Se comparado ao das grandes montadoras que possuem fábricas no Brasil, o número de carros vendidos pela Volvo no mercado nacional em 2018 pode parecer pequeno. Foram 6.836 unidades. Para se ter uma ideia, apenas o Jeep Compass, sozinho, vendeu 60.284, quase nove vezes mais. Ainda assim, o ano passado foi o melhor da marca sueca por aqui, que quase sobrou as vendas em relação a 2017. Na ponta do lápis, a Volvo cresceu 96% no Brasil em apenas um ano. O número é ainda mais significativo em um período marcado pela greve dos caminhoneiros, pela Copa do Mundo e pelas eleições – fatores que, somados, limitaram o crescimento do PIB. Dadas as circunstâncias, o mercado de carros zero quilômetro foi muito bem, com alta de 14,6%. A performance extraordinária da marca que hoje pertence ao grupo chinês Gelly elevou sua participação de mercado para 13,9%, o que permitiu roubar da rival Land Rover a quarta posição no mercado nacional de carros de premium, atrás apenas das alemãs Mercedes-Benz, Audi e BMW.

O sucesso no Brasil supera em muito a evolução das vendas da Volvo no mercado global. Em 2018, a marca entregou 642.253 carros em todo o mundo. “Foi o quarto ano seguido em que batemos recorde de vendas”, afirmou à DINHEIRO o sueco Anders Gustafsson, CEO da Volvo Car USA e vice-presidente sênior da região Américas. Desde que a empresa foi fundada, em 1927, as vendas mundiais jamais haviam chegado a 600 mil unidades. A ascensão em todos os mercados nos quais atua foi de 12,4%. em 2018. Nos EUA, 20%. Nas Américas, 24%. Números ótimos, mas bem abaixo do registrado no Brasil. “Foi um resultado imenso para a operação brasileira. Nenhum outro mercado pode exibir uma cifra dessa ordem de crescimento”, diz Gustafsson, destacando o forte empenho da equipe de revendedores no Brasil.

Desejado: a versão híbrida do ícone XC60, o SUV de maior sucesso da marca no Brasil: modelos elétricos tiveram salto de 134% nas vendas

Segundo ele, os dealers locais sabem valorizar os atributos da marca, o que cria não apenas fidelização como interesse crescente por parte de novos consumidores. Para o CEO da Volvo Car Brasil, Luis Rezende, o fortalecimento da rede de concessionárias (hoje são 35 em todo o País) também reforçou a percepção de qualidade dos serviços de pós-venda e ajudou a mudar a reputação dos usados Volvo. A fama de que os carros da marca desvalorizavam em excesso e que a manutenção era cara demais parece ter sido enterrada de vez. Hoje, modelos como o XC60 estão entre os seminovos menos depreciados do mercado. E o custo de manutenção já não é um fator de rejeição. “Oferecemos revisão com preço fixo até 150 mil km e a possibilidade de adquirir qualquer veículo com até quatro anos de garantia”, diz Rezende.

Soma-se a essas conquistas outras duas iniciativas importantes da marca. Uma é renovação completa da linha de SUVs, incluindo a chegada no Brasil do XC40, modelo de entrada da gama, com preço partindo de R$ 170 mil. Eleito pela revista Motor Show o melhor de sua categoria, o modelo respondeu por 2.396 emplacamentos em 2018. Outro fator é a aposta da Volvo em veículos híbridos do tipo “plug-in”, que podem ser recarregados na tomada de casa. Nesse segmento, o salto de vendas da marca no Brasil foi de 134% em relação a 2017. Com tanta procura, quem quiser adquirir a versão híbrida do XC60, hoje na faixa de R$ 300 mil, precisará ter paciência. A fila de espera para receber o modelo vai até maio.

Luis Rezende, CEO Volvo Car Brasil: “Uma das razões para liderarmos a venda de SUVs premium no Brasil é a confiança do consumidor e a transparência dos serviços de pós-venda”

RUMO AOS ELÉTRICOS Se, no passado, a imagem de confiabilidade da Volvo foi construída sobre o pilar da segurança, agora soma-se a ele o compromisso com a sustentabilidade. Segundo a fabricante, já a partir de 2019, todo modelo terá uma opção elétrica. “Nós trabalhamos em uma indústria que é não é boa para o meio ambiente”, diz Gustaffson. “Para mudar esse quadro, nossa estratégia é entregar, até 2025, 50% dos carros com propulsão elétrica”. A promessa se deve tanto à preocupação ambiental (a Suécia é um dos países que lidera os esforços globais para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa) quanto à busca de maior eficiência energética. Isso se traduz em carros mais econômicos mesmo quando o apelo está na esportividade, o que atende proprietários que não abrem mão da performance ao dirigir mas nem por isso estão satisfeitos com o alto nível de consumo de combustível de um possante SUV.

