Bateu o desespero monetário na ponta do câmbio. O dólar começou a dar saltos ornamentais, com cotações recordes que levam a moeda brasileira a valer quase o mesmo do verificado nos tempos das vacas magras, há dois anos, em plena recessão aguda. Não há absolutamente nenhuma mudança concreta nos fundamentos macroeconômicos que justifiquem essa virada. Ao contrário: o cenário segue de crescimento do PIB, as taxas de inflação e juros apontam para baixo, empregos em alta, investimentos dentro da normalidade. A única variável interna a mexer com os humores do mercado atende pelo nome de indefinição política. É natural. Em anos de eleições majoritárias, como esse, a ciranda de apostas roda a todo vapor.

O câmbio funciona como roleta e os apostadores aproveitam para ganhar nas oscilações. Imaginava-se que a saída de Lula da disputa iria arrefecer os ânimos. Não foi o caso. No tabuleiro fracionado de opções, com todos os candidatos pontuando baixo, o temor do surgimento de aventureiros ou opções radicais aumenta. Dessa maneira, o Real foi a terceira moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar no mês. Contribuiu para o mau desempenho as notícias que vêm dos EUA, sinalizando um novo aperto dos juros para barrar o avanço inflacionário por lá. O mercado americano vem de um momento bom na economia e, nesse contexto, a tendência do dólar atuar como porto seguro é inevitável.

Na semana, foram cinco dias consecutivos de alta da moeda americana, sem qualquer trégua. O Treasury de dez anos, considerado um dos papéis mais importantes das finanças globais, chegou a romper a barreira dos 3% de valorização. A taxa de juros associada a ele reflete quanto cobram os investidores para emprestar ao governo dos EUA. O Federal Reserve, segundo analistas, pressionado pela praça, deverá subir a taxa básica de juros, tornando ainda mais atrativo o dólar. Nesse conjunto de condicionantes o Brasil tende a perder.

O real fraco e em queda pode e deve piorar a situação da dívida pública – além de representar um forte golpe nos importadores que estão encomendando peças para o parque produtivo local. As reservas robustas até aqui ajudaram o País a atravessar com certo fôlego as dificuldades recentes. Mas pode ter chegado a hora de queimar ao menos parte delas em leilões para segurar a moeda. O Banco Central já discute a calibragem ideal e não descarta atuar fortemente nesse sentido. A instabilidade monetária desse ativo deve perdurar até a eleição, pelo menos. E nesse período haja fôlego para tanta especulação.

(Nota publicada na Edição 1067 da Revista Dinheiro)