pautas em um plano paralelo. Estão em jogo, inclusive, os horizontes do superministério do antes Posto Ipiranga do governo, que pode ser dividido para acomodar interesses do bloco do Centrão. O próprio Arthur Lira é favorável à cisão da Economia, com a recriação da pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Por esse caminho, alguns ruídos na comunicação devem aparecer.

Carlos José Marques, diretor editorial