Pode voltar a subir? Tanto faz. A expectativa em relação a essa oscilação já está assumida por agentes financeiros e pelo setor produtivo. Vamos combinar, inclusive, que parcelas expressivas desses grupos já preferiam ver um nome como o do presidente do Banco Central no comando da Economia.

Isso colocado, é preciso precificar o vetor Bolsonaro. Dito de outra forma, é fundamental que o mercado estabeleça expectativas para sair do atoleiro econômico com menos traumas. A encruzilhada é assustadora.

De um lado, faltam vacinas. Parece que ninguém no ministério sanitário sob gestão militar sabe mexer num excel. Ou alguém acredita que o número de vacinados, para não termos mais colapsos à moda de Manaus, será suficiente antes do segundo semestre? De outro lado, o fim do auxílio emergencial. Necessário. Mas se ele não acabar, o resultado será um estrago fiscal. Que vai dar rebote na inflação. E aí o BC ficará no pântano em que precisará subir o juro. Até para que o dinheiro voando pelo mundo volte a cortejar o Brasil. Vamos pagar de Uber por um período: ficar à sorte de uma graninha que a gente sabe que não permanecerá no bolso muito tempo.

“Sem precificar os vetores impeachment ou oito anos de mandato, as projeções para a economia estarão no padrão estratégico pazuello”

Esse nó nada tem de econômico, apenas. Não há como escapar da política. “It’s economy, stupid!”, a frase de James Carville, no Brasil precisa ganhar um adendo: “But it’s also politics”. E na nossa política não existe sutileza. Há uma conta, e ela é inevitável. Enquanto houver reeleição, o ocupante da cadeira palaciana será reeleito. Foi assim 100% das vezes desde que o caminho do bis foi adicionado à Constituição, em 1997 — com compra de voto devidamente não apurada pelas instituições de Estado.

Deu dobradinha sempre. Criamos o mandato de oito anos. Fernando Henrique Cardoso. Lula. Dilma (ops, esta foi arrancada do jogo, sem VAR, mas só depois de reeleita). Por que não dará Jair Bolsonaro? Com 31% de aprovação você está em qualquer segundo turno. Brasília sabe disso. O Centrão sabe disso. Metade do DEM sabe disso. Por esse motivo, o impeachment entrou em cena. Mas, como disse o presidente, quem decide se o povo vive numa democracia ou na ditadura são as Forças Armadas. As mesmas que foram autorizadas, no meio da pandemia em 2020, a receber adicional de habilitação. Uma bonificação no soldo que custará R$ 26 bilhões em cinco anos.

Sem precificar esses vetores — oito anos ou impeachment — as projeções para a economia estarão na equivalência do planejamento estratégico à Pazuello. Não que elas sejam as únicas duas alternativas. Mas precisam fazer parte dos esboços. Porque aqui o Estado manda. Com suas 194 estatais e 476 mil empregos. Com seus 12 milhões de funcionários públicos – que nas três esferas consumiram, em 2019, quase R$ 1 trilhão em salários, ou perto de 14% do PIB. Com seu apetite tributário. Em resumo, será preciso também precificar as reformas. Ou alguém acredita que um presidente de DNA de funcionário público quer reformar o Estado. No clássico O Caminho da Servidão (The Road to Serfdom), Friedrich von Hayek (1899-1992), que levou o prêmio Nobel de Economia de 1974, começa um capítulo explicando “por que o pior chega ao topo” em sistemas como o nosso. E precificar era com Hayek.

Edson Rossi é redator-chefe da DINHEIRO