Foram oito meses de muita polêmica, troca de acusações e previsões catastróficas. Não faltaram nem mesmo os ?profetas do caos?, que garantiam que o Brasil seria ?desligado da tomada?. O pânico deveu-se à descoberta tardia de que o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas ? responsáveis por 97% de toda a energia gerada no País ? havia atingido um patamar crítico. Por conta disso, o Brasil foi jogado na mais aguda crise de sua história. O problema estava no modelo a ser adotado. Ele já era polêmico e, para piorar, sua implantação ficou no meio do caminho. O que se viu daí em diante foi um setor à deriva, onde o modelo antigo estava esgotado e não havia nada para ser colocado no lugar. Foram vendidas apenas as distribuidoras, enquanto as empresas que atuam na geração ficaram em poder do governo. Sob a batuta da equipe econômica, estas companhias (leia-se Furnas, Chesf e Itaipu) tiveram seus investimentos praticamente congelados. Para piorar o cenário, a iniciativa privada também não fez a parte dela. Uma boa mostra disso é que os desembolsos na ampliação e modernização das companhias energéticas foram reduzidos a níveis jamais vistos: caíram de R$ 20 bilhões por ano, na década de 80, para R$ 8 bilhões nos anos 90, enquanto o consumo avançou 4,1%.

 

As medidas para evitar que o País mergulhasse nas trevas foram anunciadas na manhã de 18 de maio de 2001, pelo presidente Fernando Henrique. Naquele momento a população soube que, além de ter de reduzir o consumo em 20%, ainda seria vítima de um tarifaço de até 200%, no caso dos consumidores residenciais que excedessem o patamar de 500 kw de consumo por mês. Como em outras ocasiões, a população fez a sua parte. Correu às lojas em busca de lâmpadas econômicas e tirou da tomada equipamentos de consumo intensivo: microondas, freezers e ar-condicionado. Os empresários compraram geradores e incentivaram campanhas de racionalização no uso da energia. O esforço valeu a pena. O Brasil não ficou nas trevas mas a economia foi duramente golpeada: o Produto Interno Bruto avançou apenas 1,51%, ante os 4,36% registrados em 2000. Sem o apagão, previa-se um PIB de 4,5%. Como o problema permanece pendente, caberá ao próximo governo encontrar uma solução para o setor energético.