O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira, 6, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, que é importante ter mais transparência sobre como o BC atua no mercado de câmbio. O comentário foi feito em resposta ao deputado federal Mauro Benevides (PDT-CE), que criticou a falta de transparência da instituição em suas atuações no mercado por meio de leilões cambiais.

“Não temos meta no câmbio. Fazemos atuação quando há problema de liquidez”, ponderou Campos Neto, lembrando que as atuações são decididas por um colegiado.

Nesta quarta-feira, a Diretoria Colegiada do BC – formada por Campos Neto e pelos diretores da instituição – é a responsável pela definição de estratégias de atuação no mercado de câmbio. Este ano, por exemplo, a decisão de leilões diários de dólar à vista, swap cambial reverso e swap cambial tradicional partiu da Diretoria Colegiada do BC, a partir de voto apresentado pelo diretor de Política Monetária da instituição, Bruno Serra. É justamente a Diretoria de Política Monetária do BC a responsável pelo operacional das intervenções cambais.

Questionado por Benevides sobre a transparência das atuações, Campos Neto disse concordar que é preciso haver mais transparência no câmbio.

O presidente do BC lembrou ainda que, este ano, houve movimento atípico no mercado, em que o câmbio se depreciou e a inflação seguiu em queda. Segundo ele, isso foi resultado de um ambiente de pré-pagamento de dívidas de empresas locais no exterior, o que elevou a demanda pela moeda americana.

Moeda da América Latina

Campos Neto sinalizou que a simplificação no mercado de câmbio permitirá que o real se torne a moeda da América Latina. “Se câmbio for mais simples, mais aberto, mais democrático, real vai ser moeda da América Latina”, afirmou. “O processo de simplificação de câmbio é importante”, disse.

Argentina e independência do BC

O presidente do Banco Central voltou a defender o projeto de autonomia da autoridade monetária e fez um paralelo com a Argentina que, segundo ele, se aprofundou em uma crise cambial justamente após ter abandonado a independência do seu BC. “Quanto mais independente é o BC, menor é a inflação e a volatilidade das expectativas de inflação futura. Quando a Argentina perdeu a autonomia do BC, a taxa de câmbio subiu. Foi o começo do fim”, afirmou.

Campos Neto também reforçou que o projeto de simplificação cambial enviado pelo BC ao Congresso tem o objetivo de caminhar para a internacionalização e conversibilidade do real. “A burocracia de fechar um contrato de câmbio no Brasil torna o mercado ineficiente. Queremos o fim desse sistema no qual apenas os bancos podem fechar um contrato de câmbio. Vamos abrir para qualquer plataforma”, repetiu.

Reservas

Em resposta a perguntas dos parlamentares, ele voltou a negar que as reservas internacionais no atual patamar de cerca de US$ 371 bilhões teriam um alto custo para o governo. “O custo total de carregar as reservas foi positivo nos últimos 10 ou 15 anos. Não existe esse argumento de que reservas têm custo grande. Além disso, quando os juros caem, custo de carregamento das reservas fica menor”, concluiu.

Impactos no crescimento

O presidente do Banco Central ainda argumentou que o baixo crescimento da economia brasileira este ano foi impactado por fatores externos e pelos efeitos do desastre de uma barragem em Brumadinho (MG) no começo do ano. “Pelas nossas contas, a crise Argentina nos custou 0,18% de crescimento em 2019, enquanto o ritmo lento da atividade global nos custou 0,29% de crescimento. Além disso, Brumadinho nos custou 0,20% de crescimento este ano”, elencou.

Ainda assim, Campos Neto destacou mudanças estruturais da expansão da economia brasileira, menos dependente de recursos públicos e mais voltada para os investimentos privados. “O crescimento que presenciamos, que é um pouco mais lento, será de qualidade melhor. O nosso objetivo hoje é se reinventar com investimento privado”, completou.