Peço licença para adaptar aos dias atuais a célebre frase do marqueteiro James Carville que, em 1992, afirmou que o então presidente George W. Bush, apesar da vitória na Guerra do Golfo, poderia perder a eleição por causa da recessão econômica. De fato, o vencedor foi Bill Clinton. “É a economia, estúpido”, afirmou Carville, deixando claro que os eleitores votam de olho no bolso.

Quase 30 anos depois, o mundo passa por uma grave pandemia com impacto gigantesco na economia. Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) global encolheu em torno de 3,5% enquanto o Brasil registrou uma queda de 4,1%. Tais resultados decorreram do pânico causado na população pelo vírus desconhecido e das medidas de fechamento da economia tomadas pelos governantes.

Em 2021, no entanto, o cenário mudou drasticamente. Apesar dos números alarmantes de contaminações e mortes em algumas regiões, as bolsas de valores registram sucessivos recordes e a atividade econômica segue em rápida recuperação em países ricos e até no Brasil, cujas previsões de crescimento do PIB superam os 4%. A explicação para esse cenário positivo está na ponta da agulha.

No caso de nações como os Estados Unidos (expansão prevista de 6,5%) e a China (alta estimada em 8,5%), a injeção de trilhões de dólares na economia certamente tem um peso importante, mas esse impulso fiscal não é observado no Brasil. Taxas de juros baixas também ajudam a explicar o bom desempenho do mundo desenvolvido, incluindo a Europa. No Brasil, por outro lado, o momento é de elevação dos juros para combater a inflação.

“O setor de serviços, que representa 70% da geração de renda no Brasil, é o maior beneficiado pelo contato direto entre as pessoas. Afinal de contas, ainda não inventaram o corte de cabelo via Zoom”

Só há um ponto comum a todas as economias que estão em forte recuperação, incluindo o PIB brasileiro. Trata-se da aceleração do processo de vacinação. Imunizadas, as pessoas ficam mais confiantes, saem de casa e voltam a trabalhar e a consumir. Os empresários desengavetam projetos de olho nesse futuro promissor e voltam a contratar.

O setor de serviços, que representa 70% da geração de renda no Brasil, é o maior beneficiado pelo contato direto entre as pessoas. Afinal de contas, ainda não inventaram o corte de cabelo via Zoom. Nos Estados Unidos, tal fenômeno virtuoso é muito parecido e beneficia os estados que tem a maior parte da população já imunizada com duas doses.

Há, portanto, correlação direta entre o recente anúncio dos governos de São Paulo e do Rio de Janeiro de antecipação da vacinação de toda a população adulta ainda no terceiro trimestre e a onda de euforia desencadeada entre empresários e investidores. A essa altura do campeonato, ninguém mais trabalha com a possibilidade de novas variantes driblarem a eficácia das vacinas já existentes, embora esse risco jamais possa ser retirado do radar. A ciência está vencendo essa batalha contra o novo coronavírus.

No caso brasileiro, podemos citar a volta do auxílio emergencial como um impulso extra, embora a expansão surpreendente de 1,2% do PIB no primeiro trimestre, em relação ao trimestre anterior, não tenha contado esse benefício, que só voltou a ser pago em abril. Definitivamente, a melhor política econômica disponível — e a mais barata — é a vacina. Quem apostou contra, errou. E não adianta brigar com a realidade nem com os números. O Brasil está crescendo e vai acelerar seu PIB ainda mais no segundo semestre. É a vacinação, estúpido!

Luís Artur Nogueira, economista, jornalista e educador financeiro, escreve no blog “Descomplicando a Economia”, no site da DINHEIRO