No caso do híbrido XC60 T8, a combinação do motor a combustão com o propulsor elétrico entrega 412 cavalos. Mais que uma velocidade final exorbitante, a alta potência do conjunto garante que o motorista tenha total confiança nas respostas do acelerador, o que é especialmente útil em situações como ultrapassagens em estradas de pista dupla. Como afirma o CEO da Volvo Cars, Håkan Samuelsson: “As pessoas exigem cada vez mais carros eletrificados e queremos responder às necessidades atuais e futuras dos nossos consumidores”. Até 2021, serão lançados cinco carros totalmente elétricos, sendo três modelos Volvo e dois veículos de alta performance da Polestar, a nova divisão da montadora voltada para o alto desempenho.

Ainda que a estratégia de eletrificação possa atrair novos clientes para a marca, a Volvo sabe que há uma tendência mundial, especialmente entre os jovens, de abrir mão da posse do carro. Diante desse cenário, parece impossível continuar crescendo dois dígitos ao ano. “Nós sabemos que a maiorida dos carros não é usada da melhor forma possível. Eles permanecem estacionados entre 80% e 90% do tempo e talvez compartilhá-los fosse mais proveitoso para todos. Por outro lado, o carro tem um aspecto emocional inquestionável. As pessoas amam seus carros, especialmente quando eles agregam valores relativos a status”, afirma Gustafsson. “Na Volvo nós temos uma história para contar. E nossa história é resumida na frase ‘feedom to move’ (liberdade para se mover). Por isso nossos esforços são sempre no sentido de fornecer a melhor experiência ao usuário, esteja ele disposto a comprar um carro ou chamar um Uber”.


“Os brasileiros amam tecnologia e estão realmente interessados em carros plug in”

Entrevista com Anders Gustafsson, CEO Volvo Car USA e vice-presidente da região Américas

Carros elétricos vão substituir toda a frota atual?
Até 2025, 50% das nossas vendas serão de carros elétricos. Estou certo de que os governos vão apoiar essa transformação, oferecendo maior infraestrutura para carregamento nas grandes cidades e nas estradas. Isso está mudando muito rápido. pois os consumidores demonstram haver demanda. Para a Volvo, esse é o futuro.

E qual o futuro dos carros?
Eles serão mais inteligentes e seguros. Nosso compromisso é que, na Suécia, ninguém deverá morrer ou ficar seriamente ferido em acidentes de carro já a partir de 2020. Nossas áreas a de pesquisa e desenvolvimento estão orientadas para isso. Criamos sensores, câmeras e sistemas de direção assistida para ajudar o motorista a evitar colisões. Nós educamos os consumidores com as novidades que introduzimos. Isso vem gradualmente, conforme as tecnologias avançam e a indústria pode oferecê-las a um custo viável.

Os consumidores mais jovens estão desistindo de comprar carros?
Eu não diria isso. Eles estão abertos a trabalhar com diferentes estruturas de propriedade, mas a maior parte dos nossos clientes, claro, ama comprar carros. O que vemos, em vários países da Europa, Estados Unidos e Canadá, é uma cultura crescente de pagamento pelo uso. Você pode “subscrever” um carro e mudar de modelo depois de 12 meses sem maiores obrigações. Essa tendência está ligada à nossa mensagem: “liberdade para se mover”.

A volvo trabalha com a Uber para desenvolver novos veículos. Quais os resultados?
Temos duas parcerias: uma com a Uber e outra com a Baidu, para o mercado chinês. Nossa estratégia é ser um bom fornecedor para as companhias que estão nessa indústria, na qual não atuamos. Nossa estratégia é ser uma solução “plug and play”: fornecer os carros que essas companhias desejam comprar hoje e no futuro, incluindo veículos autônomos.

Por que a Volvo decidiu não participar de eventos como o salão de genebra?
Nós temos nossa marca e nossos valores. Conversamos com os consumidores que temos hoje e também com aqueles que ainda não atraímos. E, para encontrar novos consumidores, precisamos adotar uma abordagem mais direta, por meio da qual a experiência da marca se dê não só em termos de design e acabamento como da emoção que nossos modelos devem causar. O XC40, por exemplo, foi revelado na Semana de Moda de Milão de 2017. A station wagon V60, em uma garagem residencial em Estocolmo.