Era uma vez, um menino pobre. Muito pobre. Morava com os pais e os dois irmãos, em Tietê, interior de São Paulo, no porão de outra casa. Aos 7 anos, seu sonho era ter um Conga, tênis popular dos anos 70 e 80. Não era que o garoto desejasse o tênis da moda. Não. Ele só queria um par de sapatos bem básico e barato. “Mas meus pais não tinham condições de comprar”, conta Jefferson Silva, hoje aos 36 anos, cujo pai se aposentou como motorista e a mãe é costureira. E foi o desejo de ter um Conga que levou o garoto a trilhar caminhos que o levaram ao local onde está hoje: investidor de sucesso, empresário e com faturamento anual em torno dos R$ 6 milhões, entre seus investimentos e os ganhos da sua empresa, a Laatus.

Tudo começou em 1989, quando passava as noites sonhando em ter nos pés o tal Conga. “E o tênis tinha de ser branco”, lembra Jefferson Laatus, como ele é conhecido no mercado. À época, uma vizinha fazia coxinhas para vender. Foi quando o menino teve a ideia de revender os salgados. Ele pegava uma bandeja cheia deles e saía pelas ruas. Em três meses, havia amealhado o suficiente para comprar o tênis. Jamais esqueceria a alegria que sentiu no dia em que, acompanhado pela mãe, foi à loja e
comprou o Conga. “Naquele dia,  eu percebi como é legal trabalhar e ter o próprio dinheiro”. A partir dali, ele nunca parou.

Aos 9 anos, percorria as ruas vendendo vassouras feitas por uma vizinha. Aos 12, era sorveteiro. Aos 14, tirou a Carteira de Trabalho para ser auxiliar numa confecção. Aos 16, virou entregador de jornal. Um ano depois, começou a atuar como servente de pedreiro. “Não tenho vergonha de nada do que passei na vida”, afirma. “Mas sempre tive consciência de que eu poderia conseguir coisas muito maiores”. Com essa ideia em mente, resolveu fazer vestibular, aos 17 anos, para Ciência da Computação, que considerava a profissão do futuro. Passou na primeira tentativa, na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Fez uma pós-graduação e enviou currículo a diversas empresas. As coisas começaram a dar certo.

Poucas semanas mais tarde, foi contratado por uma firma de São Paulo, com salário equivalente ao que seriam R$ 10 mil atualmente. Quatro anos depois, aos 25, mudou de emprego para ganhar quase o dobro. Comprou apartamento – financiado – em São Paulo. Tinha carro, moto, roupas bacanas. Estava nas nuvens. Parecia que não tinha mais como dar errado. Deu. Entre 2009 e 2010, Jefferson fez sucessivos investimentos equivocados na Bolsa de Valores. Comprava e vendia ações de maneira atabalhoada e – um dos maiores riscos a investidores – impaciente. As dívidas se acumulavam. Ao ponto de ele contrair empréstimos no banco para zerar o saldo negativo na Bolsa. Mas continuava investindo. De forma errada.

Objeto de desejo: Jefferson, aos 7 anos, com o Conga que ele diz simbolizar suas vitórias

DO QUARTINHO À MANSÃO Em poucos dias, já estava com um rombo ainda maior na Bolsa. Vendeu o carro e a moto para quitar parte dos débitos. O banco tomou seu apartamento, por não conseguir pagar os empréstimos. “Perdi tudo o que eu tinha conquistado”. Só lhe restaram o emprego e o apoio dos pais. “Eles nunca me abandonaram. Sou o que sou por causa deles”. Apesar do retumbante fracasso como investidor, Jefferson tinha convicção de que poderia ganhar dinheiro no mercado financeiro. Só precisava encontrar o caminho certo. Em 2011, sem ter onde morar, alugou um quarto de 12 metros quadrados, numa casa de república da Universidade de São Paulo (USP). Com o salário, pagava o aluguel, os gastos com alimentação e transporte. Todo o restante – cerca de 70% do ordenado – ia para seus investimentos. Mas nada de ações. “Passei a operar apenas com dólar”, destaca (leia box à direita).

