Segundo o “The Devil’s Financial Dictionary”, manual com definições sarcásticas de jargões do mercado financeiro escrito pelo colunista Jason Zweig, do The Wall Street Journal, a atividade de prever as variáveis de mercado (forecasting, em inglês) é: “Uma tentativa de prever o desconhecido medindo o irrelevante; uma tarefa que, de uma maneira ou de outra, emprega a maioria das pessoas no mercado financeiro”.

Entendo perfeitamente o cinismo de Zweig. De fato, muita gente em Wall Street vive de prever o que vai acontecer com o mercado daqui a dez minutos, uma hora, um dia, uma semana, um mês ou no ano que vem. Porém, mesmo trabalhando com hipóteses bem embasadas, fundamentadas em muita matemática e uma certa dose de experiência, a tarefa é inglória.

Uma pesquisa realizada pelo canal de notícias CNBC revela que os principais estrategistas de Wall Street esperam que o índice S&P500 termine o ano de 2021, na pior das previsões, a 3.800 pontos. No melhor cenário, a 4.400. Ou seja, estimam que a bolsa americana pode terminar 2021 quase ao mesmo nível de hoje, ou 18% acima. Nenhum deles prevê uma queda. Quem estará certo?

Ao longo do tempo, o bom gestor de recursos aprende que há pouco valor em tentar prever o que vai acontecer com o mercado. A chance de estar errado é de, no mínimo, 50%. O segredo está em fazer o melhor apesar do mercado. No seu livro “Antifrágil”, Nissan Nicolas Taleb diz, sabiamente: “Quero viver alegremente em um mundo que eu não entendo.” Estou com ele. É possível viver assim? Por mais ingênuo e simplista que possa parecer, é a única maneira. O impossível é viver tentando prever variáveis macroeconômicas que não enxergamos com clareza.

O advogado do diabo poderia dizer que é impossível investir no mercado financeiro sem modelar e projetar variáveis. Ele também teria razão. Investir em alguma coisa que envolva risco de fato tem a ver exatamente com isso: modelar e projetar variáveis. O investidor que compra a ação de uma empresa espera que seu preço irá subir, o que embute uma modelagem e uma previsão. O investidor como eu, que é adepto do value investing, tem como dever de ofício pesquisar, modelar e estimar o valor intrínseco da ação de uma companhia, e investir se o mercado oferece uma oportunidade de compra a um preço muito abaixo desse valor.

Apesar de difícil, no entanto, usar ferramentas de value investing para modelar empresas é infinitamente mais fácil do que modelar o mercado como um todo. E, além disso, o índice de acerto é muito maior do que 50%. A pesquisa minuciosa e detalhista, o entendimento pormenorizado do processo de geração de fluxo de caixa e a modelagem criteriosa das linhas do balanço de cada empresa dá ao value investor um grau de conhecimento impossível de ser atingido pelo investidor que tenta acertar a direção do mercado. O value investor consegue reduzir o grau de incerteza do investimento através do conhecimento que esse processo de investigação proporciona. Para o value investor, uma boa lição de casa vale por mil previsões.

Vejo muita gente investindo no mercado financeiro pela primeira vez. Além disso, muitos investidores brasileiros começam a olhar para os mercados fora do Brasil, e isso é extremamente positivo. Meu recado a eles: não acredite em previsões. E faça sua lição de casa. Não tente estimar para onde vai o mercado; procure as oportunidades que ele oferece. Em geral, elas não estão no que é mais noticiado e procurado, mas sim longe das manchetes e do glamour. Não são as ações da moda, ou as mais comentadas nas redes sociais. São, aliás, o contrário disso.

Monte um mecanismo de busca, pesquise, investigue, monitore. Não tente entender o mercado como um todo, mas faça a sua lição de casa. E esqueça as previsões!