Eramos cinco numa van, três homens e duas mulheres. O recepcionista do motel deu um sorrisinho maroto e nos brindou com o inevitável comentário: ?Vieram para a festa na suíte presidencial, né?. Pelo semblante do rapaz, deu para imaginar que ele sabia pouco sobre o evento mas que sua cabeça estava a mil, tentando adivinhar o que poderia acontecer nos 340 metros quadrados da bela suíte do motel Le Moulin, localizado na zona sul de São Paulo. Antes de nossa van, outras seis já haviam descarregado, cada uma, seis passageiros. Todos para o mesmo destino. No total, mais de 40 pessoas aboletadas no principal quarto do estabelecimento, o de número 81.

Antes de qualquer conclusão precipitada vale esclarecer que a suíte serviu de cenário para um evento corporativo que ocorreu na terça-feira 29. Numa atitude inédita, a sisuda Bayer, com seus 140 anos de rígida formação alemã, rompeu tabus e chamou a imprensa nacional para o motel. Queria apresentar sua nova pílula contra a disfunção erétil, o Levitra, no local onde provavelmente ela será usada em larga escala. A Bayer tinha que inovar, fazer barulho para conquistar um mercado que movimenta R$ 245 milhões no Brasil (US$ 1,7 bilhão no mundo) , dominado pela rival Pfizer, produtora do Viagra. A empresa alemã investiu US$ 1 bilhão no medicamento. ?Não admitiremos outra posição que não a liderança?, disse Sérgio Oliveira, presidente da Divisão Health Care da Byer, no Le Moulin. Um dos convidados, atento às palavras do executivo, olhando as dimensões da suíte e toda a produção do evento, não se conteve: ?A julgar pelas preliminares, o Levitra terá mesmo uma grande penetração no mercado?. Piadas de gosto duvidoso, aliás, foram o prato do dia na suíte 81.

Ousadia e cuidados. A recepção foi caprichada. Pequenos canhões de luz refletiam nas paredes um tom avermelhado. Vermelho também era o tapete que conduzia os convidados ao interior da suíte. Suíte é modo de dizer. Era um apartamento, e dos grandes. Dois andares, sete ambientes, piscina com cascata, banheira de hidromassagem, pista de dança, duas salas de estar e, claro, o quarto. Os executivos da Bayer tiveram a precaução de mandar retirar a cama ? talvez por receio, ou por vergonha, sabe-se lá. A decoração era discreta: móveis em madeira escura, poltronas de junco, cores sóbrias. Oliveira pediu também que removessem alguns quadros eróticos do quarto. ?Ousadia sim, mas com cuidado?, justificou o executivo. O único problema era o ar-condicionado. Parecia não funcionar direito, até que veio a explicação de uma executiva da Bayer: ?É que foi regulado para duas pessoas, não quarenta!?.

Chegada de helicóptero. Oliveira teve de pedir permissão a Armin Burmeister, presidente da Bayer S/A e porta-voz da empresa para a América Latina, para fazer o evento. ?A idéia que nosso departamento de comunicação apresentou era sedutora, mas ao mesmo tempo preocupante. A Bayer nunca havia feito nada parecido?. Com o sinal de verde de Burmeister, Oliveira autorizou a ousadia. A empresa só não revela o montante gasto na apresentação (o preço normal para duas pessoas, por um período de quatro horas na suíte 81, é de R$ 380). ?O que importa é que o trabalho foi muito bem feito por nossa equipe e o Levitra será um grande sucesso de mercado?, conta Pierre De Tours, diretor da área de saúde humana da Bayer. A equipe da Bayer não poupou esforços para reforçar o marketing da pílula laranja da felicidade. Os convidados foram levados de helicóptero a um ponto próximo ao motel e de lá seguiram nas vans para o Le Moulin. Um dos comandantes do helicóptero, pouco antes da decolagem, saiu-se com esta: ?Atenção passageiros, prontos para levitar? Então, vamos subir?. Até ele entrou no clima.

Na suíte, dois telões ? um colocado na pista de dança e outro ao redor da piscina ? exibiam, na entrada, um show dos Rolling Stones, com o sessentão Mick Jagger cantando ?…I can?t get no satisfaction?. Ao final do evento, Mick Jagger saiu de cena e deu lugar ao setentão James Brown, que se esgüelava em ?…I feel good?. É exatamente esta transformação no ?estado de espírito? dos homens que a Bayer pretende fazer com o Levitra.