Dessa época, ele guarda a lembrança do que chama de “o pior dia da minha vida”. Com mais de 20 jovens vivendo na mesma casa, era comum a privada do banheiro ficar entupida. Certo dia, no meio da madrugada, Jefferson acordou sentindo um fedor insuportável. Ao descer da cama, pisou no chão molhado. A privada havia estourado e a água imunda, com fezes, invadira seu quarto, ao lado do banheiro. “Fiquei, literalmente, na merda”, conta ele, com humor. Naquela madrugada, no entanto, a situação não teve graça. Enquanto tirava aquela mistura de água e fezes do quarto, Jefferson chorava compulsivamente. Chorava e pensava: “Eu sou melhor do que isso. Vou recuperar tudo”.

Não só recuperou, como conseguiu bem mais. Agora, com sensatez. Tanto que, em 2012, ele já tinha R$ 1 milhão na conta, mas continuava morando no quartinho da república. “Decidi que só sairia dali quando estivesse perfeitamente estabelecido. Não queria correr mais riscos”. O fato é que, hoje, o menino pobre é dono de um dos mais prestigiados cursos de educação financeira do Brasil e considerado um dos mais talentosos investidores do País. Somando todos os seus ganhos em aplicações e o faturamento da Laatus, Jefferson embolsa cerca de R$ 500 mil por mês, o que lhe rende até R$ 6 milhões por ano.

Em vez da casa apertada, ele mora com a mulher – a jornalista Poliana Brito, 41 – e os três filhos em São Paulo, num apartamento de 300 metros quadrados e que custou R$ 3 milhões. Além disso, tem uma chácara com 800 metros quadrados de área construída, casa na praia e quatro carros: um Mustang, um Mini Cooper, um Honda Fit e um Hyundai Grand Santa Fé. Sonho material, mais nenhum. “Hoje, meu desejo é estruturar uma empresa de fundos de investimento que, no futuro, se transforme num banco”, diz. Com a Laatus com preço de mercado estimado em R$ 10 milhões, Jefferson recebeu, recentemente, uma proposta de um grande investidor que queria adquirir sua empresa por R$ 15 milhões. Ele deu de ombros à oferta. E pensar que o garoto só queria um Conga.


Sigam o mestre

Em 2014, quando Jefferson já estava com a vida e a conta bancária reestruturadas, graças às suas operações em dólar, vários amigos começaram a pedir dicas de como investir no mesmo modelo. Ele sempre compartilhava seus conhecimentos e aprendizados com todos, sem cobrar. Até que o número de interessados cresceu tanto, que um amigo, empresário, deu uma bela dica. “Ele me disse pra montar um curso online”, lembra. Em 2015, montou a primeira turma. As aulas eram pelo Skype
e cada aluno pagou R$ 4 mil por 1 mês de aula.

Traduzindo os números: Jefferson ganhou R$ 120 mil, em apenas 1 mês. Hoje, a Laatus realiza esse curso – maior e mais estruturado – duas vezes por ano, com duração de 3 meses e turmas de 800 alunos, pagando R$ 2.500 cada, o que significa um ganho bruto de R$ 2 milhões por ano. Jefferson diz que metade desse valor paga os custos com logística e estrutura. Ainda assim, fica R$ 1 milhão líquido. E só com esse curso. Ele tem, ainda, um escritório de 500 metros quadrados, no bairro paulistano do Morumbi, com 60 mesas e monitores, no qual alunos e investidores se reúnem todas as manhãs para operarem ao lado do próprio Jefferson, numa espécie de co-working de traders. Sempre em dólar.

“Nossa proposta é formar profissionais do mercado financeiro, especialistas em operar dólar futuro com leitura de fluxo, técnica conhecida como tape reading”, diz. “Ensinamos a dinâmica da moeda, o que faz subir, cair, macroenocomia, a importância de notícias, cenário interno e global”. Basicamente, a ideia é fazer o óbvio: comprar na baixa e vender na alta. “O segredo é perceber o momento exato de fazer isso”. Segundo ele, com a leitura de fluxo correta e entendendo as razões que levam a moeda americana a subir ou cair, as chances de acertar são enormes. Considerando o sucesso do próprio Jefferson, fica fácil entender os motivos que levam tanta gente – ele tem alunos até fora do Brasil – a seguir seus ensinamentos.