Nesta quinta-feira (10), a Worldpay from FIS divulgou seu Global Payments Report, algo que faz há sete anos e mostra um espelho do cenário dos meios de pagamento online, tanto no mundo quanto no Brasil. A FIS é um fornecedor backoffice líder no mundo de soluções tecnológicas para comerciantes, bancos e empresas do mercado de capitais. A pesquisa é importante para se entender o ritmo da digitalização tanto do comércio quanto na bancarização de populações, até um tempo atrás em marcha lenta – Brasil incluído. São US$ 2 trilhões de dólares de volumes transacionais no mundo, e US$ 5 bilhões só no Brasil, e a linha que divide o ponto de venda e o mundo virtual está cada vez mais cinza.

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“Todo comércio vai se transformar em eletrônico, com essa confluência de tecnologia da informação e serviços de pagamentos bancários. Não fará mais sentido imaginarmos que haverá um mundo físico e outro digital. Aliás, no físico você já está usando o digital”, disse Ronaldo Lemos, advogado, pesquisador brasileiro e especialista em inovações que participou de um bate-papo ao vivo online sobre o relatório. O e-commerce vai crescer no mundo 55,3%, de 2021 a 2025, e atingirá US$ 8,3 trilhões em valores transacionais nesse mesmo período, uma acelerada muito crítica.

No Brasil, esse crescimento estava lento, de 12%, querendo estagnar, e com a pandemia houve uma revigorada. Do papel moeda como meio principal de pagamento, veio o cartão de crédito para tomar à dianteira – e com o Pix logo em seguida, outro tema importante no relatório. “Mesmo com mais clientes retornando às lojas físicas, não existe volta com relação às inovações que temos visto nos meios de pagamento e comércio eletrônico”, afirmou Juan Pablo D’Antiochia, vice-presidente Senior da Worldpay from FIS para a América Latina e que apresentou o relatório.

Uma das tendências mais curiosas mostradas é a queda no uso do cartão de crédito e o crescimento das carteiras digitais, que são dispositivos eletrônicos como um computador desktop/notebook ou smartphone, usados para fazer o pagamento. Hoje não se vê muito no Brasil o consumidor tirar o celular e efetuar o pagamento. Mas o uso do QR Code para pagamentos, em 2019, era considerado pouco provável aqui, como constatou Lemos em uma viagem à China naquele ano, vendo seu uso proliferado pelos locais.

“Eu disse que em cinco anos estaríamos usando isso. Em um ano e pouco isso já mudou”, afirmou. No mundo, atualmente a carteira digital é a principal forma de pagamento, com US$ 2,3 trilhões transações – e esse pulo aconteceu em três anos, segundo os dados comparativos de relatórios da Worldpay from FIS.

A bancarização “forçada” do Brasil – por conta da pandemia, restrição de compras em locais físicos, necessidade de ter conta para receber auxílio emergencial – ajudou significativamente o aumento do comércio eletrônico no País. Teria até demorado, segundo Lemos, comparado com a Índia, em que o governo do dia para noite informou que grandes notas de dinheiro físico não valeriam mais, fazendo com que todos corressem para os bancos, criando uma situação traumática.

“Prefiro o jeito que foi feito no Brasil”, brincou Juan, citando apps da Caixa Econômica e carteiras digitais. Até 2025 o e-commerce no Brasil deve crescer 95%, segundo o relatório. É um número assustador, no bom sentido. A guerra entre Rússia e Ucrânia pode parar isso? “Muito provavelmente não, não vai ser significativo. Historicamente, são mercados fechados. A Rússia tem seu próprio sistema de pagamentos. E a Ucrânia é um país pequeno”, afirmou Juan à DINHEIRO.

O Brasil continua sendo o carro-chefe na América Latina, independente de seus problemas políticos e econômicos. Aqui é onde haverá maior transformação. “E exportamos para o mundo algo que já existe há 30, 40 anos aqui, que é o ‘crediário’”, brincou Juan, citando a nova forma usada no mundo batizada de Buy Now, Pay Later, ou pagamento parcelado digitalmente – no Brasil teria sido criado em 1858, por um vendedor de máquina de costura. É o meio de pagamento com crescimento mais rápido no online e loja física, até 2025 – representa 2,9% do valor global das transações no comércio eletrônico em 2021.

O Pix é uma das formas de pagamento mais elogiadas no relatório. “É a principal inovação no Brasil desde a criação do cartão de crédito”, disse Juan. E não por hoje, mas pelo que pode representar no futuro, ele completa. “São 110 milhões de usuários no país. Quando falam de rede digital e não mencionam o Pix, eu saio logo falando. Primeiro, o Whatsapp, depois o Pix, depois Youtube. O Whatsap demorou muitos anos para chegar aos 80 milhões de usuários no país. O Pix levou meses. E ele não foi imposto, é voluntário. As pessoas tiveram de ir lá e cadastrar sua chave. E é uma plataforma pública, aberta e que não cobra valor algum de transferência para pessoas físicas”, afirmou Lemos. O Pix, no entanto, ainda tem limitações, se comparado com cartões de crédito, que oferece… bem, crédito! E os bancos dão incentivos para o uso de cartões, como pontos de fidelidade.

De qualquer forma, é um cenário promissor o de crescimento do e-Commerce em 95% até 2025, com um volume de negócios de US$ 79 bilhões.