Um ano para esquecer. E que não vai terminar. As gigantes da tecnologia que atuam diretamente com organização e distribuição de conteúdos – Facebook, Google e Twitter – sabem que cada vez mais terão de dar satisfação pública sobre seus processos, produtos, dados de usuários e suas frestas.

Para elas, se 2018 precisar de um epiteto, ele bem pode ser “O primeiro ano do resto de nossas vidas”. Porque a milhagem de seus executivos indo a Washington prestar contas ao Congresso americano não parece estar perto do fim.

Na quarta-feira 12 o presidente do Google, Sundar Pichai, respondia sobre a plataforma suprimir vozes conservadoras em seus mecanismos de buscas. “Refletimos o que está sendo dito e fazemos isso sem viés ideológico e político”, disse. Entre republicanos, a empresa é vista como um QG liberal demais. No meio do ano, pressionado por um abaixo-assinado de 4 mil funcionários, a companhia anunciou o cancelamento de um contrato de inteligência artificial com o Pentágono. Os empregados, muitos em cargos de ponta, exigiram “uma política clara de que nem o Google nem seus contratados construirão tecnologia de guerra”.

Em setembro, o CEO do Twitter, Jack Dorsey, estava na mesma situação do Google: acusado de favorecer perfis mais liberais na plataforma. Em depoimento à Comissão de Inteligência do Senado, Dorsey rebateu. “Deixe-me ser claro: o Twitter não usa a ideologia política relacionada à classificação de conteúdo”, disse. O curioso é que os exemplos de caça às bruxas ideológicas não voam só de um lado do espectro político, por parte dos conservadores.

O próprio Google (por meio do YouTube), o Twitter e o Facebook também são criticados por negligência em relação à propagação de fake news e conteúdos ideológicos sem filtros. Tudo em nome de engordar o caixa. Na segunda-feira 17, dois estudos independentes foram divulgados pela Comissão de Inteligência do Senado identificando que os russos patrocinaram campanhas em massa nas redes sociais para suprimir a força do eleitorado afro-americano em favor da candidatura de tons supremacistas e nacionalistas de Donald Trump. No dia seguinte, terça-feira 18, o braço direito de Mark Zuckerberg, a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, disse que a empresa precisa se esforçar mais para proteger os usuários de iniciativas que promovem a desinformação.

Bolsas Os questionamentos políticos públicos começam a fazer estragos na área mais sensível aos negócios: o bolso. Ainda que não se possa fazer uma vinculação direta entre os questionamentos sofridos pelas companhias e suas avaliações de mercado, alguns números já lançam luz sobre o tema. O Twitter fechou terça-feira 18 com valor de mercado de US$ 25,6 bilhões (queda de 27,7% em relação a julho de 2018). O Facebook teve vida ainda pior: valia no mesmo dia US$ 412,8 bilhões, queda de 31,6% entre julho e dezembro. No caso do Google, avaliada em US$ 718,2 bilhões, a desvalorização alcançou 16,9% no segundo semestre. Números que começam a indicar que a época de antiaderência entre as empresas cool do Vale do Silício e as polêmicas ficou para trás. E cada vez mais a imagem pública delas refletirá em seus valores de mercado. Chame a isso de realpolitik.