Uma avaliação dos resultados das companhias abertas que constam da base de dados da Economatica mostra que 2019 foi um ano de resultados muito bons para as companhias abertas brasileiras. Comparando-se a rentabilidade patrimonial de todas as empresas listadas em bolsa de quatro países – Brasil, Chile, Estados Unidos e México –, notamos que as companhias brasileiras lideraram em rentabilidade. Em 2019, a mediana da rentabilidade patrimonial das empresas brasileiras foi de 9,7%. Isso representou um crescimento ante os 9,2% registrados no exercício contábil de 2018. Nesses dois exercícios, os resultados foram os melhores dentre os países considerados na amostra. Optamos por não incluir dados de companhias argentinas devido a problemas contábeis. Os balanços dos últimos períodos apresentam distorções e não reconhecem corretamente a variação dos preços devido à inflação.

Apesar do impacto da pandemia, os resultados das companhias brasileiras em 2020 foram menos afetados do que os de outros países. Considerando-se os 12 meses findos em junho, a mediana da rentabilidade patrimonial das empresas brasileiras foi 7,7%. O segundo lugar ficou com as empresas chilenas, que registraram 4,5% de rentabilidade, pouco mais da metade dos resultados brasileiros. É preciso chamar a atenção para um aspecto desse resultado. Devemos entender que os dados referentes a julho de 2020 consideram apenas três meses de impacto da pandemia. As medidas de restrição só começaram a ser implantadas com mais profundidade a partir de abril. Os meses anteriores incluem três trimestres sem a pandemia. E os resultados permaneceram positivos apresentando melhora em relação ao período anterior.

Um cenário aparentemente positivo. No entanto, um indicador é preocupante, e mostra que a prosperidade das empresas brasileiras poderá ser abreviada. Um dos principais indicadores das empresas é a relação entre gastos de capital (Capital Expenditure, ou Capex) e a depreciação. Contabilmente, os gastos de capital mostram quanto a empresa está investindo, e a depreciação mostra a taxa de consumo desses investimentos. Uma empresa que invista 100% de sua depreciação está apenas compensando o desgaste de seus fatores de produção, e permanecerá no mesmo lugar. Para crescer, tanto quantitativamente (ampliando o faturamento) quanto qualitativamente (melhorando margens e ganhos de escala), a companhia precisa investir uma soma maior do que o valor “perdido” com a depreciação. E isso não vem ocorrendo há tempos.

Nos últimos cinco anos, a maior relação ocorreu em 2015, imediatamente antes da crise, quando o total de investimentos representou 119% da depreciação. Isso é muito pouco. Há alguns anos, pouco antes da crise de 2008, as companhias abertas brasileiras vinham mantendo um ritmo acelerado de investimentos. Os gastos com o Capex chegavam a 200% das perdas com a depreciação, o que significa que as empresas estavam não apenas compensando o desgaste de suas unidades produtivas, mas investindo mais em ampliação e em melhoria. Desde a crise do início da década de 2010, isso cessou. Em 2017, ano em que a economia começava a sair da crise, os gastos com Capex foram marginalmente inferiores às despesas de depreciação, o que indica que as empresas nem sequer conseguiram compensar suas perdas. É preciso reconhecer que a redução dos investimentos vem ocorrendo de maneira generalizada ao redor do mundo, mas o caso brasileiro é especialmente severo. Os investimentos não decolam devido às incertezas da economia provocadas pelo governo. Esperemos que, em 2020 e em 2021 seja possível observar uma volta dos investimentos. Para isso, porém, será preciso superar as dificuldades estruturais e a incerteza jurídica.