A COP26 do clima, que começa no fim de semana em Glasgow, acontece depois de uma enxurrada de estudos e de declarações alarmistas. Para alguns ambientalistas e especialistas, no entanto, o encontro continua a se esquivar do problema real: promover a inovação e o debate, em vez de proibir.

“O problema fundamental é que as promessas são fáceis de fazer, mas difíceis de cumprir. O verdadeiro desafio é como fazer (tecnologias) verdes tão baratas que todos queiram”, comenta Bjorn Lomborg, presidente do Copenhagen Consensus Center, uma ONG que patrocina projetos ecológicos e sanitários em alguns dos países mais pobres do planeta.

Lomborg provocou polêmica há 20 anos com seu trabalho “The Skeptical Environmentalist” (2001) e voltou à carga no ano passado, com “False Alarm”, no qual afirma, diretamente, que objetivos como a neutralidade de carbono em 2050 são inviáveis. Ele alega que, em seu estado atual, as alternativas energéticas não serão capazes de responder à demanda mundial.

Os riscos da mudança climática são “sem precedentes”, alertou o último relatório dos especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU publicado em agosto, que pediu medidas drásticas.

A grande maioria dos países emissores de gases de efeito estufa reforçou suas metas, mas alguns, como China, Rússia e Índia, silenciam cautelosamente sobre o assunto, o que Lomborg considera inevitável, especialmente após a brutal desaceleração econômica causada pela pandemia da covid-19.

“Índia, África e o restante do Sudeste Asiático obviamente estão muito mais interessados em tirar suas populações da pobreza, como a China já fez”, argumenta o especialista dinamarquês, em uma entrevista por videochamada com a AFP.

Aqueles que são a favor de não baixar a guarda e de se reforçar a luta contra as mudanças climáticas refutam essa visão.

– Ecologismo vs desenvolvimento –

“Aumentamos o crescimento econômico às custas da natureza”, explicou Nathalie Girouard, especialista em política ambiental do clube de países industrializados, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), em recente entrevista à AFP.

Para Michael Shellenberger, ecologista americano que passou décadas viajando pelo Terceiro Mundo para estudar o impacto das políticas ambientais, essa visão esconde a realidade e a prosperidade que os países ricos alcançaram durante sua industrialização, ou seja, por mais de 150 anos.

“Os Estados Unidos prometeram reduzir suas emissões em 17% em relação aos níveis de 2005 pelo Acordo de Paris (2015)” para combater as mudanças climáticas, lembra Shellenberger.

Essa meta de 17% era para 2020.

“Mas nunca implementamos, realmente, esse acordo”, porque o então presidente Donald Trump se retirou do Acordo de Paris, uma medida que despertou os ambientalistas e que foi revertida pelo democrata Joe Biden este ano.

No entanto, “as emissões caíram, basicamente devido à mudança do carvão para o gás natural”, disse Shellenberger à AFP em entrevista por telefone.

Mudanças tecnológicas profundas desencadearam a revolução do gás de xisto em países como Estados Unidos e Canadá.

Uma inesperada mudança de paradigma, que fez as emissões da extração de carvão recuarem 13% entre 2005 e 2018, lembra Shellenberger em seu livro “Never Apocalypse”, que já vendeu mais de 100 mil exemplares nos Estados Unidos.

“Há 29 anos que tentamos. Se desejamos resolver a mudança climática, precisamos nos concentrar na inovação”, acrescenta Lomborg.

– Promessas no papel –

Na histórica COP21 de Paris, da qual participaram 196 países, as grandes manchetes se concentraram no objetivo de limitar o aquecimento global a +1,5ºC, na neutralidade do carbono até 2050, ou nos US$ 100 bilhões que os países ricos deveriam entregar anualmente aos mais pobres, a partir de… 2020.

Muito menos atenção foi dada ao compromisso do então presidente Barack Obama e de líderes de vários países de dobrar o investimento em pesquisa em energia renovável.

“Em 2020, alcançamos 30%” do valor prometido, critica Lomborg.

E, para alguns, como o Breakthrough Institute, da Califórnia, a solução está, mais uma vez e inevitavelmente, na energia nuclear.

“Um futuro com muita energia nuclear, especialmente com tecnologia de próxima geração, permitirá, por sua vez, muita energia eólica e solar”, defendeu o diretor de pesquisas deste instituto, Ted Nordhaus, em artigo recente.

“Um futuro que fecha as portas à opção da energia nuclear exigirá, de uma forma ou de outra, muito gás e até carvão”, acrescentou.

A energia nuclear foi o cavalo de batalha de grandes organizações, como o Greenpeace, criadas entre outros motivos para denunciar essa alternativa.

O Greenpeace denuncia o custo de pesquisar essa fonte de energia, mesmo com os reatores mais modernos e compactos, como um investimento desnecessário.

Além de perigosa, a energia nuclear é cara demais, se comparada a fontes alternativas e renováveis, argumenta a organização.

“Quando você constrói uma rede de energia eólica, ou solar, como muitos propõem, a parte mais cara não é a energia, é como apoiá-la”, ou seja, o que fazer quando não tem sol nem vento.

“E esse apoio pode aumentar o custo da rede elétrica cinco, ou seis vezes”, exclama Steven E. Koonin, que foi subsecretário de Energia nos primeiros dois anos do governo Obama.

Autor do recente livro “Unsettled”, Koonin denuncia uma grave hipocrisia diante das necessidades dos países pobres.

Ambientalistas e a ONU denunciam a catástrofe climática iminente para todo planeta.

“Acho que essa é a parte imoral: 40% (da população), ou seja, 3 bilhões de pessoas, não têm acesso a energia suficiente. E, há 10 anos, era o mesmo número. Se você não permitir que essas pessoas tenham energia, estará limitando seu desenvolvimento”, disse o especialista em entrevista à AFP.