Depois de assustarem o mundo com suas previsões catastrofistas em 2008 e se surpreenderem quando muitas economias voltaram a crescer no ano passado, alguns analistas ressurgem com uma nova dose de pessimismo. 

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São economistas badalados, que acertaram um ou outro diagnóstico importante em algum lugar do passado e hoje ganham fortunas em palestras e consultorias empresariais, com suas previsões de que dias piores virão. 

 

O problema é que, às vezes, ao seguir cegamente as recomendações de cabeças coroadas como Nouriel Roubini, Alan Greenspan, Paul Krugman e Kenneth Rogoff, os empresários podem estar fazendo um mau negócio. 

 

No Brasil, quem acreditou no pior cenário pintado logo após a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, e pisou no freio, perdeu boas oportunidades quando o mercado reagiu, pouco tempo depois. Agora, é preciso cuidado para não cair na mesma armadilha.

 

No cenário mundial, já se fala em nova recessão ou em crescimento minguado para os próximos anos. Na semana passada, os maus agouros vieram da boca de Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve, do consultor Roubini (mais conhecido como Dr. Apocalipse) e Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional. 

 

Greenspan, que há dois anos alertou para a crise mais dolorosa depois da Segunda Guerra Mundial, disse que a recuperação americana está em “pausa” e não descartou uma nova recessão no país se os preços voltarem a cair. 

 

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Para Roubini, famoso por ter antecipado em 2006 o estouro da bolha do crédito imobiliário nos EUA, “a deterioração macroeconômica global que vemos aparecer na segunda metade de 2010 está aos poucos se tornando o consenso”. E Rogoff, para quem o desemprego americano deveria cair por cinco anos seguidos, atingindo dois dígitos, diz agora que os EUA terão uma recuperação ao estilo europeu, com impostos mais elevados, maior regulamentação e crescimento reduzido nos próximos anos. 

 

No Brasil, apesar dos indicadores de que a atividade econômica será robusta neste e no próximo ano, com crescimento do PIB acima de 6%, ganharam força nas últimas semanas as análises preocupadas com recentes indicadores de acomodação do crescimento, depois de 16 meses seguidos de expansão. Por enquanto, elas não têm um padrinho famoso, mas provocam arrepios no mercado financeiro. Quem conhece a história, como o Prêmio Nobel de Economia Robert 

  

Aumann, sabe que é melhor relativizar os arroubos dos pessimistas de plantão. Em passagem por São Paulo na semana passada, Aumann afirmou o que poucos têm coragem de admitir em alto e bom som: “Talvez a crise de 2008 tenha sido superestimada”. E por que isso aconteceu?  “Quando se está no meio de uma situação, ela parece terrível. Mas acho que a crise vai ser esquecida em quatro anos”, disse o economista israelense. O fato é que a crise de crédito mundial foi severa, desacelerou os países emergentes e alcançou o Brasil. 

 

Não foi uma “marolinha”, como disse o presidente Lula, mas também não foi o fim do mundo, como sugeriram alguns. Os dados do FMI, que registram a tendência de pessimismo das expectativas, ilustram bem o quanto as previsões exageradas podem representar maus negócios para quem aposta tudo nelas (veja quadro abaixo). 

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O último relatório Perspectivas da Economia Mundial, atualizado em julho, prevê expansão de 4,6% na economia global este ano, com elevação de 2,6% nos países desenvolvidos, 3,3% nos Estados Unidos e 6,8% nos mercados emergentes. 

 

É um cenário bem diferente do que se esperava há pouco mais de um ano. Em abril de 2009, o FMI falava em recessão de 1,3% na economia mundial. O que se viu no ano passado foi uma queda de 0,6%. 

 

A Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, também errou feio. Em 2008, o órgão previa um forte aumento do desemprego, com reversão na tendência de combate à pobreza na região. Agora, a estimativa é de uma expansão de 5,2% para este ano e 4,5% para 2011, acima da média mundial. 

 

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Roubini: ”Cenário europeu está piorando e testes de estresse dos bancos não foram realistas”

 

Há que se levar em conta que, desafiados pelos acontecimentos, os governos fizeram uma ação coordenada para reduzir juros, estimular o consumo e até socorrer bancos e empresas. Essa reação vigorosa talvez não tenha sido levada em conta pelos pessimistas profissionais. 

 

Outro aspecto importante foi a força dos países emergentes no processo de recuperação, puxados pela China, Índia e Brasil. O prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, que em 2008 disse que os países emergentes poderiam formar um segundo núcleo de crise, após o setor financeiro americano, quebrou a cara. 

 

O que se viu é que esses países ajudaram a evitar uma recessão global ainda mais acentuada, ao crescerem 6,1% em 2008 e 2,5% em 2009, em média. Krugman previa também uma economia global deprimida pelo menos até 2011. Os dados divulgados até agora mostram crescimento nos Estados Unidos, na Ásia e na África.  Também a Europa está apresentando resultados mais animadores que os previstos. A Alemanha, maior economia da região, deve crescer 2,3% este ano. O índice de desemprego, em queda há 12 meses, está em 7%.

 

É melhor, portanto, dar ouvidos também aos otimistas. Jim O´Neill, economista da Goldman Sachs que criou a sigla BRIC, é a exceção que confirma a regra. Em 2008, ele previu que os países emergentes livrariam a economia mundial de uma recessão. Dito e feito.