As perspectivas para o mercado de startups no Brasil seguem promissoras em 2020 e a expectativa é que continuem sendo um caminho alternativo de investimento, especialmente agora que os ganhos em renda fixa se estabilizaram em patamares civilizados.

De fato, o fluxo de capital direcionado a startups foi recorde em 2019. De acordo com análise da consultoria Distrito, divulgada no final de janeiro, o país recebeu US$ 2,7 bilhões em aportes, distribuídos por 260 rodadas de investimento. Esse valor é 80%(!) superior ao que foi apurado em 2018.

Mais que o volume dos recursos, é interessante notar uma tendência evidente de concentração: com a entrada substancial dos venture capitals, algumas poucas empresas devem receber a maior parte dos investimentos.

As fusões e aquisições também são um outro caminho para que startups bem capitalizadas ganhem condições de crescerem bastante de forma não orgânica. Comprar empresas é um bom negócio e o corporate venture tem se confirmado como uma estratégia central de grandes conglomerados. Igualmente, é normal que startups melhor posicionadas avaliem comprar outras menores que complementem de alguma forma a lógica do negócio maior.

O Brasil está com boas safras de startups promissoras, mas que, sozinhas, não vão conseguir atingir tamanho e maturidade para receber grandes aportes. Logo, o caminho mais natural para elas é serem compradas. Não por outra razão, a Distrito detectou um aumento de 233% (!!!) nas operações de M&A. Foram 60 ano passado contra 18 em 2017.

O empreendedor no Brasil precisa repensar sua estratégia e considerar seriamente o que é conhecido no mercado como Early Exit. A definição serve tanto para quem fundou a empresa como para investidores-anjo.

No exterior, grande parte das aquisições são feitas quando a empresa ainda está começando a escalar, com um valuation em torno de US$ 50 milhões ou menos. O Google, por exemplo, prefere transações ainda menores. Costuma comprá-las antes mesmo de as empresas começarem a gerar receita.

Mas por que tão “early”?

A maioria dos investimentos costuma ter um prazo de maturação entre cinco e sete anos, às vezes até mais, dependendo da quantia empenhada. Em vez disso, estamos falando aqui de retirar o capital em dois ou três anos, no máximo.

Em um mercado muito mais dinâmico, as decisões de investimento precisam ser feitas de forma mais acelerada e, consequentemente, a expectativa de retorno também tem horizonte mais curto.

As saídas antecipadas têm retornos menores porque geralmente estamos lidando com poucos investidores e menos tempo. Elas são mais fáceis de estruturar de acordo com o IRR (Taxa Interna de Retorno), uma função que combina tempo e valor. Se o retorno de investimento de um Fundo de Venture Capital gira normalmente em torno de 10 vezes o valor empenhado no prazo de cinco anos, ganhar quatro vezes em três anos significa ter um IRR muito parecido.

Em contrapartida, os riscos são menores. Sabe aquele papo de melhor ter um pássaro na mão do que dois voando? Afinal, toda empresa está sujeita a ser desafiada por competidores, a regulação do mercado pode mudar, uma tendência pode ser substituída por outra.

Não custa lembrar que um dos maiores riscos em termos financeiros é o investidor ou empreendedor esperar tempo demais para sair, esperando ganhar mais. Não entender o momento certo pode fazer com que a taxa de crescimento da empresa se estabilize ou até mesmo caia, o que deprecia o valuation. Você esperou vários anos e, no final do dia, vai receber MENOS.

Quando você investe, há uma tensão natural entre tempo, potencial e probabilidade. O dono de uma empresa com pouco capital que planejar uma saída antecipada pode não ter grande potencial, mas uma boa probabilidade de dar certo em um prazo mais curto. Um aporte feito por um Fundo VC obviamente amplia o potencial de ganho, ao mesmo tempo em que reduz a probabilidade de saída necessariamente num prazo mais longo.

 

A dinâmica do mercado mudou. Receber mais e mais capital de fundos de investimento nem sempre é a solução. O Early Exit pode se revelar o melhor caminho para um empreendedor e para a empresa que ele fundou. Afinal, antes cedo do que nunca. Pense nisso.

 

Pierre Schurmann é CEO da Keiretsu, grupo de empresas de SaaS, e chairman, fundador e membro do conselho da Bossa Nova Investimentos